Vamos encerrar este ano com crescimento econômico muito aquém do que precisaria um país com taxa de desemprego que atinge a mais de 11 milhões de pessoas. Só por milagre fecharemos esta década com um Produto Interno Bruto (PIB) próximo de 10%.
Diante de tal cenário, o Brasil somará duas décadas perdidas em termos econômicos e sociais; no campo das reformas estruturais, que poderiam ter avançado muito mais; na perda de espaço no comércio mundial, especialmente no que diz respeito à exportação de produtos com valor agregado. Isso sem falar dos investimentos não efetuados em saúde, educação e infraestrutura. A capacidade e a produtividade do parque industrial brasileiro seguiram na contramão do mundo. Idem no que se refere ao patrimônio intelectual (nossos talentos se foram e continuam buscando oportunidades em outras nações).
Assim, difícil contrariar prognóstico do banco Goldman Sachs, para quem desperdiçamos 20 anos em oportunidades de evolução, refletindo a sucessão de erros de políticas econômicas, excetuando-se, obviamente, o Plano Real e os excelentes princípios da agenda econômica do atual governo.
Quem viveu nos anos 80 enfrentou a hiperinflação, a crise da dívida dos países da América Latina, o estouro da bolha do mercado imobiliário no Japão. O mercado imobiliário nacional foi surpreendido com a extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH) e o desaparecimento do financiamento imobiliário. A criatividade dos empreendedores impediu a paralisação das atividades com a venda de imóveis a preço de custo e outras inovações que evitaram mais desemprego e recessão.
Em meados dos anos 90, a turbulência voltou aos mercados emergentes. Crise do México, dos países do Sudeste Asiático (1997), da Rússia. O fluxo de recursos internacionais se esvaiu. O Brasil desvalorizou o real em janeiro de 1999. Os anos 2000 indicavam melhorias. Então, em 2008, houve o estouro da bolha imobiliária norte-americana (subprime).
Mais que o relato histórico, importa saber que a maioria dos países, mesmo os emergentes, retomou algum ritmo de crescimento. Mas o Brasil não seguiu a tendência. Sua economia permanece oscilante.
Nem tudo, porém, foi ruim para a indústria imobiliária nacional. Em 1997, nasceu o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Em 2004 veio o marco regulatório do crédito imobiliário. Com maior segurança a compradores, financiadores e empreendedores, os bancos privados voltaram a financiar com prazos mais longos e juros menores.
Mas se houve algo que realmente não se perdeu nessas duas décadas perdidas foi o Minha Casa Minha Vida (MCMV), programa de Estado criado em 2009 que financiou cerca de 5,5 milhões de moradias, 4,1 milhão já entregues, e que corre sérios riscos de continuidade.
Além de recursos do FGTS serem desviados de suas finalidades precípuas, a União não tem verbas para garantir o programa. E note-se que, apesar do sucesso do MCMV, o déficit habitacional é estimado em 7,5 milhões de moradias.
A sustentação do MCMV, não importa o nome com que venha a ser rebatizado, é decisiva para a dinâmica econômica e, mais ainda, para ativar a economia doméstica, a qual, sabe-se lá por quanto tempo, responderá pela geração de empregos e impostos no Brasil.
*Diretor do Secovi-SP
25 de março de 2020