O Ciclo de Palestras para Síndicos e Administradoras de Condomínios estreou com chave de ouro em 2015, abordando um tema da maior relevância: “Soluções práticas para economia de água”. A avaliação do vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP, Hubert Gebara, foi feita na abertura da primeira edição do evento no ano, realizada em 31 de março, na sede da entidade.

Segundo ele, há anos o Secovi-SP tem trazido à luz vários assuntos de interesse de síndicos e condomínios, mas o tema escolhido para esta edição, a água, além de oportuno e necessário, envolve todas as áreas e a população de maneira geral. “E este público que hoje está aqui é irradiador do que fazemos”, o que valoriza ainda mais o evento.

Gebara também ressaltou a qualidade dos palestrantes Clarice Degani, assessora técnica da vice-presidência de Sustentabilidade do Secovi-SP, e Eduardo Nascimento Pacheco, diretor geral do Portal Tratamento de Água; e dos responsáveis pela apresentação de cases, André Mauad, da Water PRO; Marizilda Gonçalves, síndica do Condomínio Edifício Maison Saint Hilaire, e Sergio Meira de Castro Neto, diretor da vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Sindicato.

Geraldo Bernardes, diretor de Sustentabilidade Condominial da entidade, chamou a atenção para a necessidade de buscar e apresentar soluções a fim que os condomínios e a sociedade consigam reduzir o consumo de água dos atuais 242 litros por habitante/dia, em média, e atingir a meta de 110 litros por habitante/dia. “Dentre outras ações para contribuir nesse sentido, vamos lançar em breve o Manual de Sustentabilidade Condominial, que traz orientações sobre água, energia e aquecimento. O material está praticamente pronto e passará por constante atualização”, afirmou Bernardes, que coordenou o evento.

Gestão do consumo – Clarice Degani explicou que o objetivo do evento é ajudar os participantes a estruturar ações para atacar o problema da água, por meio da gestão do consumo. “Não adianta copiar a iniciativa do condomínio vizinho, pois cada um tem de entender os seus consumos”, avisou. Você sabe quanto é consumido de água nas áreas comuns? Acompanha, sabe quando está excedendo o usual? Consegue identificar para qual sistema a água está seguindo?”, questionou a especialista, afirmando que essas são as perguntas que cada um de se fazer para poder começar a fazer a gestão do consumo.

Ressaltou que o histórico desse acompanhamento tem de ser construído dentro do condomínio, repassado ao próximo síndico e aos moradores, para que conheçam a evolução e possam colaborar.

Basicamente, são três diagnósticos a fazer: consumo da água do condomínio (controle), monitorar vazamentos (correção e proteção) e outras fontes de água não potável disponíveis (uso de fontes alternativas, que exige um pouco mais de investimentos). A gestão da água e proteção contra vazamentos têm investimento baixo.

Importante treinar a pessoa que fará este acompanhamento do consumo, para evitar incorreções. “A medição deve ser diária e no mesmo horário.” Para ter uma noção e poder comparar é preciso conhecer a média mensal para comparar a evolução.

Diagnóstico e plano de ação – Clarice sugeriu três ações que você pode adotar com relação à gestão da água quando percebe que o consumo está em excesso ou pode ser reduzido: instalar dispositivos econômicos (arejadores, restritor ou regulador de vazão etc.); ajustar a rotina (às vezes, só o fato de mudar o jeito de fazer já pode trazer economia); e implantar medição individualizada.

Segundo Clarice, o PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat) tem programa de qualificação de fornecedores de material de construção (o SiMac) em conformidade com as normas de produtos. Pode e deve ser consultado,.

“No manual, há tabelas explicando tudo o que se deve fazer para economizar”, informou. Orientou a identificar no condomínio as rotinas que requerem o uso da água e, a partir disso, elaborar um planejamento, de modo a ajustar equipamentos e utensílios, formas de uso, horários, limpeza e produtos, bem como treinar e conscientizar funcionários e moradores. Além de conciliar atividades para obter melhor aproveitamento.

A medição individualizada permite o uso racional da água, gestão de gastos e justiça social. Ao instalar hidrômetros nas unidades, é possível entender qual o volume consumido em cada uma delas e o volume específico que vai para a área comum. Isso possibilita uma melhor gestão e também identificar vazamentos.

Há dois padrões para a medição: um homologado pela Sabesp (com contas individuais, emitidas pela concessionária); e o padrão para rateio da conta, que tem um gestor para leitura das contas e faz o rateio no condomínio. Nas duas opções, é possível destacar o consumo das áreas comuns.

Ao perceber um desvio no consumo, é possível aplicar testes nos reservatórios, nas prumadas, nas piscinas, para verificar onde está o vazamento e, desta maneira, corrigi-lo.

Evitar perdas – “A vistoria periódica é essencial. Muitos dos vazamentos vêm da obsolescência das instalações, maus hábitos e perdas. Campanhas de conscientização são importantes, assim como a instalação de hidrômetros em setores específicos do condomínio, para identificar a perda de água pelo menos em determinados sistemas.”

Regular mecanismos, substituir tubulações e qualificar prestadores de serviços são ações recomendáveis, assim como registrar manutenções e planejar as preventivas. E também desenvolver listas de verificação para garantir que todos os sistemas estão sendo checados e a rotinas cumpridas.

Dentre as fontes alternativas, estão: a da concessionária, que também vende água de reuso; agua de chuva; aguas cinzas (não praticado em residenciais no Brasil); agua de lençol (verificar natureza da água) e poços artesianos (que necessitam de outorga). Adotar uma fonte alternativa não é uma decisão a ser tomada por leigos, segundo explicou Clarice, pois é necessário toda uma engenharia para analisar e fazer um projeto bem elaborado.

A especialista sugere ainda: formar uma comissão de sustentabilidade no condomínio, para ajudar o síndico; ter os registros bem organizados em arquivo; e manter comunicação do atendimento das águas nos elevadores, murais. “Não deixe essa luta morrer”, disse.

Reforçou que o Secovi-SP possui um programa de ecoeficiência em condomínios e que a primeira inciativa é conhecer o consumo de água, energia e gás dos edifícios na cidade de São Paulo. Vamos relacionar o consumo por habitante com o formato do condomínio, para entender e ajudar com ideias específicas e soluções mais fáceis.

Problema grave – Engenheiro sanitarista há 30 anos, Eduardo Nascimento Pacheco, diretor geral do Portal Tratamento de Água, trouxe uma visão macro sobre o tema e disse que, na sua opinião, a crise é bem mais grave do que está sendo divulgado, não somente pelo aspecto hidrológico, mas por vários outros fatores.

Segundo ele, a chuva miúda de março não resolveu o problema, teremos seis meses sem chuva e sem a garantia que ela virá após este período. “Cada litro economizado é fundamental! Tudo o que a Clarice disse é muito importante para este público, que está no ‘microcosmo’, na ponta do consumo. E não é o consumo principal, que corresponde à indústria e à irrigação (50% de toda água consumida no Brasil).”

De acordo com o engenheiro, não é possível usar a Billings, que tem esgoto, lixo e passivo industrial de contaminação do passado. “Assim, é bem mais importante do que se pode imaginar controlar cada litro do que vamos consumir. Não queria deixar uma mensagem de baixo astral, mas esta é a realidade. As concessionárias estão segurando a onda para não criar pânico, o que não é positivo. Se não chover em novembro, teremos um sério problema social”, alertou.

Durante o evento também foram apresentados cases. Leia mais.