Com a pandemia e o avanço do home office, a expressão ‘lar doce lar’ (home sweet home, em inglês) ganhou nova dimensão. Os escritórios praticamente não funcionaram durante uma quarentena que persistiu por mais de 90 dias. O retorno às atividades reconhecidas como ‘normais’ está ocorrendo de forma gradual e com medidas sanitárias que dificultam esquecer que vivemos uma nova realidade, com novos parâmetros de convivência.
Desde março, o home office domina o debate sobre como trabalhar, o futuro dos escritórios e o das residências. Surgem análises sobre as vantagens e desvantagens do teletrabalho. E preocupações sobre como a legislação trabalhista irá regulamentá-lo e que tipo de pressão será exercida por sindicatos laborais, embora seja notório que muitos empregos foram e continuarão sendo salvos por esse modelo.
É possível ponderar, de forma reduzida, aspectos positivos e negativos do home office. Pontos positivos: na segurança de sua casa, o trabalhador pode render mais, uma vez que não consome tempo com deslocamentos nem se desgasta com o trânsito; reuniões por videoconferência são mais pontuais e objetivas, o que contribui para maior produtividade; as empresas podem gastar menos, ainda que forneçam auxílio com despesas de luz e internet, já que o custo operacional do escritório é abatido (uma questão de fazer as contas); e há flexibilidade de horário e escalas de trabalho, desde que observadas as premissas da CLT. Tudo isso pode favorecer as metas de produtividade e entrega das empresas.
Por outro lado: alguns colaboradores podem ter dificuldade em manter o foco no trabalho – nem todos conseguem mantê-lo com filho no colo e migalhas de bolacha no teclado -; o monitoramento das atividades enseja maior complexidade, assim como a qualidade corre perigo pelo simples fato de não haver interatividade com chefias e colegas; o risco de falhas na comunicação demanda atenção; as ações de treinamento, desenvolvimento e alinhamento também ficam comprometidas, assim como o espírito de equipe, que é a ‘alma’ das corporações. Ademais, eventos e reuniões presenciais são emocionalmente importantes. Sem eles, não há networking.
Existem fatores que devem ser ponderados por aqueles que se apressam em decretar o fim dos escritórios. Dentre eles, o perfil humano.
Recentemente, a revista The Economist publicou interessante matéria sobre aspectos de natureza comportamental. Alegria é um dos sentimentos de poder sair para trabalhar. Quando fazemos isso, assumimos uma nova identidade. Uma persona distante daquilo que somos no dia a dia doméstico, e da qual, não raro, nos cansamos um pouco. Vestir-se para trabalhar é um artifício que traz felicidade. Algo bem diferente de usar pantufas nas reuniões on-line. O outro não vê, mas você sabe.
Conforme a reportagem, “os seres humanos precisam de escritórios. Os encontros on-line podem nos manter vivos como seres sociais agora, mas as videoconferências relacionadas ao trabalho geralmente são transacionais, desajeitadas e desagradáveis”. E mais: “…o que nos move, é o relacionamento que temos com as pessoas”.
Haverá mudanças no layout dos escritórios. Espaços com maior distanciamento e novos tipos de ambientes de convivência com regras diferentes são transformações que vão durar meses, quiçá anos. O nível de automação será maior, assim como a interação digital. Mas é a convivência entre pessoas que permite ao Secovi-SP trabalhar pelo desenvolvimento do setor imobiliário. Daí afirmarmos que o home office veio para ficar, mas não de maneira exclusiva.
*Presidente do Secovi-SP
2 de julho de 2020