Alan Cury destaca a necessidade de requalificação do centro, transporte público e participação popular para o futuro da metrópole
Campinas, uma metrópole em constante expansão, enfrenta desafios urbanísticos complexos que exigem soluções criativas e assertivas. Alan Cury, diretor de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente da Regional Secovi-SP Campinas, em sua participação no programa Estúdio Câmara, da TV Câmara – Campinas que foi exibido dia 17/7, abordou as principais questões que moldam o futuro da cidade, destacando a necessidade de requalificação do centro, a importância do transporte público e o papel do mercado imobiliário e da participação popular.
Cury enfatiza que a vida urbana está em constante mudança, impulsionada por tecnologias e inovações que alteram a forma de viver. “O centro, que antes era o ponto de encontro coletivo e o epicentro de todos os serviços, perdeu parte de seu potencial com o avanço da digitalização e a criação de novas centralidades nos bairros. Segundo ele, a palavra mais correta para o que o centro de Campinas precisa é “requalificação”, e não “revitalização”, pois vida ele já tem, mas não a vida que se gostaria de ver. O desafio é torná-lo atraente novamente, aproveitando sua infraestrutura existente e sua localização privilegiada”, destaca.
A Lei do Retrofit surge como um instrumento fundamental nesse processo. Cury explica que a lei traz benefícios para a requalificação de edificações existentes, o que é crucial para o tratamento da região central. Ele ressalta que o mercado imobiliário está assimilando a lei e estudando o centro como uma possibilidade de investimento, embora a habitação seja um setor mais lento e que demanda resultados mais aparentes para atrair as pessoas de volta ao centro. A volta do Palácio da Justiça ao centro é vista como um passo importante, mas ainda uma “gota no oceano”, necessitando de mais ações, como o retorno da Câmara Municipal, para gerar um impacto significativo.
Alan Cury aponta que a organização da sociedade nos anos 80, com a redemocratização, levou ao surgimento de novos formatos de desenvolvimento. “A construção de shoppings nas bordas da cidade, como o Iguatemi, que ofereciam conforto, segurança e um ambiente atraente, acabou esvaziando o centro de forma muito rápida. Esse movimento, aliado ao desenvolvimento do anel viário e a distribuição por rodovias, gerou um crescimento desordenado e congestionamentos nos horários de pico”. Ele reconhece que houve falhas no planejamento urbano desde os anos 80, mas acredita que hoje há expertise e dados para uma expansão mais qualificada, evitando os gargalos do passado.
Um dos grandes desafios de Campinas, segundo Cury, é a mobilidade. Ele defende que o deslocamento diário das pessoas não pode mais ser concebido apenas por veículos privados. É urgente melhorar o transporte público, investindo em veículos de qualidade, conforto e tempo de deslocamento reduzido. Ele cita o exemplo do metrô em São Paulo, que, apesar de não ser o mais confortável, é rápido e estimula o uso. Cury também menciona que o Brasil é um grande fabricante de ônibus de plataforma baixa para o mundo, mas que essa tecnologia não é amplamente utilizada no transporte público nacional, dificultando o acesso e tornando a experiência desconfortável para o cidadão. Ele sugere que é hora de olhar para o transporte sobre trilhos com mais carinho e cuidado, como um investimento necessário para superar as demandas criadas pelo crescimento da cidade.
Cury esclarece que as incorporadoras atendem às demandas da população e seguem a legislação municipal. “Elas identificam pontos potenciais para empreendimentos e estudam as leis para determinar o que é permitido, incluindo contrapartidas sociais e melhorias na micro-região do impacto do empreendimento”. Ele destaca que a legislação pós-2018 impulsionou um grande volume de obras, o que é positivo para a cidade, especialmente a atração de moradias coletivas (edificações verticais), que concentram pessoas em um único endereço. No entanto, ele alerta para o desafio das obras irregulares e expansões não planejadas, que geram impactos negativos.
Por fim, Alan Cury ressalta a importância da participação popular no planejamento da cidade. Ele enfatiza que a vida urbana não é simples e não depende apenas dos profissionais da área, mas de toda a sociedade. “A participação em conselhos e audiências públicas é fundamental para que os urbanistas possam colher informações e argumentos para um planejamento mais eficaz e consensual. Ele conclui que Campinas, com seu potencial e sua capacidade de atrair negócios e pessoas, precisa de diálogo e consenso para se tornar uma cidade ainda melhor para todos”, conclui.
Confira a íntegra do programa no Youtube da TV Câmara – Campinas