Rapidamente, a pandemia do novo coronavírus reformulou a operação de muitas empresas, com a implantação do home office para a quase totalidade de seus colaboradores. Cinco meses depois, um número crescente de profissionais retorna gradativamente aos escritórios, seguindo os protocolos estabelecidos pelas autoridades sanitárias.
O empresário Nery Taborda da Silva, vice-presidente para as Américas da Generali, uma das maiores seguradoras do mudo, considera positivo o retorno dos colaboradores às atividades presenciais. “No primeiro momento da reabertura, convidamos os voluntários para trabalharem alguns dias da semana na empresa e outros em casa”, revela o executivo, que dirige as operações da companhia em 10 países.
“Muitas pessoas expressavam o desejo de retornar ao escritório, ansiosas para retomar a rotina, conversar e interagir com os colegas”, conta Silva, para quem essa interação é importante, principalmente pela natureza da atividade da companhia, que é a de estar com as pessoas. “Além disso, temos clientes que esperam uma visita da nossa equipe”, reforça.
Convivência necessária
“Em home office, acabamos perdendo a convivência diária, o que dificulta a troca de experiência entre as áreas e gera menor estímulo ao processo criativo”, avalia Adriano Sartori, vice-presidente de Gestão Patrimonial e Locação do Secovi-SP e da CBRE, empresa líder mundial em serviços imobiliários comerciais.
Sartori chama a atenção para a atuação dos jovens, que buscam justamente o ambiente corporativo para ‘navegar’ e conhecer as mais diversas áreas da empresa. Para ele, o home office, embora necessário no período de distanciamento social, acaba restringindo a atuação profissional. “Um dos benefícios de trabalhar em conjunto, presencialmente, é o potencial para as interações espontâneas. Isso é fundamental para os jovens profissionais”, cita.
“O escritório é o lugar onde se irradia cultura, transfere conhecimento pelo exemplo e consegue o engajamento dos funcionários”, afirma Ivo Wohnrath, CEO da Athié Wohnrath, a maior empresa de planejamento e construção de espaços corporativos do Brasil.
Modelo híbrido
Wohnrath, que acompanha os movimentos dos clientes corporativos no Brasil e no mundo, recomenda cuidado na definição de um único modelo de trabalho. “Muitas empresas, que ainda não tinham experimentado o trabalho remoto, perceberam que ele funciona e tendem ao radicalismo”, alerta, adicionando que, anos atrás, aqueles que radicalizaram sofreram grande impacto e tiveram de mudar de opinião.
“É importante encontrar o meio termo ideal entre o trabalho dentro do escritório e o home office. Isso porque, com o passar do tempo, pode haver perda de engajamento e de produtividade”, exemplifica.
Para Adriano Sartori, os custos do trabalho remoto devem ser levados em conta no modelo híbrido. “Investimentos em tecnologia, ferramentas, equipamentos e mobiliário serão necessários para que o funcionário consiga trabalhar de forma eficaz onde quer que esteja.”
Na opinião do vice-presidente do Secovi-SP, esse movimento pode alterar os fundamentos da cultura empresarial. “Se implantado de maneira incorreta, o modelo pode prejudicar a dinâmica organizacional. Por isso, é importante entender a quais áreas se aplica ou não”, destaca Sartori.
Wohnrath acredita que, depois da pandemia, deve haver um aumento no número de dias dos colaboradores em home office. Ele prevê que, dependendo da atividade e da cultura da empresa, a média, que era de um dia e meio, deve saltar para dois dias por semana. “Precisamos buscar o equilíbrio”, afirma, e recomenda cautela nesta definição.
“Estamos em um contexto de muita pressão. Para uma medida mais definitiva, os líderes da empresa, em conjunto com o departamento de Recursos Humanos, deve avaliar as atividades que podem ser executadas dentro ou fora do escritório (remotamente ou em home office).”
Taborda da Silva, da Generali, alerta para as condições em que ocorre o trabalho remoto. “Nem todos contam com espaço para ter um escritório em casa”, salientou o empresário, que considera o modelo híbrido o ideal para determinadas atividades, mas não para todas.
Ambientes acolhedores
Nos dias em que a pessoa for para a empresa, diz Wohnrath, é importante que ela encontre ambientes bacanas, disruptivos e acolhedores, que despertem a vontade de trabalhar. “Essa é a evolução do escritório”, destaca o empresário. “A pandemia acelerou o processo de transformação que já vinha ocorrendo nos escritórios há cerca de cinco anos.”
Nos últimos meses, segundo ele, a empresa tem dado suporte para a adaptação de escritórios dos clientes nessa etapa do retorno gradual, que impõe uma condição limitada por conta dos cuidados com a saúde dos colaboradores.
Wohnrath já projeta espaços corporativos com postos compartilhados e flexíveis, que permitem várias configurações: salas de reuniões para realização de encontros híbridos (presencial ou on-line); locais de convivência com acabamento mais caloroso e descolado; áreas de silêncio para ajudar na concentração e, ainda, armários inteligentes (lockers) para armazenamento de objetos pessoais. “A estética dos escritórios tem como referência o ambiente da casa.”
Adriano Sartori acredita que, pós-pandemia, os empreendedores terão um novo desafio pela frente: desenvolver projetos de edifícios corporativos com o objetivo de atrair os colaboradores. O vice-presidente do Secovi-SP ressalta ainda a importância dos ambientes externos que, segundo ele, serão mais valorizados.
Reportagem de Rosana Pinto, publicada na edição 308 da Revista Secovi-SP.