Na manhã de segunda-feira, 13/4, a jornalista Denise Campos de Toledo entrevistou especialistas sobre as condições atuais dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Na abertura da live, que atingiu a audiência de 100 pessoas, Denise questionou o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, sobre o impacto da pandemia de coronavírus no comportamento do mercado imobiliário da cidade de São Paulo, que vinha atingindo expressivos números de lançamentos e vendas de novas unidades.
Segundo Petrucci, os efeitos da pandemia já são percebidos pelos incorporadores, apesar de aproximadamente 80% dos Estados estarem com os canteiros de obras em pleno funcionamento, adotando as medidas de prevenção necessárias para manter a saúde dos trabalhadores.
O economista destacou o fechamento dos plantões de vendas, a partir da quarentena decretada pelo governo do Estado de São Paulo. “A curva de lançamentos será bastante parecida com as curvas das crises de 2008/2009 e de 2105/2016. O impacto será maior no mercado de imóveis para a classe média. O mercado econômico ficará basicamente com o mesmo comportamento”, ressaltou Petrucci.
Recursos – Denise Campos de Toledo questionou o empresário Ricardo Ribeiro Valadares, CEO da Direcional Engenharia, sobre a saúde das contas do FGTS com a liberação, pelo governo federal, de novos saques do Fundo a partir de 15 de junho, até 31 de dezembro.
Antes de dizer se o caixa do FGTS comporta novos saques, o executivo esclareceu que as retiradas serãos feitas, também, por trabalhadores contratados pelo regime de CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que perderem o emprego. “Nesse cenário, saques antecipados por aqueles que ainda não perderam o emprego poderão fazer falta para as famílias quando os trabalhadores ficarem desempregados”, disse.
Valadares ressaltou que os saques agora diferem daqueles feitos em 2019, quando a economia estava crescendo. “Nesse caso, o saque antecipado foi satisfatório.”
Ele disse que quando se analisam os números das contas do FGTS, 92% têm menos de quatro salários mínimos depositados, e um eventual saque antecipado pode fazer toda a diferença lá na frente. “Mil reais por CPF somam R$ 35 bilhões. Com esse montante de recursos, deixaremos de construir 350 mil casas e de gerar o mesmo volume de novos postos de trabalho.”
Ao responder, por fim, o questionamento da jornalista, Valadares afirmou que esses saques podem ser comportados pelo FGTS, que tem saúde financeira para isso. “Mas torno a dizer que a preocupação é colocar recursos na economia e eliminar empregos, que podem dar muito mais garantia paras as famílias atravessarem esse período de pandemia com segurança. Tenho dúvidas se o momento é adequado para promover esses saques”, enfatizou.
Caixa da empresa – Rodrigo Luna, vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP, que também participou da live, lembrou um pouco dos objetivos da criação do FGTS, além do de cuidar do trabalhador em caso de desemprego.
Lembrou, também, que como forma de conter a crise financeira mundial, de 2008, foi criado o programa Minha Casa, Minha Vida, com lastro no FGTS e que permitiu que o colapso econômico, naquele momento, não fosse maior. “O programa tem consistência e funcionou absolutamente na crise seguinte, de 2014 a 2017. O grande desafio de habitação no mundo é a baixa renda. Durante os últimos anos, entre 70% e 80% do mercado nacional foi mantido pelo MCMV. Imagina se não houvesse esse programa. Temos de preservar os recursos do FGTS”, disse Luna.
Petrucci completou dizendo que São Paulo, a cidade mais cara do Brasil, ofertou, no ano passado, 27 mil unidades pelo MCMV, com a venda de 23 mil unidades econômicas. “Na Capital, o programa representa quase 45% do mercado e no Nordeste pode chegar a 90%. Deve-se manter o programa para manter empregos.”
Previsibilidade – Denise questionou os especialistas sobre os impactos da modalidade ‘saque aniversário’ criada pelo governo federal em 2019. De acordo com Ricardo Valadares, o saque aniversário é positivo e cria previsibilidade do fluxo de saques do FGTS para os próximos anos. “Os saques, quando há muita demissão, causam muito mais impacto”, exemplificou.
Ele disse que a medida é inteligente e não incrementa o volume de saques. “Quero ressaltar que o FGTS é, na situação atual do Brasil, com baixas taxas de juros, a aplicação com uma das melhores rentabilidades do mercado”, reforçou.
Denise concordou com o empresário. “Principalmente nesse momento em que as famílias buscam segurança, são esses ativos tradicionais que trazem essa segurança.”
Riscos – A jornalista quis saber a disposição do setor em lançar novos empreendimentos e como as empresas estão lidando com os riscos de conter a pandemia.
Rodrigo Luna disse que ninguém sabe, ao certo, os prognósticos da doença. “Só sabemos que é séria e temos de proteger as pessoas. Nesse momento, as empresas estão preocupadas também com o fluxo de caixa, em se manterem vivas, para depois pensar como sairão da crise.”
O vice-presidente aproveitou para lembrar que a palavra de ordem agora é ‘fique em casa’. “Mas como ficam oito milhões de famílias sem casa? E as habitações irregulares? Não podemos permitir que o Brasil continue com essa realidade. Habitação de baixa renda tem de contar com a rubrica de Estado, assim como Saúde e Educação. Essa crise nos ensina a necessidade de cuidar desse tema com a devida relevância social.”
“Existe a preocupação com a saúde das pessoas, das empresas e da economia. Se houvesse recursos para fazer 1,2 milhão de unidades por ano do MCMV, faríamos, porque há demanda. E do ponto de vista de geração de empregos e tributos, seria uma grande contribuição para o País. Pedimos que a política de habitação, saneamento e infraestrutura seja mantida. Foi com recursos do FGTS que o Brasil foi urbanizado, com cidades construídas da forma como estão. Cem por cento das pessoas que compram um imóvel do MCMV estão adquirindo a primeira habitação, e desse montante, em torno de 80% terão uma única habitação”, completou Petrucci.
Ricardo Valadares enfatizou novamente que os recursos do FGTS têm de ser preservados para garantir investimentos em habitação, infraestrutura e saneamento. “A visão de curto prazo pode prejudicar todo o funcionamento de um sistema de sucesso.”
Celso Petrucci lembrou que o setor imobiliário precisa tanto dos recursos da poupança quanto do FGTS para o financiamento habitacional. “A atividade do setor da construção tem relação direta com a geração de empregos. É um dos segmentos econômicos que mais despontam com a possiblidade de gerar empregos. Alavancar o setor é, também, preservar a saúde das pessoas e do País.”
Denise concordou com a análise dos especialistas e acrescentou: “O FGTS preservado dará fôlego ao setor e à economia”.
Petrucci aproveitou para elogiar as decisões do CMN (Conselho Monetário Nacional), do Banco Central, que permitiram aos bancos privados renegociarem dívidas e à Caixa adotar medidas emergenciais nesse momento.