Uma pesquisa feita com 360 pessoas de todas as regiões do País captou qual o nível de consciência dos consumidores a respeito do mercado de self storage. A atividade consiste na locação de espaços para auto guarda dos mais diversos tipos de bens, como móveis, documentos e mercadorias. Segundo dados da pesquisa da Brain Consultoria, em parceria da Asbrass (Associação Brasileira de Self Storage), 80% dos consumidores brasileiros não conhecem a atividade de self storage. A divulgação da pesquisa foi feita nesta terça-feira, 5/11, no primeiro dia da 6ª edição do Brasil Expo Self Storage, organizado pela Asbrass (Associação Brasileira de Self Storage) e pelo Secovi-SP.
Marcos Kahtalian, sócio da Brain Consultoria, informou que 19% já tiveram alguma ciência sobre o assunto e 1% afirmam conhecer bem do que se trata. No Sudeste, o percentual de pessoas que afirmam conhecer a atividade é acima da média – 27%. Depois de informados do que se trata o self storage, 81% dos entrevistados disseram achar o conceito ótimo ou bom, e 71% manifestaram interesse de ver utilidade nesse segmento. “E 60% das pessoas afirmaram que usariam o self storage para fins pessoais”, adicionou o especialista. O levantamento também mapeou 322 operações no Brasil, que respondem por uma área bruta locável de 666 mil metros quadrados. A vacância total era de 32%.
No evento, foram apresentados ainda os números mais recentes do mercado imobiliário na cidade de São Paulo, com base na Pesquisa Secovi. “Até o ano de 2013, as classes média, média alta e alta eram as grandes compradoras de imóveis aqui, na cidade. O novo Plano Diretor acabou incentivando a produção de moradias mais acessíveis. Hoje, as unidades econômicas correspondem a 44% dos lançamentos”, disse Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP.
O economista comentou o impacto da baixa da Selic no setor. Como exemplo, citou famílias de classe média que deixam de auferir ganhos significativos na renda fixa e começa a ver o ativo imobiliário como investimento mais importante. Outra medida com reflexo positivo para o mercado foi a regulamentação dos financiamentos imobiliários tendo índice de preços como indexador – o que deve baratear o custo do dinheiro tomado por adquirentes.
Transformações – “O mundo está passando por grandes e rápidas transformações e, no Brasil, as mudanças são mais acentuadas”, afirmou Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP, que destacou a recuperação da economia e do setor imobiliário. “Normalmente, produzimos e vendemos cerca de 32 mil unidades habitacionais. Este ano, devemos fechar com cerca de 45 mil unidades. Será o melhor resultado do século”, afirmou Jafet, acrescentando que, deste total a ser vendido, mais da metade são imóveis compactos. “Precisamos de espaço para guardar as nossas coisas”, comentou Jafet, para quem o segmento tem tudo para prosperar nos próximos anos.
“O segmento tem dado sinais de vitalidade em algumas praças, com previsão de expansão de algumas cadeias existentes e, principalmente, retorno aos níveis de interesse do setor“, confirmou Rafael Cohen, presidente da Asbrass, que revelou que a entidade, em parceria com a Brain Consultoria, vai lançar um curso online sobre os principais aspectos do self storage destinado àqueles que desejam ingressar nesta área. “Parte da renda deste curso será destinada ao desenvolvimento de novos módulos, para que estejamos aprimorando sempre a nossa atividade”, salientou Cohen.
Homenagem – Para Rolando Mifano, vice-presidente de Gestão Patrimonial e Locação do Secovi-SP, o self storage confirma-se dia a dia como interessante alternativa de empreendimento e de investimento imobiliário. “Tem sido a saída para muitas pessoas que não querem se desfazer de seus móveis, utensílios e outros objetos e pertences”, reiterou Mifano, que recebeu com surpresa uma homenagem da Asbrass.
“Este ano, o homenageado foi escolhido pela diretoria da Asbrass em reconhecimento ao seu apoio, de forma discreta, mas muito consistente, que nos possibilitou grandes avanços. Certamente, ele será sempre lembrado como um grande parceiro do nosso segmento”, disse Cohen, referindo-se a Rolando, que recebeu o Troféu Personalidade do Ano de Self Storage das mãos do empresário Sérgio Oliveira. Cohen informou que, anualmente, o troféu será entregue àqueles que contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento e consolidação deste modelo de locação.
Apoio legislativo – O deputado federal Paulo Ganime (Partido Novo) participou do painel “Como incentivar atividades inovadoras” e traçou um panorama das mudanças ocorridas no País desde 1930, passando pelo período militar e Constituição de 1988, até os dias de hoje. “A nossa Constituição é muito protecionista e idealista, pois até hoje não conseguimos cumprir com o que está previsto”, destacou Ganime, lembrando das recentes reformas implementadas, como a Trabalhista, a da Previdência e a Tributária, ainda em tramitação.
