“Inovação em produtos imobiliários: do processo de produção ao cliente final” foi o tema do seminário que o Secovi-SP realizou dia 6/11, em sua sede. Segundo o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Sindicato, Carlos Borges, a construção civil no Brasil não tem um histórico muito favorável em inovação por vários motivos, que passam pela introdução de tecnologias de maneira errada no passado – que tornaram o setor até um pouco mais retrógrado do que já era –, até a própria dificuldade do pequeno e médio empresário em ter uma visão de longo de prazo.

“Diferentemente da indústria, que faz investimentos em pesquisa e desenvolvimento, até hoje percebemos uma quantidade pequena de empresas que tenham áreas de desenvolvimento tecnológico estruturadas que consigam trabalhar”, comparou Borges. “Com a abertura do capital em 2007, quando as companhias passaram a ter atuação nacional, esse quadro melhorou um pouco e agora, diante do cenário econômico, nunca foi tão importante se trabalhar com inovação”, enfatizou o vice-presidente do Secovi-SP, informando que a entidade pretende permanentemente tratar do tema. “Talvez a inovação seja a saída para o setor se reinventar e tentar atuar de maneira diferente num mercado tão competitivo”, concluiu.

Renato Diniz, diretor de Engenharia da Rossi Residencial, abordou a introdução de inovações no processo produtivo na visão da incorporadora. “Inovação não é um trabalho apenas de engenharia, de incorporação, mas de uma empresa como um todo”, disse. Ele falou sobre a adoção da padronização como inovação para se obter bom preço e capacidade produtiva. Pré-moldagem de baldrames, painéis portantes, lajes mistas, escadas, pré-viga e pré-laje são exemplos de itens da construção que foram padronizados pela Rossi. Hoje, a empresa investe em inovação para obter redução de ciclo e de tempo.

Para falar do tema sob o ponto de visão do desempenho para o cliente final, a convidada foi Maria Angélica Covelo Silva, diretora da NGI Consultoria. Segundo ela, a inovação não pode ser descolada do objetivo de negócio e da realidade do mercado. “O consumidor está mais exigente e busca atributos nos produtos. Somos uma sociedade em evolução que vai querer morar e trabalhar em edifícios melhores com outros atributos. A Norma de Desempenho traz essa nova cultura”, afirmou. Para ela, inovação para clientes começa na concepção do empreendimento, pensando na qualidade de vida antes da tecnologia. “Temos que desenvolver a indústria para atender requisitos e baratear, e não retirar requisitos da Norma porque custam caro”, enfatizou.

Cases de inovação

Foram apresentados dois cases de emprego de sistemas inovadores. Paulo Aridan, da Odebrecht Realizações Imobiliárias, mostrou o The One, que, em comparação com outro empreendimento semelhante, obteve redução de 3,5% de resíduo cinza e 85% nos resíduos de madeira, com a adoção de uma série de soluções construtivas, como estrutura mista-metálica com pilar encapsulado e fachada em concreto pré-fabricado. A redução na quantidade hora/homem por metro quadrado (hh/m2) também foi grande: no total da construção, caiu de 24,15 hh/m2 para 18,22 hh/m2. “Produtividade é questão de sobrevivência. Deve ser focada no cliente e começar no desenho do produto”, disse Aridan, que defendeu produtividade e sustentabilidade como indutores da inovação.

Fernanda Nunes, gerente de produto da Knauf, falou sobre o sistema drywall Aquapanel que foi aplicado no empreendimento BK30, da BKO Engenharia. O diretor de Inovação da BKO, José Roberto Leite, apresentou um panorama do edifício, as inovações adotadas, com destaque para a fachada, que utilizou o sistema da Knauf. O Aquapanel, tendo em sua composição placas cimentícias e manta de fibra de vidro no miolo, tem alta resistência a impactos, proporciona isolamento acústico e térmico superiores, não sofrendo com a ação da água, pois agrega um filme que a protege contra a umidade. “Em comparação com sistema convencional, o Aquapanel é mais leve, oferece economia na estrutura e fundações, demanda menos caminhões para ser transportado, facilita a logística e gera perda média de apenas 5%, característica de uma obra limpa”, disse Fernanda. O diretor da BKO destacou a industrialização. “Com escassez da mão de obra e seu consequente aumento de custo, a adoção de sistemas industrializados são a solução.”

O debate final foi conduzido por Luiz Henrique Ceotto, diretor de Design & Construction da Tishman Speyer Properties. “Somos o país da improdutividade. A construção civil é um dos setores de mais baixa produtividade do Brasil. Já se discute isso há mais de 60 anos. Os conceitos debatidos são os mesmos há 35 anos e o setor tem avançado muito pouco.” Para ele, a escassez e o encarecimento da mão de obra impulsionam a tecnologia e a produtividade. Ceotto também alertou para a necessidade de os empresários entenderem a construção civil como uma cadeia de valor e não apenas uma cadeia produtiva. “O setor está muito mais preparado hoje para discutir essas questões e propiciar produtividade e competitividade”, finalizou.