Roberta Bigucci é diretora do Secovi-SP e da MBigucci Construtora |
A agenda que as empresas do setor imobiliário podem seguir para participar do universo da sustentabilidade
A sigla ESG (ambiental, social e governança,em português) aparece cada vez mais no cotidiano das empresas
O tema, entretanto, não pode ser olhado de forma simplista. Ele enseja uma visão sobre qual é verdadeiramente o negócio de uma organização (core business) e clara definição de seus propósitos.
O alcance dessa visão pode ser inspirado pelo conhecimento das premissas do Pacto Global, documento que fez parte da Agenda 21 da Organização das Nações Unidas e que deflagrou irreversível mobilização mundial no campo da sustentabilidade.
ODS E ESG
Quando os Princípios do Pacto Global foram divulgados, somente quem já estava engajado com a preocupação ambiental conseguiu colocar em prática algumas medidas.
Como os compromissos da Agenda 21 estavam assumidos, a ONU criou os ODS, estabelecendo a Agenda 2030, uma prorrogação necessária para viabilizar o cumprimento de metas.
Em seus 17 pontos, o documento definiu 169 metas englobando quatro dimensões: social, ambiental, econômica e institucional. Isso facilitou a adesão das empresas à Agenda 2030, por meio de planos de ação para implementar inovações e reforçar os valores do próprio negócio, mostrando à sociedade que são socialmente corretas e trabalham por um mundo melhor.
A questão é que muitas empresas não sabem por onde começar e consideram que precisam cumprir integralmente todos os objetivos e metas para serem sustentáveis.
Acontece que isso não é verdade. O que precisa ficar claro são as metas ligadas à atividade ou ao negócio das empresas (core business) e como elas podem ser implementadas de forma prática no seu dia a dia.
Para impulsionar ainda mais o processo, em 2004 foi criada a sigla ESG como um olhar do setor financeiro para a sustentabilidade. Um complementa o outro: os ODS são direcionados para toda a sociedade – pessoas, empresas, ONGs, poder público, etc. -, e o ESG está mais focado no ambiente corporativo.
Para a Rede Brasil do Pacto Global, o ESG não é uma evolução da sustentabilidade empresarial, mas sim a própria sustentabilidade empresarial.
Por onde se pode começar
Recomenda-se conhecer os 10 Princípios do Pacto Global (https://www.pactoglobal.org.br/10-principios) e identificar dentro da rotina empresarial onde cada ação se encaixa.
Exemplo: o Princípio 5 refere-se à abolição efetiva do trabalho infantil. A empresa que não contrata crianças e se posiciona contrária a essa prática está aderente à premissa. Cabe divulgar o compromisso, não só em razão de afirmar sua responsabilidade, mas para estimular que outros ajam da mesma forma. Outro caso: a empresa que faz coleta seletiva e reduz o consumo de papel com impressão está alinhada ao Princípio 8, que recomenda iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental.
O passo seguinte é estudar os 17 ODS (https://www.pactoglobal.org.br/ods). Há vários pontos que, por sua simplicidade, já podem estar em ação. O Objetivo 3, referente à saúde e bem-estar, pode ser materializado quando as empresas incentivam prática de esportes aos seus colaboradores ou promovem campanhas de prevenção a doenças.
As 169 metas dos ODS podem ajudar o empresário a identificar, dentre elas, o que pode ser feito em sua organização e, assim, plantar sementes das boas práticas. Paulatinamente, grandes mudanças começam a acontecer.
O Relatório do Pacto Global que algumas organizações enviam para a ONU mostra exatamente como isso funciona. Para bem ilustrar, incentivamos você a consultar o site: https://www.unglobalcompact.org/what-is-gc/participants.
O mais importante é ter em mente que a partir do momento em que a empresa começa a fazer, e entende a importância do porquê fazer, novas ações surgem naturalmente, sem obrigações ou exigências.
Na verdade, o processo se transforma em paixão e propósito. E logo se descobre que a incorporação de ações socioambientais na empresa traz benefícios, inclusive financeiros; que focar no social traz impacto positivo às pessoas; e que cuidar do meio ambiente contribui para o futuro.
Entender isso é abrir caminho para pensar em ESG e agir estrategicamente em prol da sustentabilidade do próprio negócio.