“As doações estão acontecendo em volume expressivo. Mas precisamos fazer mais”. Claudio Carvalho

Apandemia vai passar. Difícil prever quando, mas vai passar. Já a fome, não. E este é um problema que a covid-19 agravou substancialmente.

“A classe empresarial está engajada em ações de solidariedade. Existem várias ONGs sérias fazendo um competente trabalho no combate à fome. As doações estão acontecendo em volume expressivo. Mas precisamos fazer mais”, afirma o empresário do setor imobiliário e presidente do Lide Solidariedade, Claudio Carvalho.

Com atuação em conselhos de diversas instituições (como Gerando Falcões e Instituto Ayrton Senna), aliada à experiência como secretário das Prefeituras Regionais e de Investimento Social de São Paulo (2017- 2018), ele acompanha de perto a situação de quem vive em favelas e no sertão do País.

Para o empresário, conhecer de fato a pobreza muda percepções. “Na zona de pobreza estão mais de 50 milhões de cidadãos, número sucessivamente acrescido pelo decaimento da classe média. São brasileiros como nós que precisam de ajuda”, salienta.

Conforme recente pesquisa do Instituto Locomotiva, de 2010 para cá, a classe média passou de 54% para 47% da população. Já segundo dados do IBGE, divulgados em 2020, cerca de 13,5 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 145,00 por mês, o maior contingente da série histórica iniciada em 2012.

Na visão de Claudio Carvalho, uma forma de aumentar as doações para reduzir a fome seria a existência de lei de incentivo, a exemplo do que acontece para áreas da cultura (Lei Rouanet), cujos montantes podem ser abatidos do Imposto de Renda. “Seria uma medida importante para um país onde, nos sertões, famílias inteiras se alimentam de calangos. Daí termos iniciado tratativas para a elaboração de projeto de lei que torne a doação de alimentos dedutível do IR”, antecipa.

Para Leonardo Tavares, presidente do Ampliar (há 30 anos, programa de responsabilidade social do Secovi-SP), será preciso muito esforço para combater a maior causa da fome, que é a falta de renda, situação que já era crítica antes da pandemia.

“E isso não se resolverá apenas com a imunização da população. Por sobrevivência, muitas empresas aprenderam a fazer o mesmo com menos trabalhadores. Somente a recuperação da confiança no futuro da economia poderá estimulá-las a contratar mais gente. Até lá, é possível que o atual nível de desocupação se estenda por um bom tempo, razão pela qual temos de estar atentos às necessidades essenciais das pessoas”, diz.

Ainda que o foco principal do Ampliar seja oferecer cursos para capacitar jovens em situação de vulnerabilidade social para o mercado formal de trabalho e o empreendedorismo, desde o surgimento da pandemia, a distribuição de cestas básicas e produtos de higiene também passou a ser alvo de campanha da ONG.

“Consideramos que o binômio educaçãoemprego é a vacina mais eficaz contra a fome e outros males. Realizamos anualmente as campanhas do agasalho, do brinquedo (Natal) e sempre angariamos alimentos não perecíveis. Os donativos são encaminhados a entidades cadastradas. No momento, as cestas básicas são primordialmente direcionadas às centenas de famílias dos próprios jovens assistidos, em sua maioria moradores de favelas e cortiços. Mas enquanto essa grande vacina não vem, temos de nos unir e apoiar os mais necessitados de todas as formas possíveis”, conclui Tavares.

→ Ver coluna em PDF