ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO

 

Quinta-feira, 24 de abril de 2014. 

 

Professores, alunos, vice-reitor e especialista da Cetesb debateram o assunto

 

Da Redação: Keiko Bailone Fotos: Yara Lopes

 

Download  José Zico Prado, Elton Gloedem, Vahan Agopyan, Adriano Diogo, João Paulo Rillo, Carlos Neder, e Ciro Corea

 

Os problemas ambientais do local onde está instalada a USP Leste são dois: a presença de gás metano no solo, oferecendo risco de explosão e incêndio, e a contaminação do solo e da água subterrânea com poluentes que oferecem risco à saúde.

Estas foram as principais causas da interdição do campus, segundo a professora Adriana Tufaile, a primeira a se manifestar na reunião extraordinária promovida nesta quinta-feira, 24/4, pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais (CDH). Sob a presidência do deputado Adriano Diogo (PT), a audiência objetivou apurar como se encontra o processo de descontaminação do solo onde se encontra instalada a USP Leste.

 

Aulas no campus Butantã

Segundo Adriana, a interdição do campus provocou problemas ainda não resolvidos, como a realocação das aulas dos cursos noturnos para locais no extremo oposto da cidade, no campus Butantã (Cidade Universitária), a falta da biblioteca e das salas de computador. A partir dessa exposição, ela apresentou a reivindicação feita por alunos, docentes e funcionários da EACH-Escola de Artes, Ciências e Humanidades (USP Leste). Ou seja, que sejam feitas análises detalhadas da química do solo contaminado e da água subterrânea.

Adriana explicou que a contaminação do solo ocorreu ao longo do ano de 2011, por causa da drenagem de terreno do rio Tietê. Esse terreno continha substâncias tóxicas e cancerígenas como cianeto, arsênio e benzofluorentano e bifenilas policloradas.

 

Contaminação de terreno é mais grave

O vice-reitor Vahan Agopyan declarou que a maior interessada em garantir o retorno dos usuários da universidade é a própria USP. Referindo-se aos laudos apresentados pela Cetesb, informou: “risco de explosão não existe; a questão do gás metano nós já superamos”. Agopyan apontou os aterros contaminados como o aspecto mais complexo para a desinterdição do local. “Esse é um problema mais grave. Foram encontrados dois pontos com índices preocupantes. Se a contaminação for pontual, cercamos o local e tentamos remediar. Se for generalizada, não temos alternativa a não ser uma medida drástica”, declarou, referindo-se a uma possível remoção do campus da USP Leste.

 

Carta ao governador

Representando a comunidade, Anderson Migri da Cunha, do Movimento pela Educação ZL, leu carta endereçada ao governador contendo denúncias. “Em setembro de 2013, professores, funcionários e estudantes da EACH entraram em greve devido aos riscos ambientais, e o governo declarou à época que tais riscos não existiam. Mas a juíza Laís Amaral concedeu liminar determinando a suspensão das atividades desenvolvidas no local”.

A carta cita ainda caso de aterro ilegal ocorrido em área de proteção ambiental (APA) e sem as devidas autorizações da Cetesb. Na época, Valter dos Santos Rodrigues notificou o diretor da EACH, professor José Jorge Boueri Filho. “O diretor do parque, contudo, foi transferido e o aterro continuou; pedimos que a transferência do servidor e os responsáveis pelo aterro sejam investigados”, frisou Migri.

 

Transferência de informações

Continuando com as denúncias, Ciro Corrêa, presidente da Adusp-Associação dos Docentes da USP, disse que a USP tem feito tentativas para mostrar que os problemas de gás e solo contaminado haviam sido sanados. Informou que a USP, a Cetesb e o Ministério Público estariam acertando um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) para suspender a interdição. “Mas, não se deve desperdiçar a interdição, determinada pela juíza em nome da pressa. Melhor seria que o campus nunca tivesse sido interditado, mas já que foi, queremos trazer a público o que ocorre na EACH e isto não está posto até o momento”.

Corrêa destacou que é inquestionável a responsabilidade do governo e da USP em relação aos fatos. Criticou também comissão nomeada pelo reitor para acompanhar o monitoramento do gás metano e contaminação de 110 mil metros cúbicos de terra (aterro contaminado) pela exclusão do professor Carlos Mendonça, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas), que já defendeu tese sobre o assunto.

 

Níveis aceitáveis

Na contramão do discurso anterior, Elton Gloeden, do departamento de Áreas Contaminadas da Cetesb, afirmou que vistoria feita em 115 postos de monitoramento de gás metano resultou em “concentrações que não indicam risco iminente”. Da mesma forma, 200 amostras do aterro indicaram concentração reduzida de substâncias contaminantes.

Segundo Gloeden, a partir desses resultados, uma das propostas possíveis poderá ser a remoção de alguns focos e a cobertura do solo com uma manta para evitar poeira.

“Se as concentrações fossem elevadíssimas até se justificaria uma remoção total, mas, a remediação pode ser aplicada neste caso”, opinou.

Os deputados presentes à reunião, João Paulo Rillo, Carlos Neder e José Zico Prado, todos do PT, falaram ao final da reunião, após professores e alunos terem se manifestado. Para Neder, o quadro descrito é gravíssimo. “Há necessidade de resguardar a imagem da USP e apurar onde está José Jorge Bueiro Filho, que teria recebido propina para certificar a terra contaminada.” Rillo apelou por mais transparência nas informações referentes à EACH e que o reitor da USP fosse ouvido na Comissão de Educação, sob sua presidência. O deputado José Zico Prado lembrou a luta para a instalação de uma universidade na zona leste, que “agora se transformou em decepção”.

 

Fonte: Assembleia Legislativa de São Paulo

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