“Creio que a grande mensagem da Convenção Secovi deste ano para o Interior é fomentar as discussões urbanísticas e de sustentabilidade nos condomínios entre os setores produtivos das novas metrópoles paulistas”. Com essa reflexão, o vice-presidente do Interior do Secovi-SP e diretor geral do Sindicato em Sorocaba, Flavio Amary, abriu os trabalhos do painel O Mercado Imobiliário do Interior, na manhã de quarta-feira, 21/9, durante as atividades da Convenção Secovi 2011.
Tradicionalmente, é nessa ocasião que cada diretor geral das oito regionais do Sindicato espalhadas pelo Estado traça um verdadeiro “raio X” , que revela as perspectivas e oportunidades do mercado imobiliário em suas áreas de atuação. “Antes, a população da Capital representava um terço da população do Estado. Hoje, caiu para um quarto. Isso não significa um declínio da capital, mas sim um crescimento considerável dessa região”, adicionou Amary.
ABC sempre promissor – “É bom falar do Interior”, observou Milton Bigucci, presidente da Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC), entidade que representa o Sindicato localmente. Bigucci foi veemente ao defender a importância do diálogo aberto e permanente com o poder público, entidades de classe e setores produtivos. “Essa prática é fundamental para as nossas entidades e regionais do Interior, e a Acigabc prima por convidar figuras ilustres, que adicionam informações ao mercado imobiliário local”, considerou.
Ainda de acordo com o dirigente, hoje o Grande ABC vive problemas sérios no que se refere às diretrizes dos Planos Diretores de suas cidades. “Com muito custo, conseguimos melhorar o índice construtivo de São Bernardo, que seria reduzido com o novo projeto”, disse. De janeiro a julho deste ano, a região produziu 4.191 unidades habitacionais, o que representa algo em torno de R$ 1,4 bilhão. “São Bernardo abocanhou quase a metade do total de lançamentos”, revelou.
Pesquisas recentes da Acigabc apontam a existência de um volume imenso de imóveis de luxo à venda na região, algo próximo a mil unidades disponíveis com preço abaixo da média. “Fiz esse alerta na Convenção passada. Esse quadro resulta de uma euforia do mercado, provocada por falta de solidez de algumas grandes construtoras que aportaram por aqui”, justificou.
No total, a região tem hoje cerca de cinco mil unidades em estoque, e os valores médios do metro quadrado não ultrapassam a casa dos R$ 5 mil.
Bauru, “sem limites” – representando o diretor geral do Sindicato em Bauru, o secretário Municipal de Planejamento, Rodrigo Said, fez considerações sobre a forte atuação do programa Minha Casa, Minha Vida na cidade, o que atrai uma faixa etária de consumidores jovens, motivada pelos preços ainda atrativos da região. “A população estudantil também é grande consumidora do mercado, principalmente no setor de locação”, revelou. Para Said, o crescimento ordenado local também deu suporte à expansão dos loteamentos na região.
Ainda de acordo com o secretário, Bauru, que hoje enfrenta um déficit de 30 mil unidades, assiste a uma valorização dos imóveis que chega a 35% nos últimos três anos, e as perspectivas são positivas. “Uma grande obra viária próxima à entrada de Bauru/Marília certamente incentivará a chegada de novos empreendimentos”, observou.
Outros fatores que podem favorecer o mercado são: a economia fortalecida com um aumento de 11,5 no potencial de consumo nos últimos 12 meses, a chegada de comércio de grande porte (os chamados “atacarejos”) no município, um novo shopping em construção, o anúncio de uma nova universidade federal, a criação de novas avenidas e a duplicação de outras existentes.
Para finalizar, Said reforçou o quanto o ano de 2010 foi significativo para Bauru em termos de aprovação de projetos. “Foram quase 2 mil aprovações no primeiro semestre, o dobro do período anterior”.
Campinas fortalecida – Detentora de vários “recordes”, inclusive mundiais, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) representa 3,64% do PIB nacional. “Só Campinas é responsável por 2% desse total”, acrescentou Kelma Camargo, diretora geral do Sindicato na cidade, ao iniciar sua exposição na Convenção Secovi.
Sobre a recente crise política que afetou diretamente a fluência do mercado imobiliário local, Kelma foi enfática ao afirmar que o Secovi-SP e sua unidade regional estão fortalecidos, acordados, atentos e atuantes na busca por soluções rápidas que revertam tal situação.
Replicando as palavras do presidente do Secovi-SP, João Crestana, a diretora do Sindicato lembrou da urgência quanto ao estabelecimento de regras claras e transparentes que propiciem segurança jurídica e proteja, antes de tudo, o consumidor final. “Participamos ativamente das diretrizes do governo e da sociedade civil. Nosso árduo trabalho colocará tudo nos trilhos em pouco tempo. Então, venham para Campinas sem medo, aqui a palavra de ordem é desenvolvimento,”, declarou.
