Primeiro painel da Convenção Secovi contou com especialistas do mercado 

“Estamos vivendo um novo Brasil”, disse Rodrigo Luna, vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP, no primeiro painel da Convenção Secovi, na manhã desta segunda-feira (26/8), na sede da entidade. Luna traçou um panorama otimista da situação do País que, segundo ele, está passando por uma transformação estrutural.  “Sempre ouvi falar que o Brasil é o País do futuro e que vamos entregar todo o potencial que tem e que até hoje não tínhamos conseguido. Mas tem algo diferente acontecendo.”

Mediado pelo jornalista Rafael Colombo, o painel abordou as condições de crescimento econômico brasileiro e os entraves para alcançá-lo. Luna ponderou as dificuldades e disse que é preciso continuar lutando com determinação por essas transformações. Ele lembrou do anúncio – muito importante para setor imobiliário – da nova linha de crédito habitacional anunciada na semana passada pela Caixa, indexada ao IPCA. “As mudanças passam por medidas como essa. Então, vemos a busca pelo equilíbrio fiscal, que é o primeiro passo para tenhamos um futuro com inflação baixa e controlada. São diversos aspectos que me autorizam a dizer: estamos navegando por mares nunca antes navegados.”

Crescimento econômico – Para Arthur Carvalho, economista-chefe do Morgan Stanley América Latina, as cicatrizes adquiridas nos últimos 15 anos ainda vão demorar para serem curadas. “Durante mais de uma década, nós tivemos o papel do Estado na alocação de capital na economia brasileira, o que gerou problemas de crescimento em médio e longo prazos. “Tem empresas que não existiram se retirassem os juros tão subsidiados nesse período. Então, demora um pouco para as empresas, principalmente as pequenas e médias, crescerem”.

Outro ponto importante, destacado por Carvalho, é que o Brasil faz parte da economia global. “O Brasil não é uma ilha. Nosso principal parceiro comercial é a China. Por isso, precisamos prestar atenção ao que está ocorrendo no resto do mundo”, frisou, lembrando que reformas iniciadas em 2016 são muito importantes. Porém, os resultados são de longo prazo. “Precisamos ter um pouco mais de paciência.”

Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, reiterou a fala de Arthur Carvalho sobre a alocação dos capital. Segundo ele, isso condenou o Brasil a crescer. Afirmou, ainda, que a greve dos caminhoneiros ocorrida no ano passado teve consequências graves. “O crescimento será lento e vai se acelerar conforme ocorrem as reformas.  Mas tem de ser um crescimento com produtividade. O crescimento da última década foi pautado no consumo”, destacou, apontando um outro entrave de curto prazo: o spread bancário. “Por mais que os juros que tenham baixado, o spread não baixou. Esse é o pior entrave para o crescimento.”

Ao ser perguntado se a sociedade amadureceu ao ponto de entender que o governo não pode vender ilusões, Paulo Gontijo,  presidente da Livres, disse que as pessoas ainda acreditam no ‘Salvador da Pátria’. “Eu não acredito. Eu acredito em políticas de Estado e não de governo. O que funcionou no Brasil foram construções da sociedade civil”, disparou, citando como o exemplo o Plano Real e Lei de Responsabilidade Fiscal. “Dá trabalho mudar o País. Não são em seis meses, em um único governo. O que funciona é gente competente, equipe e continuidade”, opinou Gontijo.

Minha Casa Minha Vida – Rodrigo Luna ressaltou que o esse é o maior programa habitacional de baixa renda em operação do mundo. “O Minha Casa Minha Vida é estruturado para as condições brasileiras, apoiado na nossa realidade”, disse Luna, informando que já foram contratadas mais de 5,5 milhões de unidades. “O MCMV precisa de uma repaginação, principalmente na Faixa 1. Mas, indiscutivelmente, é um programa de sucesso pela finalidade e importância para a sociedade brasileira.”

Capital estrangeiro – “O investidor estrangeiro tende a investir onde tem estabilidade política. A instabilidade no Brasil reduziu bastante nos últimos meses, mas o nível ainda é elevado se comparado a outros países”, avaliou Arthur Carvalho. “O Brasil parou de crescer em 2011 e a recuperação tem sido muito mais fraca do que o esperado. Contudo, comparativamente na região, o Brasil ainda se destaca. Já tem dinheiro entrando. O mercado financeiro já teve várias ofertas primárias e até secundárias”, afirmou o economista, salientando que quem tiver em interesse em mais informações, pode acessar o site do Morgan Stanley.

Gontijo chamou a atenção para a questão da competitividade. Tem um vício tradicional da economia brasileira em diversos setores que é o desejo da abertura comercial e o medo setorial de enfrentar a concorrência internacional. É preciso regulação para não ter quebradeira. Mas não se pode perder de vista que, na ponta, tem o consumidor que compra o produto”, afirmou Gontijo. “Há um desafio global de empregabilidade com as inovações tecnológicas. Caso o Brasil não se dedique a encará-los de frente, será isolado do resto do mundo. Por isso, políticas públicas são importantes para tornar o País mais competitivo e, sobretudo, ter certeza que os setores que estão recebendo investimentos são competitivos globalmente”, completou Carvalho.  

Luna encerrou os debates ressaltando que, diferentemente do setor bancário, no mercado imobiliário a concorrência é enorme. “O problema não é capital estrangeiro. Precisamos de uma regulação para que o investimento seja feito de forma segura e equilibrada. O que buscamos é o crescimento sustentado”, concluiu o vice-presidente do Secovi-SP.