O Ciclo de Palestras para Síndicos e Administradoras de Condomínios “Soluções Práticas para economia de água”, realizado em 31 de março, na sede do Secovi-SP, contou com a apresentação de cases de economia de água.

O primeiro foi apresentado pelo diretor a vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP, Sérgio Meira, que trouxe a experiência bem-sucedida da síndica Marizilda Gonçalves, do edifício Maison Saint Hilarie, único condomínio residencial em São Paulo que faz reuso da água da máquina de lavar.

Marizilda implantou o sistema em 2006, “antes de saber que haveria esta crise da água, e já na época foi um sucesso, em razão da economia”. À época, a conta de água girava em torno de R$ 8 mil ao mês e, com o sistema de reuso, caiu para R$ 3 mil.

“O investimento não foi tão alto, e com a economia gerada, o sistema praticamente se pagou sozinho”, contou. “Tenho uma série de vantagens com a empresa por ser a pioneira na adoção dessa prática.”

Segundo ela, a água passa por análise bacteriologia e química (semanalmente) e de ph e cloro (diário, para termos um controle total. Só não é possível beber essa água. “Antes de colocarmos a placa indicando tratar-se de água de reuso, os vizinhos chegaram até a chamar a polícia porque os funcionários estavam lavando a calçada.”

Funcionamento do sistema – Sergio Meira disse que a água da máquina de lavar e dos tanques são captadas e reutilizada, em vez de ir para o esgoto, como acontece em todos os prédios. Ele informou que, antes de instalar, é importante saber se a prumada não recebe águas de outras origens.

Metade dos prédios têm mistura de água, o que não é o caso do Saint Hilarie, em que a coluna (prumada) desce direto para o subsolo. De lá, a água foi desviada para uma estação de tratamento construída para esta finalidade, que não ocupa espaço muito grande (menos de 20 metros quadrado), é toda automatizada e tem capacidade de 1 metro cúbico de água tratada por hora. “É uma caixa d’água normal, separada da caixa do prédio”, afirmou.

Além dos vasos sanitários, a água também é utilizada para rega de jardim e lavagem de piso, onde as torneiras têm a identificação e cadeado. O case obteve sucesso em termos de economia, conforme explicou Meira, porque foi possível usar a água nos vasos sanitários – enquanto a maioria dos prédios usa água tratada para este fim.

O edifício possuía 160 mil litros, distribuídos em duas caixas d’água grandes, com duas células de 40 mil litros cada. Uma das células foi separada para alimentar diretamente os vasos sanitários de cada banheiro e das torneiras do jardim.

O reuso representou economia de água de R$ 3,3 mil por mês, mas é preciso manter o equipamento, o que resulta em taxa mensal para a empresa. Ainda assim, a economia líquida é de 32%. “Isso possibilitou à síndica fazer outras melhorias no condomínio.”

Para Meira, o projeto merece respeito porque é sério e teve continuidade, o que garante o sucesso. Além disso, ter um contrato de manutenção, que faça o controle da agua e dos equipamentos, é fundamental.

O investimento varia de acordo com o prédio, da mudança da faixa de economia, etc. “Neste condomínio, especificamente, o investimento à época foi de R$ 40 mil, sendo R$ 10 mil de entrada e o restante pago com a economia que tivemos no consumo”, esclareceu Marizilda.

“Nove anos atrás, nós, do Secovi-SP, já estávamos preocupados com essa questão da escassez da água, elaborando manuais e orientando os condomínios”, concluiu Meira.

Edifícios comerciais – O administrador de empresas André Mauad, fundador da Water Pro, com atuação há dez anos no mercado, especializado em projetos de uso racional de água, medição individualizada, captação, tratamento, reuso, dentre outros, voltados à economia e sustentabilidade.

Cada caso é único, daí a importância de analisar o que vai ser feito, para saber qual será o investimento, o retorno e como irá caminhar o projeto ao longo do tempo. O objetivo dos dois cases é eliminar o desperdício de água mantendo o conforto do usuário (o que é muito importante), economia nas contas de água (o que ocasiona economia de energia e gás nos prédios residenciais) e respeitar as normas de conforto da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Baseado no Manual de Sustentabilidade elaborado pelo Secovi-SP, nove dez anos atrás: adequamos o sistema de descarga para três e seis litros por fluxo (ou seja, substituição das bacias ou com caixa acoplada ou bacias convencionais): regulamos e trocamos os reparos de válvulas e kits de caixa acoplada, quando possível; substituímos torneiras normais por automáticas, dependendo se for na área comum ou nos apartamentos; instalamos registro regulador de vazão (peça de nível avançado que possibilita regulagem ponto a ponto); instalação de válvulas de mictório automáticas; substituição de flexíveis e peças acessórias do sistema sanitário e monitoramento constante do consumo. Manutenção é importante para garantir a economia.

Dois projetos de prédios comerciais a serem apresentados foram feitos por meio de contrato de performance, ou seja, a empresa fez todo o investimento no cliente e também se remunerou no resultado obtido após a implantação. Os casos são muito variados: prédio residencial, por exemplo, tem uma facilidade de ganho de economia muito grande, devido à questão do chuveiro (o maior vilão).

O tempo de implantação varia de um a três meses para retrofit (uso racional da água), dependendo do número de bacias e torneiras a trocar, da facilidade que se tem para entrar nos conjuntos comerciais, se precisa fazer cronograma com o gestor do prédio. O que agrega muito ao patrimônio é a modernização dos banheiros e a valorização do imóvel, já que se vai ter um sistema muito mais eficiente.

Economizadores – Mauad falou sobre os produtos economizadores, mostrando exemplos existentes no mercado e suas funcionalidades. Usar material de primeira linha é fundamental. O tipo de material empregado vai dar longevidade e performance de longo prazo. “Nós, que trabalhamos com contrato de performance, temos de monitorar o cliente, e ganhamos, junto com o cliente, sobre a economia, temos de colocar o que tem de melhor e mais avançado nos sistemas, para ter um resultado satisfatório.”

O prédio em questão gastava em média 333 metros cúbicos de água. Começamos o serviço, trocamos tudo o que era possível rapidamente, em 20 ou 30 dias, e a conta no mês seguinte já caiu cerca de 50%.

“No outro caso, fizemos um serviço equivalente no prédio, que tinha um gasto mensal de R$ 14 mil e consumo em torno de 1.043 m3. Ao termino do trabalho, o consumo havia caído para 560, em média. Este prédio tem muita válvula hidra, que, para a maioria das pessoas, gasta mais. Cada caso é um caso. A válvula hidra bem regulada, sem vazamento, é mais confiável que a caixa acoplada, que pode travar o mecanismo, estar, fora de regulagem, suja, etc. Trocamos todas as bacias (180) e os reparos, mesmo aqueles mais novos, para garantir e monitorar a performance do prédio ao longo do tempo.”

Segundo ele, a medição individualizada também tem sido implantada por meio de contrato de performance. Nos prédios comerciais, o ganho é em metros cúbicos e nas faixas tarifárias de consumo. No residencial, existe esta divisão, mas a economia é grande em razão da conscientização.

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