Carlos Borges: “Antecipar concessão é permitir novos
investimentos”

Depois da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mais uma entidade relevante do setor produtivo, o Secovi-SP, defende a prorrogação do contrato de concessão da Comgás.

De acordo com Carlos Alberto de Moraes Borges, vice-presidente de Tecnologia e Sustentabilidade do sindicato, o maior do setor imobiliário na América Latina, o processo é positivo para a sociedade. E em entrevista à Bússola, diz que “antecipar a concessão é, de uma certa forma, permitir que novos investimentos sejam feitos”.

Bússola: O Secovi-SP é favorável à antecipação da renovação da concessão da Comgás? Por quê?

Carlos Borges: Somos favoráveis porque entendemos que é algo bom para a sociedade como um todo. Existe um prazo de oito anos para vencer a concessão, mas a Comgás já fez todos os investimentos obrigatórios com antecedência. Então, antecipar a concessão é, de uma certa forma, permitir que novos investimentos sejam feitos. A Comgás poderia, eventualmente, não fazer nenhum investimento nesse período final do contrato e maximizar seu custo de curto prazo. Mas a visão da empresa, do governo e da sociedade é no sentido de que precisamos começar um novo ciclo de investimentos nesse momento. Em segundo lugar, há o interesse público em potencializar a oferta de gás natural. Então, é importante ter um investimento em infraestrutura para desafogar esse insumo disponível. Além disso, o gás, apesar de ser um combustível fóssil, é o mais limpo deles e, na matriz energética, poderá contribuir de forma favorável pelos próximos 30 anos. Por fim, especificamente no setor imobiliário, a Comgás tem sido uma parceira com a qual temos tido bom relacionamento e um bom atendimento técnico. Os novos empreendimentos já são concebidos com a segurança da rede de gás. E isso é uma coisa boa para o setor e para o consumidor.

Bússola: A empresa divulga informações de que os investimentos foram ampliados nos últimos anos e também que mais de cem mil clientes novos são conectados a cada ano, em média. A expansão caminha lado a lado com o crescimento imobiliário? Como funciona, na prática, essa parceria?

Carlos Borges: Para nós, tem uma questão importante que é a parceria técnica. É uma conversa de alto nível com a equipe técnica da Comgás e os nossos projetistas. Há uma diretoria de normalização, que é algo que funciona muito bem. A gente tem outras parcerias com a Sabesp e agora com a Enel, mas essa (com a Comgás) especialmente flui bem. Sentimos uma receptividade e uma abertura para o desenvolvimento técnico conjunto no atendimento de nossos pleitos e na execução de projetos. Temos um direcionamento do atendimento que acontece de uma forma bacana. E a gente tem espaço para submeter alguma questão. Inclusive já conversamos sobre o compartilhamento de informações de georreferenciamento que tanto são elaboradas pelo Secovi-SP, com foco no mercado imobiliário, como pela Comgás, mas com outro foco, e que podem se complementar.

Bússola: Hoje muitos condomínios são construídos com várias aplicações do gás natural, como fogão, chuveiro, churrasqueira e aquecimento de piscina. Como o Secovi-SP vê essa ampliação de usos?

Carlos Borges: Usando comparativamente o exemplo da churrasqueira a gás: ela é menos poluente do que aquela a carvão. É uma coisa que faz todo o sentido, quando há uma oferta grande e a expertise de executar um sistema que atende em segurança, sem contar a comparação com o botijão de gás que já está superado. É um processo natural, que junta a oferta de gás e a capacidade técnica de ter soluções. Nós já trabalhamos com soluções híbridas, utilizando energia solar e gás natural. Vejo que, pelos próximos 30-40 anos, o gás deverá desempenhar um papel importante na matriz energética. E tem a capilaridade e a disponibilidade da região e, com as últimas descobertas (do pré-sal), faz todo o sentido fomentar o acesso ao gás.

Bússola: Do ponto de vista do consumidor final que compra os apartamentos, a existência de um condomínio com gás faz diferença na atratividade do imóvel?

Carlos Borges: Nós trabalhamos com um mercado de médio-alto nível e eu diria que este consumidor está tão consolidado e tão acostumado a receber gás natural que, na verdade, ele não valorizaria se não tivesse ligação de gás. Seria considerado um choque não ter essa infraestrutura. Não se concebe mais, no mercado, o lançamento de empreendimentos verticais que não tenham gás encanado. Hoje, 100% deles têm. E todo mundo quer ter a facilidade de instalar um fogão e apenas apertar um botão para consumir gás.

Bússola: A proposta de prorrogação do contrato de concessão prevê a expansão do fornecimento para 2,3 milhões de clientes nos próximos 20 anos, com investimentos anuais em torno de R$ 1 bilhão. O que representa para o Secovi-SP ter um horizonte com esses indicadores?

Carlos Borges: Acredito que o termo que representa essa perspectiva é justamente segurança jurídica. Estamos caminhando muito forte na transição da matriz energética. Já trabalhamos com empreendimentos que geram toda a energia que consomem. Hoje, é muito importante para o setor ter investimentos compatíveis com o crescimento orgânico da cidade. São Paulo executava entre 30 mil e 35 mil novas unidades por ano e nosso patamar praticamente dobrou: estamos com 60 mil unidades por ano. Então, a indústria é uma máquina. As pessoas continuam querendo vir morar em São Paulo. Por isso, o setor imobiliário precisa ter a segurança de que o atendimento das concessionárias continuará por um bom tempo.

Fonte: https://exame.com