A saída é crescer para cima, diz Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP

Na brilhante série Concreto sem Fim, o jornal Folha de S.Paulo está publicando reportagens em que focaliza o crescimento da cidade de São Paulo. O ponto de partida é a expansão imobiliária.

A mesma Folha mostrou, em 21 de outubro de 2018, na reportagem “Como a cidade de São Paulo cresceu em seis décadas”, que, de 1950 a 2010, a população quintuplicou. A cidade se expandiu de forma desigual e para longe do centro. Bairros surgiram, caso do Campo Limpo, na zona sul, que ganhou quase 50 mil novos habitantes de 2010 para cá.

Impossível não perguntar: e se não tivéssemos crescido para o alto? Como seria São Paulo? E se não pudermos subir mais? O que será das pessoas que, em sobrados ou andares, têm igual direito à cidade?

Tudo o que diz respeito à nossa cidade é superlativo. E precisa ser para poder dar conta dos mais de 12 milhões de brasileiros que vivem aqui. E é por aí que começa nossa preocupação com os dados da série de reportagens. Afinal, crescer 60% em área construída, nos últimos 25 anos, indica que precisamos fazer mais e muito melhor do que fizemos até hoje.

Tanto no Brasil como no exterior, estudos acadêmicos demonstram que o espraiamento das cidades é a solução urbanística menos sustentável (e, portanto, menos inteligente) que se pode adotar. Ninguém que fica seis horas no deslocamento casa-trabalho-casa pode se sentir inserido. Impossível ter aquela noção de pertencimento que somente cidades inclusivas podem proporcionar.

A saída é crescer para cima, não para os lados. Para entender isso, cabe separar corretamente o conceito adensamento do conceito verticalização. São coisas tecnicamente distintas. Sapopemba (zona leste), por exemplo, está entre as regiões mais adensadas do município, e raros são os prédios na localidade.

Edifícios altos beneficiam as pessoas e o meio ambiente. Deixam áreas abertas ao nível do solo, permitindo ofertar praças e outros espaços para convivência. Possibilitam maior ventilação e insolação.

Sob o prisma econômico, oferecem moradias a preços muito mais acessíveis, tanto nos Eixos de Estruturação Urbana (transporte de massa) como também em miolos de bairro, que não podem se tornar oásis de famílias mais abastadas. Isso está longe do que entendemos por justiça social.

É possível citar diversos exemplos internacionais de cidades boas de se viver, e onde o coeficiente de ocupação chega a 30 ou mais vezes a área do terreno (por aqui, e pagando outorga onerosa, chegamos a 4). Ninguém acha ruim viver em Nova Iork, Paris ou Xangai.

Mas não precisamos ir longe. Basta uma visita ao número 200 da avenida Ipiranga. Inaugurado em 1966, o edifício Copan é uma unanimidade entre arquitetos, urbanistas, empreendedores e integrantes do poder público. São 115 metros de altura, 32 andares, 120 mil metros quadrados de área construída, fachada ativa, mais de 70 estabelecimentos comerciais, 1.160 apartamentos de variadas dimensões e cerca de 5.000 residentes de diferentes classes sociais.

Não tivesse o Copan um índice de aproveitamento de 16 vezes a área do terreno, quantos predinhos teriam de ser produzidos para abrigar seus ocupantes? Uns 40 e mais um shopping para acomodar suas atividades comerciais? E quantas seriam as residências unifamiliares a construir nas franjas da cidade?

Não seria mais lógico oferecer aos cidadãos vários Copans? Está aí uma pergunta que todos nós, poder público, iniciativa privada e sociedade, precisamos responder coletivamente. E logo.

Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP e reitor da UniSecovi

E se não tivéssemos ido ao alto? foi publicado na Folha OnLine, OPINIÃO, TENDÊNCIAS / DEBATES, do dia 19 de setembro de 2019