Em coluna publicada neste Estadão (“O que não será como antes”, 2/4), Celso Ming fez uma série de reflexões sobre comportamentos econômicos e sociais que devem ser acelerados por causa da atual pandemia do novo coronavírus. Desde o rareamento do uso do dinheiro físico, passando pelo incremento das compras on-line e chegando aos modelos de teletrabalho, o colunista analisa como cada uma dessas áreas pode, no pós-crise, continuar em franco progresso.
Trazendo essa discussão para o mercado imobiliário, em especial na área de intermediação de compra, venda e locação de imóveis, tínhamos consenso firmado de que 2020 seria, inevitavelmente, o ano da transformação digital das imobiliárias.
Infelizmente (pelo custo humanitário dessa crise), esse processo teve de tomar celeridade imediata. Felizmente (pela capacidade das empresas de atenderem a essa necessidade), temos visto iniciativas de sucesso.
Um dos pontos que mais pesou em nosso segmento foi a necessidade de isolamento social. Nosso cliente, em linhas gerais, gosta do contato físico – afinal, estamos falando do bem de maior valor agregado que alguém está comprando, vendendo ou alugando. Some-se a isso o fato de que muitos corretores têm enfrentado resistência por parte de condomínios que, visando a preservar a saúde de seus moradores e funcionários, restringiram entrada de terceiros em suas dependências. Diante disso, como mostrar um apartamento à venda ou para locação?
O desafio foi posto às imobiliárias: continuar atendendo esse cliente, mesmo com limitações. Habitação é necessidade básica. Com ou sem coronavírus, as pessoas precisam morar e trabalhar em algum lugar.
Estamos vendo empresas adotarem soluções que já eram acessíveis, mas pouco utilizadas. É o caso, por exemplo, das visitas virtuais a imóveis. Com tecnologia que permite filmar as unidades em 360º, vemos corretores ensinando os proprietários a filmar suas residências, produzindo um videodemonstração de qualidade. Com hora marcada, o interessado na compra ou locação acessa, em tempo real, o material. Tudo intermediado por um corretor.
Outra solução adotada pelas empresas é a assinatura digital de contratos, reconhecida inclusive por cartórios. Esse procedimento agiliza o fechamento de negócios. Em especial, o de locação, operação em que frequentemente atendemos inquilinos com urgência de conseguir um espaço para morar e trabalhar.
Temos, na Rede Imobiliária Secovi, exemplo de empresas que, hoje, trabalham em duas vertentes simultaneamente. Um lado o atende cliente de forma 100% digital; o outro, da maneira tradicional. Um fato surpreendente é que o braço digital, mesmo tendo cinco vezes menos imóveis que a carteira tradicional, chega a fechar 80% mais locações.
O momento de revisar processos em nossas empresas é agora. Esta é a hora de identificar o que é possível migrar para o digital e traçar estratégias empresariais para viabilizar isso. Cumpre registrar que informação de qualidade é o ativo mais valioso. E nossas entidades de classe, nossos corretores e nossas imobiliárias ganham ainda mais relevância, pois somos nós os agentes de interlocução entre esse conhecimento e grande parte da sociedade.
Esta crise, assim como todas as outras, vai passar. Sairemos dela mais fortes, mais criativos e mais preparados para continuar surpreendendo positivamente nossos clientes.
*Claudio Hermolin é vice-presidente de Intermediação Imobiliária e Marketing do Secovi-SP
22 de abril de 2020