Confira artigo do diretor Regional do Secovi-SP, Thiago Ribeiro, publicado no jornal Diário da Região*, sobre o desempenho do mercado imobiliário em 2024

 

Thiago Ribeiro é diretor Regional do Secovi-SP em São José do Rio Preto

O desempenho do mercado imobiliário brasileiro surpreendeu. A previsão era encerrar 2024 com lançamentos e vendas nos mesmos patamares do ano passado em todo o País. Mas não foi o que aconteceu. Taxa de emprego formal em alta e de desocupação em queda, crédito imobiliário acessível e prestação que coube no bolso das famílias, dentre outros fatores, resultaram na combinação ideal para garantir um dos melhores anos do setor imobiliário.

Para se ter uma ideia, o montante financiado com recursos da poupança SBPE até outubro de 2024, de R$ 154,2 bilhões, superou o volume registrado nos 12 meses de 2023, de R$ 153,0 bilhões, conforme dados da Abecip.

Este aquecimento do mercado levou a Caixa Econômica Federal a frear o financiamento habitacional pelo SBPE a partir de novembro. Ao detectar o crescimento da demanda por meio de seu simulador – e diante da escassez de recursos –, a instituição anunciou novas regras para financiamento de imóveis de até R$ 1,5 milhão, atingindo com mais intensidade o acesso ao crédito imobiliário para a classe média.

Um mês depois, a Caixa lançou nova linha de crédito para aquisição de imóveis com taxas pós-fixada atrelada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário). A medida é inovadora, mas inacessível a boa parte dos compradores, devido ao elevado custo do crédito.

Por falar nisso, Secovi-SP e entidades do setor têm dialogado com interlocutores do Banco Central e do Ministério da Fazenda, entre outros órgãos, a fim de apresentar alternativas de funding para fazer frente à possível escassez de recursos da poupança – que continuará sendo importante, mas não a única fonte para financiar imóveis.

Não há como imaginar um movimento forte da poupança diante do atual patamar da Selic. A poupança vem crescendo nominalmente, e há quem acredite que deva encerrar o ano entre R$ 750 bilhões e R$ 800 bilhões.

Se não houver nenhuma mudança significativa de rumo, o ano deve fechar com R$ 300 bilhões (R$ 170 bilhões do SBPE e R$ 130 bilhões do FGTS) em financiamentos, atingindo o maior valor nominal do País. A estimativa é de um milhão de operações, sendo 600 mil com recursos do FGTS e 400 mil pelo SBPE.

A preocupação é que não haverá recursos para financiar um mercado que vem crescendo 20% no País e muito mais que isso na capital paulista. Portanto, é bem provável uma limitação no tamanho do mercado no próximo ano.

A exemplo da demanda por recursos, as empresas também cresceram, e acabam tomando dinheiro no mercado de capitais. Essas operações encarecem o financiamento à produção, mas têm assegurado a continuidade do mercado. Não fossem esses recursos, a produção já teria diminuído. Além disso, certamente, não chegaríamos ao final deste ano com financiamentos do SBPE em torno de R$ 170 bilhões.

Atingimos agora o teto do que é possível financiar com recursos da caderneta de poupança (6% + TR) e do FGTS (3% + TR). Chegamos ao limite. Ou seja, o crescimento do mercado vai ser mais caro na produção e o crédito ao empreendedor mais restrito.

Olhando para o futuro, a boa notícia é que a inadimplência não só está contida como também vem apresentando redução. Somado à alienação fiduciária como garantia, este é um indicador que proporciona aos bancos a segurança para continuar financiando o mercado imobiliário.

 

 

*Artigo publicado na edição de 11/12/2024 do jornal Diário da Região, na coluna Radar Econômico (Economia&Negócios, p.10)