Mesmo em tempo de pandemia, o setor imobiliário vem apresentando excelente desempenho.
O 1º semestre deste ano teve o melhor resultado já registrado desde 2004, quando teve início a série histórica da Pesquisa Secovi do Mercado Imobiliário, referente à cidade de São Paulo. De janeiro a junho, os lançamentos totalizaram 27 mil unidades, superando o recorde anterior do primeiro semestre de 2019 (20 mil unidades). A comercialização teve resultado ainda melhor, com quase 30 mil unidades vendidas no período (no primeiro trimestre de 2019, foram negociadas cerca de 19 mil).
Os números ficam mais significativos se considerarmos a média histórica dos registros dos primeiros semestres de 2004 a 2020, período em que a média de lançamentos ficou em 12 mil unidades e a de vendas chegou a aproximadamente 13 mil unidades.
Vários fatores contribuíram para esses números. O programa Minha Casa, Minha Vida (hoje Casa Verde Amarela) incluiu milhões de famílias no acesso à moradia. Hoje, esse segmento representa mais de 50% da produção imobiliária residencial.
Juros baixos e oferta de crédito também foram decisivos para esse desempenho. E a pandemia, que colocou o ter onde morar como prioridade, impulsionou ainda mais o setor. As famílias mudaram comportamentos. A economia com bens de consumo, viagens e passeios, por exemplo, gerou reservas orçamentárias. Enfim, uma convergências de fatores, positivos e negativos, que culminou em recorde.
Se considerarmos o tamanho do déficit habitacional brasileiro (aproximadamente 6 milhões de moradias, conforme a Fundação João Pinheiro), precisaríamos de uma constelação de recordes sucessivos.
Entretanto, talvez isso não aconteça. Se de um lado, e graças ao avanço da vacinação, detectamos a retomada de diversos outros segmentos produtivos – o que significa mais emprego, mais renda e, consequentemente, mais potenciais compradores de imóveis -, por outro temos algumas nuvens bem escuras no horizonte.
A inflação ganha força. Consequentemente, a taxa básica de juros (Selic) também. Dois componentes que reduzem a capacidade financeira das pessoas. Outro agravante é o preço de insumos básicos da construção (aço, por exemplo). Muitas têm sido as tratativas com representantes do governo federal em busca de melhores condições para importação de materiais, o que aumentará a oferta e permitirá preços mais competitivos. Porém, aumentos já ocorridos, que elevam a matriz de custos dos empreendimentos, ainda não foram completamente repassados para o preço final dos imóveis, o que será inevitável caso não sejam resolvidos os gargalos.
Por fim, temos um conturbado ambiente político, até mesmo eclipsando a reação econômica, permeado pelo andamento de uma reforma tributária que pode não surtir o efeito esperado. Até porque está acontecendo antes da reforma administrativa e o consequente ajuste fiscal.
O conjunto desses fatores poderá ameaçar especialmente a oferta de imóveis econômicos, voltado a famílias com renda mensal de até seis salários mínimos. Afastar esse risco é compromisso coletivo da sociedade.
Assim como é coletiva a responsabilidade de acompanhar o cenário político. Não podemos permitir que, mais uma vez, disputas nada cívicas comprometam o reerguimento de nossa economia. Já sofremos muito com a pandemia. É hora de subir à tona e respirar. É hora de exigir das políticas e dos políticos que olhem os brasileiros e reconheçam que todos, indistintamente, merecem respeito.
*Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário