O Secovi-SP sediou entre os dias 3 e 5 de setembro a XIII Conferência Internacional sobre Durabilidade de Materiais e Componentes (DBMC), do International Council for Research and Innovation in Building and Constrution (CIB). O evento, co-organizado pelo Sindicato e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), reuniu 220 pessoas e aconteceu paralelamente à 68ª Semana Anual do RILEM (sigla francesa que significa União Internacional de Laboratórios e Experts em Materiais de Construção, Sistemas e Estruturas).
Foi a primeira vez que os dois eventos aconteceram na América Latina, deixando um legado bastante positivo para a construção civil e o mercado imobiliário da região, sendo Carlos Borges, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Secovi-SP. “A realização de um evento que reúne os melhores especialistas no mundo em determinada área do conhecimento não é comum no setor de construção civil no Brasil. E o tema do evento realizado no Secovi – a durabilidade e vida útil das edificações – é estratégico para o País, pois representa grande impacto econômico, social e ambiental”, destacou Borges.
O evento trouxe modelos de simulação de vida útil, sistemas integrados entre mapeamento geofísico e de agentes de degradação, esclarecimentos sobre como usar as simulações de vida útil em diferentes condições de exposição e questionamentos sobre métodos existentes em dimensionamentos de vida útil a partir de modelagem matemática bastante instigantes para o projetista, especificador e construtoras.
Para Carlos Borges, apesar da complexidade do tema vida útil de edificações, o evento confirmou que já existe conhecimento suficiente desenvolvido no mundo para que os projetistas brasileiros comecem a aplicar imediatamente estes conceitos na concepção de produtos no Brasil. “Está clara a necessidade de não adiarmos mais a aplicação deste tema no Brasil, pois a sociedade como um todo perderá muito se não o fizermos.”
Segundo o vice-presidente, a boa gestão da grande quantidade de recursos públicos (80% dos financiamentos) que estão sendo aplicados na diminuição do déficit habitacional brasileiro exige uma visão de longo prazo que avalie não só a quantidade, mas a qualidade das construções que estão associadas a uma vida útil adequada. “A chamada do evento ilustra bem a importância do tema: as perdas estimadas por não atendimento da vida útil e durabilidade na construção civil levam a perdas financeiras tão astronomicamente altas que normalmente são encaradas com incredulidade.”
Vera Hachich, do comitê organizador do evento, concordou com Borges e adicionou que o conhecimento dos mecanismos de degradação dos componentes e sistemas e a utilização de uma metodologia para estimativa da vida útil dos empreendimentos, bastante explorados no evento, tornam-se imprescindíveis para a realidade brasileira.
Destaques do evento
Carlos Borges e Vanderley John destacaram a palestra de abertura, do professor Christer Sjöström, que apresentou um resumo da metodologia utilizada na ISO 15.686 – que em breve será traduzida –, que permite realizar estimativas de vida útil e demonstrou que sua aplicação não é tão difícil assim.
Hartwig Künzel mostrou como a umidade nas fachadas pode alterar as condições iniciais de conforto térmico e também a vida útil dos materiais utilizados para o fechamento das envoltórias da edificação. Já Karen Scrivener e Carmen Andrade apresentaram as soluções atuais para a área de cimento e concreto.
Já Ivan Cole, da Austrália, apresentou em sua palestra a modelagem de predição de vida útil a partir de dados locais (microclima, ventos, topografia, radiação solar) e degradação dos materiais para um empreendimento específico. “Particularmente interessante é como combinar as informações ao software para a tomada de decisões”, disse Vera Hachich.
John também destacou o alerta de um problema que virá no futuro: maior risco de condensação. “Ele vem com as janelas estanques especificadas pela Norma de Desempenho, sistemas de construção leve e ar-condicionado. A boa nova é que existem ferramentas de projeto que nós ignoramos”, disse.
As discussões nas salas paralelas, que aconteceram nos três dias no período da tarde, apresentaram trabalhos muito interessantes, segundo Vera, com casos práticos de avaliação da durabilidade, com medição de campo – em obras de edificações e infraestrutura, e laboratório, que mostraram como estão sendo investigadas e criadas soluções para prever a vida útil da edificação e de outras estruturas, no mundo todo. “Isso permite uma visualização de conhecimento ímpar e que auxilia a criarmos as ferramentas brasileiras e podermos avançar no assunto.”
Parceria de sucesso
Segundo o Borges, John e Hachich, do ponto de vista da organização, a parceria da Escola Politécnica e do Secovi-SP foi muito bem sucedida. “Essa união foi fundamental para viabilizar o evento e sensibilizar diferentes setores da cadeia produtiva. O Brasil teve a honra de ser o primeiro país da América Latina a receber esse evento internacional, pertencente às entidades mais respeitadas no tema: CIB, RILEM, NIST (National Institute of Standards and Technology) e ASTM International e Faculdade de Engenharia do Porto – FEUP”, disse Vera Hachich.
Segundo Vanderley John, o evento foi um marco no Brasil. “Poucas vezes uma organização do mercado se engajou na organização de um evento técnico internacional de alto nível. Isto reflete a avanço das demandas por conhecimento que experimentamos com a nova Norma de Desempenho (ABNT NBNR 15.575) e a discussão ambiental. Estão ficando mais internacionais. E isto e ótimo!”, comemorou o professor da Poli-USP.
O evento teve apoio e patrocínio das empresas Saint Gobain (Brasilit, Isover, Placo e Weber), Grace, Votorantim e Gerdau, além das fundações e órgãos de fomento CAPES, CNPq e FAPESP.
As apresentações autorizadas pelos palestrantes estão disponíveis no site.