“Sustentabilidade, Desempenho e Qualidade: contratação e desenvolvimento de projetos” foi o tema do seminário que aconteceu na sede do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) na terça-feira, 10/4.
Realizado pela vice-presidência de Tecnologia e Qualidade do Sindicato, o evento celebrou os dez anos do trabalho de desenvolvimento dos Manuais de Escopo de Contratação de Projetos e Serviços para a Indústria Imobiliária, coordenado pela mesma área do Sindicato.
“Nunca o projeto de um empreendimento foi tão importante, ainda mais agora, quando conceitos de sustentabilidade e desempenho são cada vez mais atendidos. Não há empresa que, ao perceber o valor do projeto, deixe de investir mais nisto”, afirmou o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Secovi-SP, Carlos Borges.
Claudio Bernardes, presidente do Sindicato, concordou com Borges em seu discurso, proferido na abertura do evento. “A sustentabilidade não é opção, é insumo básico. E deve ser praticada integralmente, contemplando os vieses ambiental, econômico e social. Não há mais espaço para ações cosméticas, voltadas a um marketing de oportunidade. O mercado tem de conhecer, fazer e desenvolver”, disse o presidente, para quem o desempenho é igualmente fundamental. “Temos de pensar na edificação como um produto, que deve ter um desempenho global mínimo determinado.”
O presidente do Secovi-SP também destacou a importância para o mercado dos Manuais de Escopo, que reúnem informações fundamentais do projeto à operacionalização dos empreendimentos, permitindo implantar uma política de melhoria contínua da qualidade na cadeia produtiva, e de relações éticas entre os seus diversos agentes.
Maria Fernanda Silveira, presidente da AGESC (Associação Brasileira dos Gestores e Coordenadores de Projeto), falou sobre os Manuais de Escopo, seu uso e benefícios. “O objetivo desse trabalho é apresentar diretrizes para que as responsabilidades sejam bem definidas, procurando eliminar as chamadas ‘zonas cinzentas’ entre as partes – contratantes, projetistas, fornecedores e executores de obras –, oferecendo orientações precisas de como identificar os itens envolvidos e suas soluções, atendendo às expectativas dos empreendedores”, disse.
Apesar das dificuldades em trabalhar atentando para a definição de escopo, a normalização, os conceitos de sustentabilidade etc., Maria Fernanda está otimista com a evolução do mercado. “É preciso seguir firme para elevar a qualidade do mercado. É um começo difícil, mas há anos não tínhamos esse respaldo, apenas o manual do CREA”, lembra.
Pela primeira vez, o Guia da AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), sobre contratação de projetos sustentáveis de arquitetura, foi apresentado ao público. Milene Abla Scala, diretora de Sustentabilidade da AsBEA, explicou que o objetivo é esclarecer o que é um projeto sustentável, e a resposta passa por equalizar expectativas entre contratante e contratado, definir parâmetros de contratação e metas factíveis. “O Guia não é uma fórmula, mas oferece caminhos para encontrar uma solução adequada, de modo que a arquitetura propicie instalações bem integradas”, disse. “Sustentabilidade deve ser contemplada na fase inicial de concepção de projeto. A essência está na concepção, com multidisciplinaridade, porque depois dessa fase, não se volta atrás.”
Ao final de sua palestra, listou os principais desafios em relação aos projetos, como a necessidade de mudar o processo usual de trabalho, aprimorar a especificação de materiais, treinar os profissionais e desenvolver políticas públicas.
Erica Ferraz, coordenadora técnica do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), fez a apresentação do caderno de Condutas de Sustentabilidade no Setor Imobiliário Residencial, material desenvolvido pelo Secovi-SP e CBCS, com os objetivos de esclarecer e orientar o setor sobre como agregar sustentabilidade nos empreendimentos residenciais.
Ela listou e discorreu sobre as condutas relacionadas aos projetistas e consultores, público-alvo do evento. Esses profissionais são os responsáveis pela concepção e desenvolvimento dos projetos, e são eles que optam pelas tecnologias e materiais a serem usados, que podem inserir aspectos de sustentabilidade e têm capacidade de embasar tecnicamente e influenciar decisões. “As condutas de sustentabilidade servem como referência de escopo de projeto.”
Desempenho e durabilidade foram abordados pela engenheira Maria Angélica Covelo Silva, diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento. De acordo com a especialista, a prática de projeto no Brasil não é, em geral, baseada em desempenho de materiais, componentes e sistemas construtivos. “Essa cultura precisa mudar”, assinalou. “Reunimos várias condições em que a falta do conceito de desempenho causa problemas sérios de adequação ou riscos para o usuário, defeitos quando o edifício entra em uso ou até mesmo antes.”
Ela apontou que sustentabilidade e desempenho são indissociáveis. “Não é sustentável um empreendimento que não atente para o desempenho voltado ao conforto do usuário.” Um exemplo citado foi o piso inadequado da estação de metrô Vila Prudente. Depois de dez meses da inauguração, foi necessário substituir o piso de porcelanato das rampas e escadas, pois ficava escorregadio em dias de chuva, colocando em risco a segurança dos usuários. Embora o Metrô tenha justificado a escolha do material por ser sustentável em relação ao granito, o ideal – aliando desempenho e sustentabilidade – é outro tipo de porcelanato, de textura ranhurada e quadriculada, mais aderente.
Também foi apresentado o case de práticas de sustentabilidades aplicadas na construção do edifício-sede da Raízen (join-venture da Cosan e Shell), num canavial em Piracicaba, para obtenção do LEED, por Paulo Cesar Paris Bermejo, gerente geral da Omar Maksoud Engenharia.
O seminário foi patrocinado pela Weber Saint-Gobain.
Manuais de Escopo registram 236.477 downloads
O trabalho dos Manuais de Escopo de Contratação de Projetos e Serviços para a Indústria Imobiliária é feito pelas 11 principais associações ligadas ao segmento imobiliário e estimula o desenvolvimento de melhores projetos, de maior qualidade, alinhados às práticas do mercado e à atualização da normalização que rege o setor.
Os 14 manuais produzidos estão disponíveis gratuitamente para download (www.manuaisdeescopo.com.br). Os quase 23 mil usuários já fizeram 236.477 downloads dos Manuais e checklists, de acordo com o acompanhamento feito pelo Secovi-SP desde 2007.
Em 2011, o grupo revisou todos os manuais, atualizando-os também com conceitos de sustentabilidade, Norma Brasileira de Desempenho (ABNT NBR 15575) e tecnologia BIM (Building Information Modeling).