Dados mostram que aproximadamente 45% da população do Estado de São Paulo estão em casa, por conta da quarentena. “Enquanto os canais de varejo tradicionais se encontram fechados, as vendas on-line foram impulsionadas”, afirmou Adriano Sartori, vice-presidente de Gestão Patrimonial e Locação do Secovi-SP, que coordenou Live Secovi-SP sobre o mercado logístico e de self storage, em 28/5, pela plataforma Zoom.
Segundo ele, muitos players deste mercado tiveram uma grata surpresa com a movimentação neste período.
Diretor da DHL Supply Chain no Brasil, maior operador logístico do País, Plínio Pereira disse que a mudança nos hábitos de consumo da população refletiu nas indústrias e, por consequência, na operação do mercado logístico. “Percebemos uma aceleração do e-commerce, que já estava na rota de crescimento nos últimos anos. Essa tendência é inevitável.”
Pereira acredita que, independente das restrições de mobilidade (ir e vir), o consumo on-line deve crescer mais ainda no ‘novo normal’, no período pós-pandemia. “O varejo físico não vai morrer, mas as pessoas passarão a ter uma parte do seu consumo on-line, e o operador logístico precisa estar preparado para isso.”
Ricardo Antoneli, diretor de desenvolvimento da GLP Brasil – uma das maiores empresas investidoras em galpões logísticos do mundo –, compartilhou da opinião de Pereira em relação ao crescimento das vendas on-line motivadas pelo novo perfil do consumidor brasileiro que, segundo ele, está cada vez mais familiarizado com as plataformas digitais e mais exigente quanto à velocidade das entregas. “No Brasil, o e-commerce ainda está engatinhando. Mas na China, por exemplo, mais de 25% das vendas no varejo são feitas pelo e-commerce”, informou Antoneli.
Nova realidade – “Claramente, sabíamos que essa aceleração iria acontecer”, disse Antoneli, destacando que, no Brasil, ocorreram dois fenômenos interessantes. A primeira onda do e-commerce, segundo ele, aconteceu com a compra de ingressos e bens de consumo duráveis (televisão, geladeira e outros), com pouca recorrência e tíquete alto. A segunda onda veio com a mudança de hábitos por várias razões, de as quais a restrição do varejo físico. Isso impulsionou a venda on-line de vestuários e de bens não-duráveis, como alimentação, que aumentou demais nos últimos 45 dias, afirmou o diretor.
“O varejo on-line, que crescia em média 25% ao ano, deve ter um incremento muito maior este ano e atingir o ‘novo normal’”, previu Antoneli, informando que a empresa vem se preparando para esse fenômeno há algum tempo. “A GLP apostou no crescimento comércio eletrônico. Em 2016, tínhamos 20% do nosso portfólio de ativos locados em e-commerce e multicanal. Hoje, esse percentual já está em 40%. Quatro anos atrás, o nosso maior inquilino individual em metros quadrados era uma empresa varejista. Hoje, é um marketplace”, revelou. “Essa é uma tendência que deve acelerar ainda mais.”
“Todo o mercado terá de se adaptar a essa nova realidade”, afirmou Plínio Pereira, da DHL, destacando que a demanda de e-commerce tem características diferentes e precisa de soluções diferenciadas, desde o Real Estate, passando pelos sistemas, equipamentos e disponibilidade de pessoas.
Na avaliação dos especialistas, as empresas de varejo estão buscando cada vez mais centros de distribuição modernos, eficientes e estrategicamente localizados, permitindo a movimentação ágil dos produtos. Segundo eles, a maioria dos empreendimentos logísticos estão instalados em São Paulo e Rio de Janeiro, possibilitando a redução das distâncias percorridas e, consequentemente, a diminuição de custos e tempo de transporte nas entregas ao consumidor final. “Outras regiões estão crescendo, mas São Paulo ainda oferece a melhor estrutura viária e logística do País.”
Condomínios logísticos
Rodrigo Couto, diretor de Locação da CBRE, fez uma breve apresentação do mercado de condomínios logísticos no Estado de São Paulo. “A empresa acompanha a evolução deste mercado há 25 anos e, até uns 15 anos atrás, os galpões logísticos eram o ‘patinho feio’. Hoje, é um dos mercados mais resiliente em meio a essa pandemia”, afirmou.
Couto apresentou dados sobre taxa de vacância, absorção líquida e de demanda, que demonstram que esse mercado enfrentou um período de evolução no Brasil desde 2013. Daí, veio a crise em 2016. “No ano seguinte, começou a recuperação do mercado que, infelizmente, arrefeceu com a pandemia”, disse. Apesar do bom desempenho no primeiro trimestre de 2020, a expectativa é de absorção líquida 30% inferior ao projetado para este ano. “Vamos manter o crescimento, mas em uma proporção menor”, salientou Couto.
Self storage
Rafael Cohen, presidente da Associação Brasileira de Self Storage, explicou que as unidades são utilizadas em grande parte por pessoas físicas, para guarda de móveis, documentos e outros produtos. “A nossa solução é muito flexível, barata e ágil”, afirmou.
O e-commerce é um vetor de crescimento que o segmento sempre mirou, mas não havia sido alcançado. Agora, o self storage precisa se preparar para esta demanda, já que vem sendo procurado por algumas empresas. “Vamos ter de redesenhar as unidades, pois teremos uma movimentação maior. Será uma chance de provarmos que o segmento pode se adaptar”.
O diretor disse que o segmento é muito resiliente e tem percebido várias oportunidades. “Com a adaptação das residências para o home office, aumentou a procura das pessoas para guardar seus móveis. Além disso, empresas que tiveram de fechar as portas, também estão guardando seus equipamentos, para não ter de se desfazer”, contou.
Por outro lado, Rafael Cohen apontou o segmento enfrenta dificuldades para a implantação de unidades em algumas cidades, devido a restrições de zoneamento. “No ano que vem, teremos a revisão de Planos Diretores e precisamos unir forças para propor mudanças importantes para a cadeia imobiliária”, sugeriu Cohen.
Assista a íntegra da Live Secovi-SP, acessando o canal do Secovi-SP no YouTube.