São inúmeras as questões sobre o coronavírus. Dentre elas, qual o impacto da pandemia no setor imobiliário.
É esperado um descompasso entre as atuais relações negociais. Todavia, é importante observar que os imóveis sempre foram a principal reserva de valor em tempos de crise, sejam elas de cunho político, econômico ou saúde. E isso se pode comprovar olhando a história do último milênio. E agora não será diferente.
A provável diminuição da Selic, tornando os juros dos fi nanciamentos imobiliários ainda menores, pode representar um incentivo para os adquirentes de imóveis que, porventura, possam temer uma recessão global.
Um aspecto importante a ser levado em conta é a possibilidade de atritos entre clientes e fornecedores em virtude de eventual falta de insumos ou desrespeito aos prazos de entrega, uma vez que existirá um problema de oferta, não de demanda.
Embora preocupantes, essas questões setoriais se mostram pequenas diante do que deverá acontecer em âmbito global. Vivemos uma nova realidade, uma nova experiência. Em tempos de redes sociais e conectividade geral, a pandemia adquiriu proporções incalculáveis. E as relações comerciais e de valor já estão mudando.
A história humana registra diversas pandemias. A mais devastadora delas foi a Peste Negra, cujo auge se deu entre 1346 e 1353. Estima-se que somente no continente europeu a doença dizimou um terço da população.
Esta pandemia, assim como a Gripe Espanhola, a Gripe Aviária, Gripe Suína e outras (todas elas devastadoras), determina novos padrões de comportamento, notadamente no campo da higiene e nos avanços da medicina. Sistemas políticos e econômicos evoluíram.
Alguns, porém, não deram a devida atenção ao sanitarismo. Daí não ser uma coincidência serem eles focos constantes de contaminação. E mesmo em nosso País, tão carente de saneamento básico, temos campo fértil para o surgimento de epidemias.
O atraso no cronograma político e o adiamento de reformas imprescindíveis, que trariam recursos para o desenvolvimento nacional, vão retardar investimentos e criação de novos empregos.
No caso da atual pandemia, preocupa notar que os países não uniram esforços para coletivamente enfrentar a doença. Pelo contrário. As primeiras medidas adotadas foram cancelamento de voos e fechamento de fronteiras, como que decretando: “agora é cada um por si”. Com tantos recursos de comunicação remota, não houve diálogo sufi ciente entre as nações em busca de soluções conjuntas.
Isso significa um passo atrás na globalização, e as consequências geopolíticas serão imprevisíveis. De certo, apenas o acirramento de tensões, a volta da xenofobia e um mundo bem diferente daquele que conhecíamos até o início deste ano.
Esperemos que os governantes do planeta sejam capazes de conter a epidemia e impedir retrocessos nas relações intercontinentais, mantendo livre mercado e abertura comercial. Somente assim evitaremos que essa pandemia tenha como consequência uma crise social sem precedentes.
Basilio Jafet é presidente do Secovi-SP