Marcos Ferrari* “O 5G certamente abrirá espaço para inúmeros avanços, muitos que ainda sequer conseguimos projetar” |
Achegada do 5G é um dos assuntos mais relevantes e aguardados. Tão logo ocorra a realização do leilão, previsto para acontecer ainda este ano, será possível iniciar a contagem regressiva para o pleno funcionamento da tecnologia em território nacional.
A expectativa é que 21% dos dispositivos no mundo já estejam conectados ao 5G em 2025. Para as operadoras, contudo, haverá uma mudança bastante importante nos modelos de negócio daqui para frente.
Enquanto o 3G e o 4G são muito voltados ao B2C, o 5G permite ampla gama de novas possibilidades. O consumidor final certamente irá usufruir de maior velocidade em seu aparelho, mas a ação transformadora acontecerá nas aplicações B2B e B2B2C. É justamente nesse ponto que passa a ser possível falar de cidades e casas inteligentes, agronegócio conectado e indústria 4.0.
Para atender às demandas de infraestrutura e instalação do 5G, os investimentos do setor de Telecom precisarão se manter elevados. O segmento é historicamente um dos maiores investidores do País, com média superior a R$ 30 bilhões por ano.
Se por um lado ficou evidente – sobretudo durante a pandemia – que a conectividade é o insumo básico para o bom funcionamento de praticamente todas as cadeias produtivas, por outro, há ainda importantes entraves a serem superados.
Um dos maiores empecilhos para a expansão da conectividade no Brasil é a elevada carga tributária. Nada menos do que 47% da conta que hoje é paga pelo consumidor é composta de tributos. A média da tributação dos países que mais acessam banda larga no mundo é em torno de 10%.
Os benefícios de uma menor taxação alcançam população, empresas e Estado, a começar pela maior possibilidade de investimentos das operadoras em uma atividade essencial no mundo de hoje.
Com mais recursos em caixa, é possível expandir a infraestrutura e fazer a conectividade chegar a todos. Os demais setores produtivos ganham em eficiência e competitividade. Além disso, o acesso ao conhecimento leva a um evidente incremento no capital humano.
E para a arrecadação há ainda um viés positivo: recente estudo da LCA Consultores mostrou que o governo deixou de receber R$ 1,8 bilhão ao isentar as aplicações de IoT (internet das coisas). No entanto, o efeito multiplicador da expansão da tecnologia na economia tem o potencial de gerar cerca de R$ 17 bilhões ao Tesouro.
Outro ponto que merece atenção é a desatualização das leis municipais de antenas. Há cidades com legislações muito antigas e a defasagem chega a 30 anos em alguns casos. O 5G requer uma densidade de antenas até dez vezes maior que o 4G. Contudo, as regras antigas impossibilitam a instalação dessa infraestrutura, levando alguns municípios a exigir licença ambiental, habite-se, entre outros requerimentos. É preciso haver incentivos para que os municípios atualizem as regras e sejam beneficiados pela nova tecnologia.
A conectividade é hoje um elemento fundamental na vida de todos. O 5G certamente abrirá espaço para inúmeros avanços, muitos que ainda sequer conseguimos projetar. Com uma política pública e econômica que coloque o setor de Telecom como protagonista de um processo virtuoso, será possível reduzir a fronteira tecnológica e competir em melhores condições na nova economia digital.
*Presidente da Conexis Brasil Digital, entidade que representa as principais operadoras de telecom e conectividade do mercado brasileiro