Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP 

Reportagem publicada no Estadão de 15/2/2021 (“Home office deixa um em cada cinco escritórios sem inquilinos”) enseja aspectos da maior importância. Sem dúvida, e diferentemente do segmento residencial, a pandemia impactou duramente o mercado de escritórios e lajes corporativas.

O setor, que estava sobrevivendo às dificuldades econômicas, sofreu duro baque, cujo real dimensionamento impõe análise ampliada. Os grandes números desse mercado devem estar fechados a partir do final deste mês. Há muito para investigar e consolidar. Entretanto, vários são os sinais de que, tanto para as empresas como para seus colaboradores, o home office merece uma análise mais aprofundada, que mergulhe na realidade da vida corporativa nacional, a partir de casos concretos.

É o que pondera Adriano Sartori, vice-presidente de Gestão Patrimonial e Locação, para quem vale a pena analisar o ‘lado B do home office’ e os malefícios que tal modalidade têm causado à cultura das empresas e aos seus funcionários com o distanciamento social forçado. Muitas empresas estão sentindo a dificuldade de manter a equipe focada e verificam queda na produtividade.

Paralelamente, há grandes empresas que estão alugando novos espaços em plena pandemia. Quais seriam as razões de tal opção? Otimismo exagerado? Visão de futuro?

Saliente-se que o movimento de ajustes vem acontecendo desde antes da pandemia. Segundo Sartori e outros empresários e CEOs que integram a vice-presidência, estamos na curva desse processo, e é preciso clareza para traçar prognósticos. Considere-se, ainda, que na fotografia do momento, parece que o home office veio para ficar, porém a tendência de regimes híbridos é cada vez mais afirmada.

E o desejo das organizações é que o trabalho seja cada vez mais presencial, de forma a fixar a cultura corporativa. Ademais, muitos trabalhadores não aguentam mais a vida em ‘lives’, sem contato humano. Aconteceu isso no Secovi-SP, onde todos os colaboradores, no momento, estão trabalhando in loco (adotados, obviamente, todos os protocolos de segurança).

Lembro que, com o fim da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Covid-19, (IBGE, 2020), a Carta de Conjuntura n º 47 (IPEA) buscou consolidar as estatísticas sobre o trabalho remoto no país. O texto analisa a massa de rendimentos gerada por essas pessoas, o perfil e a distribuição laboral e regional desses indivíduos em trabalho remoto. Mostra que o porcentual de pessoas em trabalho remoto segue em redução no País.

Segundo o estudo, novembro manteve a tendência anterior e registou 7,3 milhões de pessoas em home office, o que representou 9,1% da população ocupada e não afastada no mês. Esses trabalhadores foram responsáveis por 17,4% da massa de rendimentos efetivamente recebida pelas pessoas ocupadas naquele mês.

Adicionalmente, o perfil das pessoas em trabalho remoto seguiu predominantemente composto por pessoas brancas, do gênero feminino, com idade entre 30 e 39 anos, na região Sudeste, com escolaridade de nível superior completo, no setor formal e na atividade de serviços.

O que esse perfil significa para o trabalho? Estamos diante do desejado cenário inclusivo ou não?

Acrescente-se que, afora os aspectos intangíveis vinculados a valores e sentimentos (disseminação da cultura da organização, noção de pertencimento etc.), o fator econômico também influenciará a quantidade de mais ou menos home office. Tudo dependerá da realidade concreta do universo corporativo, a qual poderá determinar mais ou menos locação de escritórios. E há outros fatores a influenciar esse segmento de mercado. Quanto mais rapidamente a população for vacinada, mais rapidamente a economia será retomada.

Espera-se, com isso, forte onda de contratações de pessoas para trabalharem nas empresas, não só para as empresas.

Certos hábitos, como distanciamento, estão sendo incorporados pelas pessoas, o que poderá demandar escritórios ainda maiores, com estações de trabalho instaladas a distâncias seguras. Isso é decisivo para a produtividade, a qual também depende da interatividade.

Em um momento em que, como nunca, precisamos do engajamento de todos para tornar o Brasil mais produtivo e, assim, trilhar o tão necessário caminho do crescimento sustentado, essa reflexão é mais que necessária.
 
Basilio Jafet
Presidente do Secovi-SP