Emilio Kallas*

“Governo federal e prefeituras podem evitar que essa indesejável tempestade aconteça”

Desde 2019, o mercado imobiliário vem apresentando ótimos resultados em termos de vendas e lançamentos de unidades residenciais. Conforme a Pesquisa Secovi-SP, o total lançado e vendido em 2020, no município de São Paulo, foi, respectivamente, 74% e 70% superior à média anual de unidades referente ao histórico dos últimos 17 anos. Nos primeiros cinco meses de 2021, o total de unidades lançadas foi 166% acima do registrado no mesmo período de 2020, e o crescimento nas vendas foi de 23,5%. Em âmbito nacional, o desempenho do setor imobiliário também se mostra positivo.

Ainda devemos destacar a grande colaboração da indústria imobiliária no combate ao desemprego. Conforme estimativas, para cada R$ 1 milhão de investimentos em obras são gerados 14 empregos diretos e oito empregos indiretos na indústria de materiais de construção, nos serviços e no comércio de materiais, totalizando 22 novas ocupações.

Então, estamos na luta para dar emprego digno aos 14 milhões que dele necessitam, número agravado pela atual pandemia. Graças a rígidos protocolos sanitários e à colaboração de operários e dirigentes da construção, as atividades do setor foram mantidas, com ótimos resultados no combate à covid-19.

Porém, estudos da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostram certa defasagem entre lançamentos e vendas de imóveis, resultante da firme disposição das famílias em adquirir residências e dos receios dos empreendedores em função de incertezas quanto ao futuro.

Revela-se a formação do que podemos definir como uma tempestade perfeita. Temos legislações urbanísticas inexplicavelmente restritivas que impedem a oferta de imóveis em regiões mais centrais, dotadas de infraestrutura. Temos, ainda, a inaceitável elevação dos custos de materiais de construção. Só o aço subiu mais de 38% até maio deste ano. Chegou a 73%, no acumulado de 12 meses!

O ‘gap’ entre comercialização e reposição é extremamente preocupante. O estoque atual de unidades se esgotaria em cerca de nove meses. Somente no primeiro trimestre deste ano, a oferta final caiu quase 15% no País.

Os atuais números exuberantes do setor não podem eclipsar um problema potencial e anunciado. Quando a oferta não acompanha a demanda, há inevitável elevação de preços. E quando os preços extrapolam o poder aquisitivo das famílias, o sonho da moradia torna-se irrealizável para a maioria da população.

Governo federal e prefeituras podem evitar que essa indesejável tempestade aconteça. O primeiro deve atuar firmemente na facilitação da importação de insumos básicos da construção e adotar alterações nos impostos sobre eles incidentes, até que o mercado interno se equalize. Os poderes municipais precisam urgentemente remover entraves que dificultam a produção de moradias a preços acessíveis a todas as camadas da população.

Este é o alerta necessário que o Secovi-SP está fazendo. É questão de ouvir e resolver.

*Vice-presidente de Incorporação e Terrenos Urbanos do Secovi-SP

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