É necessário planejar cidades mais sustentáveis e com abordagens econômicas e sociais mais eficientes

Artigo FSP CB

O urbanismo como ciência aplicada está sempre se desenvolvendo, com o objetivo de criar e aprimorar os ambientes construídos, a operação e o funcionamento das cidades. À medida que os núcleos urbanos se expandem e se transformam, os problemas enfrentados pelos planejadores se tornam mais complexos, e fica mais evidente a necessidade de encontrar alternativas que possam lidar com esses novos desafios de forma eficiente.

A transversalização dos padrões que tratam de questões relacionadas à diversidade, equidade e inclusão deixa de ser um objetivo estratégico de médio prazo para se transformar em necessidade de ações imediatas, que merecem maior atenção e visibilidade em nossas cidades.

Nas grandes metrópoles, deve se consolidar a tendência da utilização de modelos que incentivem a estruturação de centralidades. O estímulo à descentralização do espaço urbano, com foco na geração de dinâmicas para convivência social de forma mais ampla, pode ajudar as cidades caminharem nessa direção.

Outra orientação importante é a indução de melhorias que fomentem a vida e a socialização ao ar livre, com centros urbanos bem estruturados para pedestres, seguindo princípios de desenho universal, incentivando todos a interagir e aproveitar o espaço público de forma equânime.

À medida que a tecnologia se desenvolve, o metaverso avança. Nos últimos anos, os planejadores urbanos começaram a produzir os chamados gêmeos digitais – representações virtuais de suas cidades – para testar novos modelos de desenvolvimento. O metaverso adiciona uma ambiência digital ao mundo físico em que vivemos hoje, que certamente não será substituído pelo mundo virtual, mas, de alguma forma, esse modelo poderá ajudar a reduzir a necessidade de determinados espaços físicos. As pessoas poderão optar por utilizar o metaverso para adquirir produtos, resolver questões em órgãos públicos, trabalhar ou realizar atividades de lazer nesse universo, entre outras tantas possibilidades. Como resultado desse novo comportamento, poderá ser alterada profundamente a forma como usamos nosso espaço no mundo físico, e essa tendência seguramente afetará o urbanismo.

Outra tendência urbana importante é o esforço para desvincular do desenvolvimento urbano o consumo de recursos naturais, estimulando a construção de cidades metabólicas, estruturadas sobre uma economia circular. As cidades modernas consomem três quartos dos recursos mundiais e, geralmente, seguem o modo de mão única, com uma entrada de recursos e uma saída de resíduos. O lixo doméstico continua aumentando, enquanto recursos preciosos como energia, matérias-primas e água são utilizados de forma ineficiente, o que leva as cidades a serem cercadas por lixo, poluição ambiental, esgotamento de recursos, degradação do solo, aumento dos preços das commodities e danos ao ecossistema.

Nas próximas décadas, será necessário dissociar o desenvolvimento e a prosperidade da economia urbana, do consumo crescente de recursos. Ao redesenhar a infraestrutura urbana, desenvolver a economia circular e implementar o consumo e a produção sustentáveis, poderemos fazer com que os recursos fluam em um circuito fechado dentro da cidade ou entre a cidade e o campo, com reciclagem de materiais e energia.

Enquanto isso, devemos fortalecer o planejamento espacial sustentável do uso do solo, promover o adensamento urbano associado ao policentrismo, a contiguidade e a caminhabilidade, conter a expansão urbana e criar cidades ecologicamente corretas.

A evolução do urbanismo é, sem dúvida, o caminho fundamental para melhorar a saúde da população, a segurança urbana e sua resiliência, aliviar conflitos e alcançar a harmonia entre o homem e a natureza, construindo dessa forma cidades mais sustentáveis e com abordagens econômicas e sociais mais eficientes.

Claudio Bernardes é engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP.
Artigo publicado na Folha Online em 26 de Julho de 2024.