“Devemos caminhar para um modelo de desenvolvimento que estimule a cidade compacta, onde o uso misto seja incentivado”, diz o vice-presidente Claudio Bernardes, em artigo publicado na Folha Online 

A cidade de São Paulo, dentre suas tantas características, tem duas que valem a pena ressaltar: é extremamente complexa em seu funcionamento e operação, e possui uma vitalidade econômica absolutamente relevante. Se a região metropolitana de São Paulo estivesse na Europa, estaria classificada como a região com a segunda maior economia, com um PIB que perde apenas para a região metropolitana de Paris.

Dentro desse contexto, vamos às urnas para definir o prefeito da cidade para os próximos quatro anos. Os problemas são muitos e as necessidades imensas. Mas um governante deve elaborar planos com base em prioridades e, cuidadosamente, planejar sua implementação. Impossível reestruturar de forma profunda os modelos de desenvolvimento da cidade, sem uma visão global de planejamento, e sem uma abordagem urbanística sustentável, econômica e socialmente equilibrada.

Para termos uma cidade realmente inclusiva, precisamos permitir que cada vez mais pessoas desfrutem a cidade e sua infraestrutura. Devemos caminhar para um modelo de desenvolvimento que estimule a cidade compacta, onde o uso misto seja incentivado.

É fundamental requalificar e manter os espaços públicos, criando novas praças (pulmões verdes), que possibilitem e estimulem a convivência social, a partir de um detalhado mapeamento da carência de espaços verdes e de convivência, em cada região da cidade.

Não menos importante, seria melhorar a utilização das viascomo espaços públicos, principalmente redesenhando e aprimorando o pavimento das calçadas, em especial ao redor das estações de transporte de alta e média capacidade, criando uma identidade do passeio público.

A responsabilidade do contribuinte pela execução e manutenção da calçada deve ser revista em determinados locais da cidade. Além disso, a cidade não será inclusiva se não for garantida ampla oferta de conexão digital gratuita no transporte coletivo e nos espaços e instituições públicas.

A mobilidadedeve ser uma das prioridades do governo municipal. As redes de transporte de massa, fundamentais nesse processo, devem ser privilegiadas. Uma rede de transporte público eficiente, abrangente e confortável será a melhor forma de desestimular o uso do automóvel.

Os sistemas de corredores de ônibus precisam sofrer reestruturação completa para que funcionem, efetivamente, como “linhas de metrô sobre pneus”, eliminando a ociosidade em determinados horários, além de integrar e otimizar toda a rede. Linhas de micro-ônibus podem fazer as conexões entre os terminais e o “miolo” dos bairros, garantindo a necessária capilaridade do sistema.

Já as ciclovias devem ser replanejadas para que funcionem como modal complementar no processo de mobilidade urbana, oferecendo maior abrangência e segurança aos ciclistas. Assim, sua conexão com estações de transporte de massa e bicicletários, adequadamente dimensionados, são fundamentais para a operação do sistema.

Precisamos de uma cidade inovadora, que implante um laboratório capaz de avaliar, testar e desenvolver soluções urbanísticas. Um laboratório, onde seja possível aferir desde questões comportamentais, até a tecnologia aplicada a assuntos da cidade (mobilidade, segurança, meio ambiente, governança etc).

Um laboratório que permita criar um banco de dados e indicadores que possam ser utilizados para orientar o gerenciamento da cidade, contemplando aspectos como tendências de evolução populacional regional, disparidade de renda, desemprego, saúde, educação, produtividade urbana, tecnologia e conectividade, habitação, serviços municipais, uso do solo, transporte, atividades culturais, governança e finanças municipais.

Claudio Bernardes é engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP.
Artigo publicado na Folha Online em 27 de setembro de 2024.