Mauro Pincherle, diretor do Secovi-SP

“A descomunal demanda por habitações econômica sempre respondeu e continuará a responder pela maior fatia do mercado imobiliário”

O comportamento e as necessidades das pessoas vêm mudando substancialmente. Nas formas de morar, fixa-se a tendência por imóveis compactos em prédios com áreas comuns de uso compartilhado.

Ao mesmo tempo, a redução do poder aquisitivo, aliada à queda da oferta de emprego, ampliou ainda mais a demanda por imóveis econômicos e gerou a necessidade de adaptação pelos municípios e pelas corporações que atendem a esse imenso mercado.

Nos últimos anos, empresas promoveram importantes ajustes em seus produtos. As metragens dos apartamentos destinados às classes econômicas sofreram significativas reduções. Hoje, na cidade de São Paulo, os apartamentos de um dormitório dificilmente ultrapassam 28 m² e os de dois dormitórios têm 35 m² em média.

Os prédios passaram a ter identidade própria, deixando aquela arquitetura que estigmatizava os empreendimentos populares. A sofisticação chegou aos projetos. Piscinas, bicicletários, salão de festas com cozinha gourmet, espaços fitness, brinquedoteca, petplace etc. ingressaram no menu da moradia econômica.

O desenvolvimento das Habitações de Interesse Social e de Mercado Popular foi amparado pelo Plano Diretor de 2014 e pela posterior Lei de Zoneamento de São Paulo. Foi permitido maior adensamento, em pagamento de outorga onerosa, e liberada a necessidade de vagas de garagem. O número de ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) aumentou; as aprovações de empreendimentos com essa finalidade foram aceleradas; foram autorizadas metragens menores nos apartamentos, deixando que o mercado regulasse essa necessidade, respeitando parâmetros legais de habitabilidade.

O reflexo disto pode ser medido em números. Estima-se que, em 2015, o segmento econômico respondia por 10% dos lançamentos de unidades em São Paulo. A partir de 2016, quando esse segmento começou a ser mensurado pelo Secovi- SP, registrou-se grande salto do percentual de unidades econômicas sobre o total de lançamentos: de 18,5%, em 2016, para 49%, em 2020. Em número de unidades, o aumento foi de mais de 700% na oferta de unidades para famílias com renda entre 2,5 e 6 salários mínimos.

Entretanto, o mesmo não aconteceu nos outros municípios da Região Metropolitana de São Paulo, onde, nos últimos anos, o percentual de lançamentos caiu substancialmente, conforme mostra a tabela.

Sendo assim, se estes municípios não acompanharem as mudanças de legislação, como aconteceu na Capital, ficarão para trás, deixando de atender à descomunal demanda por habitações econômicas, a qual sempre respondeu e continuará a responder por um bom tempo pela maior fatia do mercado imobiliário.


“O projeto ideal não existe, a cada projeto existe a oportunidade de realizar uma aproximação”
– Paulo Mendes da Rocha. A homenagem do Secovi-SP ao grande arquiteto e urbanista. Ao lado de Oscar Niemeyer, único brasileiro a conquistar o Prêmio Pritzker (equivalente ao Nobel da área). Mais que legado de extraordinárias obras, permanece como inspiração.

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