“Fazer algo novo é difícil”, disse Maximiliano Carlomagno, fundador da consultoria de inovação corporativa Innoscience, que participou do painel sobre Gestão da Inovação na Convenção Secovi nesta terça-feira (27/8), na sede da entidade. Segundo ele, 70% dos projetos de inovação fracassam, pois a maioria das empresas trata o ‘novo’ como vírus e não como remédio. Mas, 90% das startups dão errado. Essa é a taxa de fracasso de quem tenta fazer o novo. “O problema não são os que dão errado, mas os que dão certo. Impactam o nosso negócio, transformam e trazem ameaças, assim como oportunidades para o ambiente de negócios. Carlomagno compartilhou sete questões úteis em uma perspectiva mais gerencial e estratégica.
O primeiro ponto é saber quais as inovações a priorizar. “As empresas que conseguem delimitar para o seu time, com clareza, o que estão buscando em termos de inovação têm mais chances de obter bons resultados”, afirmou o especialista. Segundo ele, o pior a ser dito para a equipe é “se tiver alguma ideia, nos apresenta”. O ideal é dar o direcionamento para a equipe desenvolver algo. “À medida que a gente guia a demanda e define o tipo que queremos, temos mais chances de inovar”, ensinou.
A segunda dica de Carlomagno é identificar as necessidades do cliente, que tem os insumos, os insights, para pensar a realidade. “O cliente deixa frustrações, limitações e sinais, que nem sempre são codificados por quem o atende”, destacou, dizendo que é preciso mergulhar nas frustrações manifestadas pelo clientes. “Essas frustrações são o substrato mais rico para tentar criar algo novo”, disse. Para ele, quanto mais a empresa criar o hábito de estar em contato com o usuário das suas soluções, captando e entendendo as frustrações do cliente como algo positivo para transformar produto/serviço, maior será a chance de inovar. Ter um time de primeira linha para tocar o projeto foi a terceira indicação do especialista. “Se o time não estiver dedicado, o projeto não anda.”
Tecnologias exponenciais – Carlomagno disse que, nos últimos 20 anos, houve uma evolução muito grande em termos de processamento, comunicação e armazenamento de dados. “Três transformações: os computadores processam mais rápido, a comunicação é instantânea e a capacidade de armazenamento aumenta. Tudo isso com menos custo”, afirmou, lembrando que quando fundou sua startup, em 1997, custava mil vezes mais caro que hoje. “Precisava comprar o servidor, o domínio, o software e a licença do software. Hoje a maioria dessas soluções está disponível na nuvem, e as aceleradoras e startups oferecem aos empreendedores. Isso está empoderando uma legião de pessoas a empreender. A quarta indicação do especialista é buscar o conhecimento das tecnologias que estão já estavam disponíveis: a inteligência artificial, o blockchain, a internet das coisas e o big data.
“Se você não tem o entendimento de quais são as tecnologias podem ser aplicadas com o seu time, com o foco de inovação definido, para resolver aquele problema apontado pelo seu cliente, você vai jogar o jogo ‘desinstrumentalizado’”, alertou Carlomagno. E disse mais: “Se você não tem o domínio das tecnologias que podem impactar o seu negócio, você está numa guerra com uma espada da Idade Média contra um sabre de luz. A chance de você vencer é bem pequena”, alertou o especialista, que deu a quinta dica: colaboração dos agentes externos.
Segundo ele, as tecnologias e os conhecimentos necessários para colocar o negócio de pé nem sempre estão dentro da sua empresa. Estão em fornecedores e em potenciais startups. O ambiente do mercado imobiliário nos últimos oito anos tem sido desafiador. Mas algumas empresas, mesmo neste cenário, tem tentado otimizar sua operação”, revelou Carlomagno, citando como exemplo o case Alpha Inova, que conecta startups para resolver problemas operacionais da Alphaville Urbanismo. “Há pelo menos 300 startups dedicadas ao mercado imobiliário no Brasil”, informou o especialista, destacando a importância de experimentar antes de investir. “Uma boa forma de testar coisas novas é conhecer essas soluções e testarem com seu público”, disse, referindo-se à sexta recomendação.
Por fim, a sétima e última dica de Carlomagno é saber lidar com as frustações. “Uma característica fundamental para quem quer inovar é ter a clareza de que haverá mais tempo de sombra que de luz”, sentenciou. “Fazer algo novo e incrível dentro de uma empresa dá trabalho. São meses de pancada, resistência, articulação e repetição para que possa alguns minutos de satisfação. Mover o mundo fazendo coisas provoca uma sensação indescritível”, revelou Carlomagno.“Espero que essas sete questões abordadas possam de alguma maneira instrumentá-los para lidar com o desafio de inovar de uma forma mais previsível e menos randômica, aumentando a chance de chegaram ao topo da montanha.”
Lello Lab – Antonio Couto, diretor da Lello Condomínios e coordenador do painel encerrou os trabalhos falando sobre a criação do Lello Lab, há dois anos. “Começamos a fazer algumas descobertas, como: em 62 dos 65 anos da empresa, pensávamos que o nosso cliente era o síndico, e não é. Entendemos que era necessário pensar diferente”, revelou o diretor da empresa, que administra 3 mil condomínios em São Paulo. “Temos quase 300 mil unidades e nelas residem 1 milhão pessoas, um público diverso, com quem podemos conversar. Assim, surgiu o Lello Lab, criado para entender como tornar melhor a vida dessas pessoas.”
Segundo Couto, os pilares dessa iniciativa são mapear o que não está sendo mapeado por nenhum guia ou plataforma, fortalecer a economia local, criando uma comunidade de vizinhança mais próspera, incentivar o reconhecimento entre vizinhos a partir de suas habilidades e de seus talentos e, ainda, recuperar a função de criar encontros e conexões entre as pessoas nas cidades.
“Contamos com uma equipe multidisciplinar full time para trazer soluções”, contou, informando a criação da primeira plataforma: Tesouro do Bairro. “Esse foi o primeiro passo para a derrubada de muro”, afirmou. O evento e o mapa dos Tesouros do Bairro Vila Ipojuca foram desenvolvidos após uma imersão com moradores, comerciantes e profissionais convidados da região. “Muitos dos vizinhos que nunca tinham se falado puderam se (re)conhecer em suas potencialidades individuais e celebrar o lado bom da vida em comum.”