Caio Calfat

“Alternativas ao setor devem ser objeto de diálogo entre governo e entidades da área”

Virada a página de 2020, seguimos adiante em um cenário que ainda nos traz perguntas sobre o futuro e as respostas não são claras: todas pedem cautela.

Sem dúvida, tivemos uma curva de aprendizado muito grande no enfrentamento de um tipo de crise não vivida há décadas. De outro lado, janelas de oportunidades se abriram para que processos e escopos de trabalho fossem alterados ou totalmente descartados. Houve uma corrida pela eficiência e pela eliminação do supérfluo.

Em apenas um ano, tudo mudou: o mundo, as empresas, os clientes, os conceitos, os valores. Tudo o que era razoavelmente previsível, dentro de um ambiente com diversos senões, hoje é mistério, mesmo com simulações de vários cenários econômicos.

Entre março e agosto, o turismo no mundo foi impactado de imediato com a paralisação dos setores aéreo, hoteleiro, de eventos, de entretenimento, de compras, de alimentação e toda a cadeia de suporte ao fluxo turístico. Muitos negócios não sobreviveram a esse primeiro baque e, no Brasil, cerca de 50 mil empresas ligadas ao turismo fecharam suas portas.

Desde que houve a flexibilização da quarentena, os hotéis de lazer, como o imobiliário turístico (residências, apartamentos de férias, multipropriedades), surgiram como opção imediata para a necessidade de sair de casa, estar em espaços amplos e ter contato com a natureza, o que fez com que as ocupações subissem imediatamente. A partir de outubro, mesmo hotéis que dependem de fluxo de aeroportos obtiveram resultado positivo.

Os hotéis urbanos, por sua vez, foram muito impactados com a desaceleração da economia e da inatividade dos centros empresariais. A paralisação dos transportes aéreos também afetou as cidades que dependem de fluxo originário desse meio de transporte. E não houve o retorno do movimento dos segmentos de eventos, exposições e entretenimento, áreas que em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, podem representar pelo menos 20% da ocupação dos hotéis.

Contudo, desde agosto de 2020, o ritmo de ocupação dos hotéis urbanos aumentou, mas as perspectivas para esse setor dependem da normalização da atividade econômica, a qual derivará de um efetivo plano de imunização em massa da população. A vacinação está acontecendo, mas em velocidade ainda pequena.

Conforme exista a percepção de segurança para que as pessoas voltem a viajar, o que deverá ocorrer definitivamente até o início de 2023, a hotelaria urbana continuará com números crescentes, porém aquém dos resultados pré-pandemia.

Para este ano, os resorts nacionais devem manter o interesse dos brasileiros, principalmente aqueles próximos de grandes centros ou que necessitem de viagens aéreas mais curtas. Com o reequilíbrio da demanda (com a imunização), a força desse mercado deve se manter enquanto houver a taxa de câmbio desfavorável para o real.

Mesmo com notícias de lenta recuperação para ambos os modelos de hotéis, o futuro é incerto. Por longo tempo, haverá prejuízos e será necessário empenho para se atingir o ponto de equilíbrio na operação, ao qual serão somados todos os danos sofridos em 2020.

É preciso evitar que mais hotéis fechem as portas, agravando a taxa de desemprego. Alternativas ao setor devem ser objeto de diálogo entre governo e entidades da área, até porque sabemos que não há recursos orçamentários, principalmente quando a pauta do momento é como garantir o auxílio emergencial. Confiamos que haverá vontade política.

 

*Vice-presidente de Assuntos Turísticos Imobiliários do Secovi-SP

 

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