O arquiteto e doutor em Arquitetura Maurício Roriz, professor de Pós-Graduação na Universidade Federal de São Carlos e da Unicamp, foi um dos especialistas presentes ao seminário “Desempenho térmico e eficiência energética de edifícios: um caminho sem volta na busca da sustentabilidade, realizado na segunda-feira, 28/11, na sede do Secovi-SP.

“Sou apaixonado pelo assunto, que representa os dois lados de uma mesma moeda”, declarou, ao iniciar a apresentação sobre “A NBR 15575 e o desempenho térmico de empreendimentos do segmento econômico”, que integrou a primeira parte do evento.

Roriz falou sobre o conceito de arquitetura bioclimática, relacionada ao aproveitamento racional de recursos naturais e qualidade ambiental. É uma postura diante de um desafio. O edifício tem a função de estabelecer um ambiente harmônico entre o lado externo e o usuário. “Ela se inspira na engenharia e na arquitetura vernacular, nas experiências praticadas pelos povos primitivos.”

Por exemplo, o iglu é solução perfeita para o ambiente em que está instalado. Foram sucessivas gerações praticando tentativa e erro. Nem os melhores especialistas conseguem mudar o projeto bem-sucedido do iglu. Há um filtro: o que é bom fica e descarta-se o que não é bom.

Arquitetura bioclimática observa, aprende o ambiente, suas qualidades e como utilizá-las de forma harmônica. “Existe um clima, um ecossistema e as pessoas que vão viver ali.”

Roriz citou também exemplos de tecnologias divorciadas da natureza, citando como exemplos: o aeroporto de Cumbica, construído em um lugar sujeito a condição de neblina permanente; e as usinas nucleares brasileiras, na enseada de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ), onde estudos posteriores revelaram instabilidade no local. “A natureza tem de ser considerada. A harmonia dos índios com a natureza, por exemplo, permite que eles denominem a região de acordo com as suas características. No dicionário Tupi, Cumbica significa ‘nuvem baixa’ e Itaorna é ‘pedra podre’”, afirmou.

O especialista reforça a necessidade de as pessoas serem modestas e usar a tecnologia de maneira harmônica com a natureza, a fim de que se possa beneficiar as futuras gerações.

Histórico – Ao fazer uma retrospectiva das ações relacionadas ao tema, disse que, há 20 anos (1991), promoveu o primeiro encontro sobre normalização em uso racional de energia e conforto ambiental em edificações. Seguiram-se, a partir de então, discussões sobre a primeira norma, a NBR 15.220 – Desempenho Térmico de Edificações (5 partes), publicada em 2005. Até 2008, o engenheiro Carlos Borges conduziu os debates sobre a segunda norma a 15.575, com a manutenção de alguns requisitos da anterior.

O texto da norma previa prazo de 2 anos para adaptação do mercado, que não a aprovou. Porém, segundo Roriz, desde a publicação, a Caixa Econômica Federal adotou a norma internamente e, quem pretende obter financiamento, deve cumpri-la. A Caixa aceita avaliações por simulação e por monitoramento.

Propriedades – O isolamento térmico pode ser prejudicial ou benéfico, dependendo de algumas variáveis. Há 3 propriedades fundamentais que caracterizam o material: densidade (peso por metro cúbico); condutividade térmica; calor específico (quanto de calor é necessário ceder para elevar a temperatura de determinado material).

As três geram a propriedade do corpo (parede, sistema de cobertura, etc), que é pouco mencionada nos meios técnicos e tem a ver com condutividade e calor específico. Parede, por exemplo, é um acumulador de calor: ganha, armazena e atrasa a onda. A inércia provoca o atraso do calor e estabiliza o clima no interior do ambiente. O concreto possui bastante inércia e, no campo da habitação popular, tem sido bastante utilizado. “Simulações demonstram que pode ser uma solução de qualidade.”

Já as relações entre condutividade e densidade nem sempre são regulares. Para atender às exigências do modelo simplificado, é preciso reduzir uma ou outra. A incorporação de ar no concreto muda o comportamento, baixando as duas. Duas outras propriedades que constituem o forro: absortância da superfície (quanto absorve e quanto reflete o calor).

“É a primeira vez que há uma norma no País que trata de desempenho térmico. Acho que faltam ferramentas para os projetistas saberem quais são os passos iniciais. Os primeiros traços já vão resultar em desempenho, sejam quais forem”, encerrou.