Era janeiro de 2013, quando começamos a nos familiarizar com a expressão “novo normal”. Foi assim que Mohamed A. El-Erian, conselheiro econômico-chefe da seguradora Allianz (uma das vozes mais respeitadas do mercado financeiro global), diferenciou o ambiente econômico mundial antes e depois da crise de 2008/2009.
No “Old Normal” houve forte expansão do crédito, menor intervenção estatal na economia, altas taxas de retorno e o consumo como pilar do crescimento. Depois ocorreu o oposto, com maior presença do Estado na economia, crescimento baseado na produtividade e no investimento.
Nesse “novo normal”, o Brasil teria de expandir sua economia por meio de maior competitividade, menores gastos de custeio, mais foco em parcerias público-privadas, menos juros e melhores condições de financiamento.
E hoje, com a pandemia, o que será normal? Segundo El-Erian, o maior risco econômico atual não é a recessão que será causada pela covid-19, mas a repetição de antigos erros na organização de políticas globais após a crise de 2008. A batalha contra a depressão global foi vencida, mas não se garantiu um ritmo de crescimento rápido, sustentável e, principalmente, inclusivo.
Faltou (como continua faltando), uma resposta globalmente coordenada, o que aprofundou o sentimento antiglobalização, que já vinha aumentando nos últimos anos. Um antagonismo que também verificamos em âmbito nacional, com União e estados adotando posturas divergentes para conter a velocidade da contaminação. Isso está colocando o Brasil contra o mundo e deverá dificultar o investimento externo em parcerias, concessões, privatizações etc.
A análise dessa e demais circunstâncias nos leva a concluir que não teremos um ‘novo normal’, mas sim um novo anormal. A vida que conhecemos não voltará. As relações humanas se acomodarão ao maior distanciamento, mesmo superada a pandemia. A reativação da economia será gradual, com idas e vindas adiando a organização da cadeia produtiva. O desemprego aumentará sobremaneira, a mão de obra contratada será para um mundo muito mais digital e uma crise social vai mostrar suas garras.
Veremos o consumo diminuir, as empresas e os investimentos se retraírem, os serviços perderem vigor, o mercado financeiro sofrer oscilações perigosas e a carga de impostos (e de casuísmos) aumentar com intensidade cada vez maior.
Na indústria imobiliária, o segmento residencial deverá ser menos afetado, já que as pessoas valorizarão mais suas moradias. Já o segmento de imóveis corporativos e varejo terá o impacto do home office e das compras virtuais.
É nesse ambiente anormal que continuaremos lutando para manter nossas atividades em pleno funcionamento. O bom e velho preservar o caixa, agora à custa de mais sacrifícios, deve se aliar a inéditos modelos de empreendimento, venda e construção. E quem não se planejar para esta nova realidade não vai sobreviver. Simples assim.
Para que a economia volte a crescer, o governo está sendo obrigado a prestar socorro das mais diversas formas, aprofundando o endividamento. O precioso colchão de reservas em moeda forte do Brasil, que impediu uma crise cambial em 2014, será depauperado.
Evidencia-se que o governo só poderá cumprir suas obrigações se começar a fazer agora o que já deveria ter feito: uma reforma administrativa para reduzir o tamanho do Estado e poupar alguns dos muitos bilhões consumidos pela máquina pública.
Não há mais como adiar. É o futuro de nosso país e de nossas famílias que está em jogo. É a opção de uma economia mais liberal e menos estatal que está em jogo. É a preservação da democracia que está em jogo. E é o risco do retorno de um rosário de mazelas que não queremos voltar a rezar.
Como sempre, o resiliente setor produtivo nacional está determinado a administrar o novo anormal e apoiar a recuperação econômica pós-pandemia. Mas, sem a contrapartida da reforma administrativa, nenhum esforço será suficiente.
Basilio Jafet é presidente do Secovi-SP