Jundiaí quer mobilidade e fim das favelas –Antonio Frochoni Neto, vice-presidente da Proempi (Associação das Empresas de Profissionais do Setor Imobiliário de Jundiaí e Região), entidade parceira do Sindicato na cidade, evidenciou os intentos do município, principalmente no que tange à recuperação de áreas verdes, garantia de fornecimento de água e esgoto e, um dos itens mais importantes, o empenho na erradicação de favelas. “Somos um dos maiores polos logísticos do País, e uma das melhores cidades no mundo para se investir. Hoje, trabalhamos para a mobilidade urbana e para o estabelecimento de um forte processo de urbanização de favelas”, ressaltou.
Hoje, cerca de 60% da comercialização de imóveis em Jundiaí são voltados aos imóveis de dois dormitórios, muito dessa fatia absorvida pelo Minha Casa, Minha Vida. “Os imóveis voltados para a classe média contam com valor de metro quadrado em torno de R$ 3,2 mil a R$ 3,9 mil. Além disso, devemos chegar a 100 empreendimentos registrados até o final do ano, um bom crescimento em relação ao ano passado”, analisou.
Rio Preto: tudo que é lançado vende – Com seus quase 420 mil habitantes, a “calorosa” cidade de são José do Rio Preto já é referência em termos de dados de grandeza na região. “As cidades lindeiras ajudam substancialmente no crescimento do município, pois tudo o que é lançado por aqui escoa muito depressa, ainda mais quando falamos de loteamentos”, afirmou o diretor geral do Sindicato na cidade, Joaquim Ribeiro.
Segundo ele, Rio Preto se destaca pela população consumidora jovem ávida por unidades de dois dormitórios, segmento que concentra a maior demanda do município. Diferente de outras regiões do Estado, as perspectivas do diretor é que o mercado atinja, este ano, o mesmo patamar de 2010 em relação ao número de lançamentos.
Sorocaba das indústrias e da tecnologia – Crescendo rapidamente até a fronteira de cidades vizinhas, como Votorantim, Iperó, Araçoiaba da Serra e Porto Feliz, dentre outras, Sorocaba aponta a instalação de indústrias automobilísticas e de seu parque tecnológico como fator importante no desenvolvimento do setor imobiliário da região. “Sem falar nas malhas de transporte e na forte demanda gerada pela população estudantil”, revelou Flavio Amary, dirigente da unidade Regional do Sindicato.
Mas, como tantos outros municípios paulistas, Sorocaba também enfrenta problemas com seu Plano Diretor. “Estamos com dificuldade para atender a produção de infraestrutura para os empreendimentos, sem falar da problemática de restrições de uso do solo no entorno do rio Sorocaba”, adiantou.
Em termos mercadológicos, o volume de vendas local registrou queda nos últimos quatro meses. “Estávamos mal acostumados com o ‘boom’. Então, qualquer oscilação fica muito destacada”, explicou. Ainda segundo Amary, unidades com valores entre R$ 100 mil e R$ 150 mil, de dois dormitórios, são as mais procuradas na região.
Um Vale para todos – Com seus 39 municípios, muitos deles de vocação turística, o Vale do Paraíba está ambientado com grandes números. Detém um PIB de R$ 51 bilhões, 2,2 bilhões de habitantes e perspectiva positiva em ser um dos destinos do Trem de Alta Velocidade (TAV), investimento que supera a casa dos R$ 33 bilhões, com a perspectiva de, até 2024, transportar cerca de 46 milhões de pessoas.
“Isso tudo sem falar na criação de novas rodovias para o litoral Norte e da decisão do governo do Estado de criar a Região Metropolitana do Vale”, adicionou Frederico Marcondes Cesar, empresário que dirige a unidade regional do Sindicato, instalada em São José dos Campos.
Dados recentes de pesquisas realizadas pela Asseivap e Aconvap, parceiras do Sindicato na região, mostram que o mercado local teve um incremento de 30% a 40% de valorização nos imóveis em praticamente todas as localidades de São José dos Campos. “A cidade registra 14 mil unidades em construção, isso representa um número próximo a 134 empreendimentos, abarcados com um VGV (Índice de Velocidade de Vendas) de R$ 5 bilhões, embora nos últimos quatro meses esse mesmo índice tenha caído pela metade”, observou o diretor.
Qual a vocação das novas cidades?
“Existem novos horizontes para o mercado e para cada um dos senhores aqui presentes, verdadeiros promotores do desenvolvimento nacional”. Com essa frase, João Carlos de Souza Meirelles, atual presidente da Fronteira Norte Engenharia e Desenvolvimento e ex-secretário de Estado de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo, deu início a segunda e última parte do painel que tratou do mercado imobiliário do Interior, durante a Convenção Secovi 2011.
Traçando uma visão macro do papel do Estado e da indústria imobiliária no processo desenvolvimentista de São Paulo, Meirelles trouxe à tona uma quantidade e qualidade de informações tal que, instantaneamente, ficou evidente sua proposta de desafio à plateia: Qual a verdadeira vocação das novas metrópoles que surgem no interior do Estado? “Com certeza essa mesma vocação considera os novos eixos de desenvolvimento, ou seja, as rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, enfim, todo o empreendimento que revela uma seara infindável de oportunidades”, destacou.