Claudio Bernardes*

Recentemente, duas importantes revistas brasileiras (Veja e Época) trouxeram matérias com o economista norte-americano Edward Glaeser, autor do bestseller Os Centros Urbanos: a Maior Invenção da Humanidade.

A clareza de suas ideias confere segurança ainda maior para tese defendida pelo Secovi-SP: adotar novos modelos de ocupação urbana, com planejamento que garanta o adensamento inteligente para que as cidades possam se desenvolver de maneira sustentável, com qualidade de vida e, principalmente, sejam acessíveis aos cidadãos – o que significa preços de imóveis compatíveis com o poder aquisitivo da população.

Glaeser traz dados concretos para fundamentar seus conceitos. Primeiramente, mostra que, nas grandes cidades as pessoas se aprimoram em função da convivência. Tornam-se mais criativas e inovadoras, e os mais pobres têm oportunidade de crescimento.

De acordo com o economista, a renda de quem vive nas maiores cidades americanas é, em média, 30% maior em relação aos cidadãos que moram longe delas. Graças aos investimentos em escolas, hospitais, museus etc. (só justificáveis onde há grande aglomeração humana), os moradores de municípios com mais de um milhão de habitantes são 50% mais produtivos.

Outro aspecto importante apontado pelo economista: arranha-céus são favoráveis ao meio ambiente. Estabelecer barreiras à edificação para cima encarece o preço dos imóveis e reduz a chance de as pessoas terem uma vida melhor. Além disso, prédios altos fazem com que o planeta seja menos depredado. O espraiamento das cidades, além do espaço necessário para seu desenvolvimento urbano, cria deseconomias no modelo de transportes e utilização racional do solo.

E o economista faz ainda outra conta: como as casas em subúrbios ou municípios próximos costumam ser maiores, o consumo de energia é também maior. Nos Estados Unidos, o gasto longe das metrópoles é mais de 80% superior. Além disso, embora as grandes cidades ainda respondam por 70% da poluição mundial, a emissão de gases de efeito estufa por habitante é menor nas metrópoles em comparação a cidades pequenas ou à zona rural.

Conforme Edward Glaeser, o sonho bucólico das casinhas em grandes metrópoles não é um sistema que possa ser utilizado como modelo de ocupação eficiente. Para ele, os governos acertariam muito mais se não cerceassem a indústria imobiliária, permitissem o adequado adensamento e cuidassem de promover infraestrutura, principalmente no que diz respeito ao transporte e à segurança pública.

O Secovi-SP já apresentou propostas concretas para uma nova ocupação urbana, racional, ecológica, responsável. Cidades são feitas por pessoas e para pessoas. E a tendência é que haja concentração cada vez maior de gente nas metrópoles. Assim, e como sentencia Glaeser, “construir para cima é uma maneira eficaz de driblar a falta de espaço em nacos pequenos de terra”, e impedir a explosão dos preços dos imóveis. Cabe, pois, um amplo debate com a sociedade para que se defina o que realmente queremos para nós e para as próximas gerações. É preciso discutir soluções que possam equalizar a demanda crescente com a qualidade de vida. Saídas existem. A questão é optar por aquelas que melhor atendam a maior parcela da população.

*Presidente do Secovi-SP