A maioria dos brasileiros está bastante esclarecida sobre os cuidados necessários para evitar a covid-19. Além da higiene pessoal, sabe, por exemplo, que é melhor pegar o elevador apenas com membros da família, pois, se alguém espirrar estará, digamos assim, ‘tudo em casa’.
Aliás, ainda bem que existem edifícios residenciais, o lar de milhões de famílias que, não fosse isso, não teriam como atender o comando ‘fique em casa’. Como toda situação crítica resulta em aprendizado, quem sabe as pessoas que foram doutrinadas a chamar de especulação toda edificação imobiliária comecem a pensar diferente.
Para proteger ao máximo os funcionáriosde condomínios – e, por consequência, seus moradores e usuários –, as administradoras têm sugerido aos síndicos adoção de várias medidas. Não existe uma receita geral. Cada prédio é um prédio. Há aqueles com 40 unidades e condomínios clube com cinco torres e maisde três mil moradores – uma verdadeira cidade. Portanto, a solução não pode ser a mesma.
Observa-se que as famílias ‘confinadas’ estão sabendo respeitar certos limites. Não se coloca música alta. As brigas domésticas – inevitáveis quando é preciso conciliar home office, filhos, cachorro etc. – não chegam a atravessar as paredes.
Sob o aspecto fraternal, os condomínios registram atitudes exemplares. Mas, sob o aspecto econômico, as preocupações com as receitas para assegurar o funcionamento das edificações são crescentes.
A covid-19 segurou as pessoas em suas casas e paralisou a maioria das atividades econômicas. Para completar, há uma confusãoc generalizada sobre quem está certo ou errado ao defender ou não o isolamento social.
Como prevenir continua sendo o melhor remédio, o que temos são ruas vazias, comércios fechados e raríssima geração e distribuição de riquezas.
Quando não há dinheiro, a tendência é pagar o que custa mais caro. Entre o cartão de crédito e o condomínio, cuja multa é tabelada em 2% ao mês, fácil deduzir qual conta será postergada.
Quem pensa ou age dessa forma deixa de considerar que taxa de condomínio em dia significa proteção à saúde de seus moradores e usuários. É ela que garante a água, a luz e o pagamento dos funcionários que higienizam elevadores, vidros e outras superfícies com produtos mais poderosos (e caros).
Somente esses argumentos seriam suficientes para sacrificar qualquer coisa, menos deixar de pagar o condomínio. Outras obrigações, como recolhimento de impostos, podem ser repactuadas. Mas a saúde dos condôminos não tem preço.
É por isso que temos orientado síndicos e administradores a negociarem à exaustão com condôminos inadimplentes. Conhecer a realidade de cada um; verificar o que pode ser feito para que aqueles que cumprem em dia suas obrigações não sejam injustamente penalizados; conversar com bancos em busca de linhas de crédito a juros equiparados à Selic.
A mesma mentalidade que inspira o auxílio a vizinhos necessitados deve valer para manter o condomínio operante. Sem esse compromisso efetivamente assumido, o risco de um empreendimento se tornar um polo de contágio não é simples e remota hipótese. Pode acontecer com qualquer um de nós.
*Vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios
13 de maio de 2020