Ganime citou dados do ranking do Doing Business, que mede a facilidade para fazer negócios, do Banco Mundial, em que o Brasil ocupa a 124ª posição. “Apesar do ambiente pouco propício à inovação, o brasileiro é empreendedor. Fazer negócios é também criar soluções novas para o mercado. E o self storage, embora já exista lá fora, no Brasil é uma atividade inovadora no Brasil”, afirmou, que chamou a atenção para a questão da legislação, que coloca em risco essa atividade, principalmente, do ponto de vista fiscal.
O deputado distrital João Camargo (Avante) colocou o seu mandato à disposição do segmento. “Precisamos conseguir apoio para atividades inovadoras, como o self storage, que geram emprego, e melhorar a legislação”, afirmou Camargo, que também defendeu uma maior divulgação. Em Brasília, por exemplo, tem 13 unidades de self storage, e eu não sabia. Ainda é uma atividade pouco divulgada no Brasil.”
Particularidades contratuais – O professor Sylvio Capanema, desembargador aposentado, apresentou as particularidades do contrato de self storage. “É um contrato de locação, ainda que tenha cláusulas atípicas”, afirmou Capanema, acrescentando que essa discussão acerca do aspecto jurídico do contrato também ocorreu com o shopping centers, concluindo-se, segundo ele, pelo contrato de locação entre o empreendedor (locador) e os lojistas (locatários).
“O contrato de locação é o documento em que o locador transfere ao locatário a posse de um coisa não fungível (móvel ou imóvel), por um certo tempo, e mediante a uma remuneração, que chamamos comumente de aluguel”, explicou. Capanema adicionou que não se transfere na locação a propriedade da coisa, como ocorre na compra e venda, doação ou permuta. “Na locação, o que se transfere é a posse. O locador é o possuidor indireto. Daí, emerge a obrigação de dar, assumida pelo locador. O primeiro dever do locador é a entrega do bem locado, essencial para a transferência da posse”.
Capanema alerta para não se confundir o contrato de locação com o de prestação de serviços. “Na locação não há, portanto, serviço prestado do locador ao locatário. Se o locador prestar serviço ao locatário, mesmo que de forma eventual, o contrato deixa de ser de locação e converte-se em contrato de hospedagem”, afirmou. Os contratos de self storage devem ser regidos pela Lei do Inquilinato e não pelo Código Civil.
“Não tenho dúvidas: no self storage não há prestação de serviço”, reiterou o desembargador, mencionando que o Superior Tribunal de Justiça já estabeleceu que não existe relação de consumo entre locador e locatário. “Isso é importantíssimo para o mercado, porque a posse que é transferida ao locatário do self storage não é produto e não há prestação de serviços. Isso afasta o contrato de locação do Código de Defesa do Consumidor”, afirmou, adicionando que poderia haver relação de consumo entre o locador e a administradora de bens que, eventualmente, for contratada.
Usuário – O evento contou com exposição de duas empresas usuárias do modelo de locação de auto guarda. Paulo Manzatto, gerente de Suply Chain da Souza Cruz, mostrou como a companhia se utiliza de unidades de self storage no Rio de Janeiro para dar agilidade às suas entregas. Dos cinco centros de distribuição, quatro são de auto guarda.
Segundo Manzatto, antes, a Souza Cruz tinha apenas o centro de distribuição em Duque de Caxias. Contudo, diante das demandas de atender com mais rapidez as redes de varejo, a empresa locou espaços em pontos diferentes da capital fluminense, tendo como critério a proximidade com os centros consumidores. Esses centros passaram a abastecer transportadores multimodais. Ao longo do dia, motocicletas e bicicletas passam nas unidades de self storage para se abastecer e distribuir as mercadorias na rede de varejo – o que reduziu o tempo de entrega dos produtos.
Outra empresa usuária da locação para auto guarda que falou no evento foi a Numenu, startup que oferece produtos de conveniência (de preservativos até a snacks) a serem vendidos em automóveis de aplicativos (99, Uber e Cabify). Sebastian Luca, CEO e fundador da Numenu, contou que encontrou no self storage as soluções para todas as dores que sua startup enfrentou. Espaço para armazenar as mercadorias, flexibilidade no modelo de locação, preços acessíveis e até mesmo a possibilidade de montar uma miniestação de trabalho dentro do box foram alguns dos pontos fortes citados pelo empresário.
O negócio cresceu de tal maneira que, de um espaço de 2 metros quadrados, passou a ocupar 35 metros quadrados. “Como nossa operação está ainda maior, teremos de sair de lá. Mas o self storage foi fundamental para esse começo da Numenu”, emendou Luca.
O evento prossegue nesta quarta-feira, (6/11), com painéis sobre funding e formas de agregar valor ao segmento (relações públicas e marketing digital), além de fórum de operadores. Uma exposição de produtos e serviços para o segmento completa a programação do Brasil Expo Self Storage.
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