Rodrigo Luna

“As cidades são a maior invenção da humanidade”, atesta o economista norte-americano Edward Glaeser. E o desafio de todos nós é que elas promovam uma vida em harmonia, com inclusão social, com oportunidades e prosperidade para todos. Que sejam sustentáveis e resilientes. Mas será que estamos conseguindo atingir esse ideal?

Na obra “Centros urbanos – A maior invenção da humanidade”, Glaeser define que as cidades representam a melhor forma de organização social, econômica e ambiental, proporcionando maiores possibilidades de ascensão socioeconômica – fator que torna a urbanização um fenômeno mundial, pois a interação e o fluxo de informações contribui para o processo de inovações naquelas áreas e também no campo da tecnologia, da cultura, etc.

Glaeser é defensor do adensamento urbano como medida sustentável para as cidades. Para ele, concentrar pessoas em áreas dotadas de infraestrutura gera menos impacto ambiental porque reduz a necessidade de deslocamentos e impulsiona o uso intensivo dos recursos disponíveis.

Já em seu livro “Metrópoles: A história da cidade, a maior criação da civilização”, o historiador britânico Ben Wilson destaca que, nos vários milênios da nossa existência, nada nos moldou mais profundamente do que as urbes. Há mais de 7.000 anos a história das cidades é a história da civilização. Pelo “calor que irradiam”, desencadearam a maioria das revoluções políticas, sociais, comerciais, científicas e artísticas da humanidade.

Carlos Leite Brandão, por sua vez, arquiteto, filósofo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aprofunda e corrobora essas análises na obra “Genealogia da cidade”.

De acordo com Brandão, a cidade não surgiu por escolha humana e sim por necessidade. Buscamos a cidade “porque somos diferentes, porque somos individualmente frágeis”. É a cidade que, por meio da cultura de civilização em que nos insere, “refina” o humano em nós.

Destacam-se ainda outros pensamentos desse autor:

  • Edificar não é construir. Edificamo-nos juntos com o edifício, o ornamento e a cidade dispostos à nossa volta para “habitar”;
  • Habitar também não seria simplesmente se alojar ou se abrigar. Implica tomar posse de si e dominar-se enquanto parte de uma comunidade. Habitar tanto o lar da casa quanto o lar da cidade nos distingue dos animais mais do que o pensar.

Se a cidade é nossa maior invenção, se qualquer invento exige manutenção, conserto, aprimoramento, e se o funcionamento desse invento se mostra insuficiente aos seus usuários, cabe reavaliar e implementar leis que viabilizem melhorias.

É isso que desejam os mais de 12 milhões de habitantes de São Paulo, maior megalópole do Hemisfério Sul e cuja população equivale à soma das cidades do Rio de Janeiro, Fortaleza e Distrito Federal juntas.

Precisamos pensar São Paulo como metrópole, onde a maioria deve ter o direito de usufruir da sua infraestrutura; de viver em áreas centrais. Precisamos pensar o município para daqui a 30 anos. E rápido. Não temos tempo a perder.

Talvez não tenhamos agido de maneira corajosa, adequada e inclusiva nas últimas três décadas e, assim, produzimos uma São Paulo dispersa e socialmente injusta. Entretanto, é possível corrigir isso por meio do alinhamento entre sociedade, academia, poder público e setor privado para os debates dos caminhos urbanísticos e definição de leis adequadas ao desenvolvimento urbano inteligente, que deixe de segregar.

É fundamental ter foco na direção do crescimento que almejamos. Obter consenso para implementar as mudanças necessárias. Não assumir esse compromisso é comprometer as gerações presente e futura.

Rodrigo Luna é presidente do Secovi-SP (A Casa do Mercado Imobiliário) e colaborador do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq. Futuro do Insper.

 

Fonte: Artigo publicado no portal Caos Planejado em 3/9/2024