Os lançamentos e as vendas de unidades novas na cidade de São Paulo apresentaram resultados negativos no primeiro semestre deste ano, e o estoque da Capital está em 21 mil imóveis. Apesar dos resultados negativos, o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, afirmou durante o painel da Convenção Secovi Mercado imobiliário: como está 2014 e tendências para 2015 desta terça-feira (28/8), que o sindicato mantém a expectativa de recuperação do setor nos próximos seis meses do ano. “Fomos surpreendidos com essa queda, porque as condições econômicas do País são as mesmas de 2013, ano em que o mercado apresentou resultados satisfatórios”, disse.
Conforme Petrucci, o baixo nível de confiança e do crescimento econômico, as prestações descoladas da renda do comprador, a expectativa de queda de preços por parte do público consumidor e o ajuste dos produtos ao mercado explicam em parte os resultados negativos do setor. Apesar do panorama, o economista-chefe do Sindicato não demonstrou pessimismo e elogiou uma das medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no último dia 20: a concentração do ônus na matrícula do imóvel. “Ela é saudável e há tempos pedimos essa mudança ao governo. Porém, continuamos aguardando as publicações da Medida Provisória e da Resolução do Conselho Monetário Nacional regulamentando o pacote financeiro.”
O professor Antônio Delfim Netto foi o destaque do painel. Um público de mais de 200 pessoas acompanharam a ‘aula’ de economia do ex-ministro, que fez uma análise da situação macroeconômica do País, até chegar à analise particular do setor da construção civil.
Conforme números apresentados por Delfim Netto, a flutuação do mercado imobiliário acompanha o sobe e desce do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Ele disse que, numa certa medida, o crescimento é um estado de espírito. “O empresário investe por intuição. E o estado de espírito de hoje é precário e só vai ser superado com mudanças na política econômica vigente”, disse o professor, para quem o problema do aumento do estoque do setor imobiliário está ligado à capacidade de produção acima da capacidade de compra pela demanda. “Seja lá quem for eleito [presidente da República], terá de rever a demanda e a oferta dos segmentos que receberam subsídios.”
Delfim Netto criticou a falta de investimento do governo na indústria, cujo crescimento é praticamente nulo, o aumento no volume das importações de produtos da China, do déficit de contas correntes e a política econômica estar apoiada na flutuação cambial. “É necessário pensar 25 anos à frente. Em 2040, haverá uma queda de 25% na natalidade, um aumento de 9% da população com idade de ingressar no mercado de trabalho e de 150% de pessoas com mais de 60 anos. O crescimento tem de ser organizado com a força de trabalho, com aumento da produtividade do trabalhador. Combinar aumento de investimento com educação. Combinar tecnologia e capital sofisticado com cidadãos mais preparados para usar as novas tecnologias. Essas são as alternativas”, anunciou.
O economista concluiu sua palestra dizendo que o setor da construção civil depende do crescimento do Brasil. No entanto, para crescer, o País precisa recuperar o nível de investimento interno, aliando capital com educação para os trabalhadores, e ampliar o volume de exportações. “A redução da desigualdade só acontece pela educação.”