Para orientar as empresas do setor imobiliário sobre as boas práticas da gestão corporativa e os riscos da Lei Anticorrupção, o Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo) realizou seminário no dia 23/10, em sua sede. Na ocasião, foram apresentados os resultados de pesquisa Gestão Orçamentária na Construção Civil, feita pela Deloitte, com apoio do Sindicato e do SindusCon-SP. Além do estudo, foram debatidas as práticas de redução dos custos; as responsabilidades da Lei 12.846/2013 – Anticorrupção; e case da PDG, que já implantou mecanismos para atender às regras da nova Lei. 

O vice-presidente de Gestão do Secovi-SP, Guilherme De Lucca, ressaltou a importância da realização desse tipo de evento no momento atual do setor e do Brasil. Para ele, em um país onde as empresas são pressionadas por elevações constantes de despesas operacionais, alta carga tributária e regulamentações que impõem mais obrigações, os empresários precisam estar absolutamente atentos à estrutura de custos e conhecer o alcance da Lei Anticorrupção e sua aplicação. “É importante para minimizar problemas que podem ser irreversíveis”, alertou o dirigente. 

Além do caráter preventivo, na opinião de De Lucca, o evento serviu para as empresas medirem o nível de profissionalização de suas equipes, e reforçar a importância de uma boa gestão, diante de um alto nível de competição setorial. “Ao otimizar os recursos disponíveis, com investimentos em capacitação e tecnologia, as empresas podem aumentar sua margem de lucro ou reduzir o preço final do produto imobiliário, aumentando sua competitividade”, opinou. 

Resultados – Marie Rodrigues, diretora da área de Strategy and Operations na Deloitte em São Paulo, explicou a metodologia da pesquisa realizada com 71 empresas, no período de 10 de março a 18 de abril deste ano. De acordo com o estudo, 79% do universo pesquisado são de companhias com controle familiar, e as empresas de capital aberto faturam, anualmente, mais de R$ 500 milhões. A taxa de crescimento médio da receita líquida, por sua vez, foi de 8,7%; já o crescimento médio do lucro líquido ficou em 9,7%. Das 24 empresas listadas na Bolsa, apenas 12 superaram esses índices médios, com 12,4% de crescimento de receita líquida, e 12,6% de lucro líquido. 

Salários, fretes e matérias primas importadas são os itens que mais sofreram elevações de custos nas empresas. A grande maioria das companhias pesquisadas está revisando seus processos internos e produtivos, e investindo em treinamento e redução dos custos de produção. Refinanciamento de dívidas e redução das verbas para os departamentos de Marketing e Vendas também apareceram como práticas adotadas por boa parte das empresas no processo de enxugamento de custos. 

Aumento da rentabilidade foi a meta financeira prioritária para 59% das empresas consultadas, e 4% escolheram a redução de prejuízos. Este ano foi considerado de baixo crescimento e para 21% da amostragem, que acredita que 2015 será pior. 

“O nível de crescimento das empresas com capital inferior a R$ 100 milhões é menor e parte significativa das companhias do mercado imobiliário adota métodos não sustentáveis para redução de custos”, conclui Marie. 

Redução de custos – “Em um cenário de baixo crescimento da economia interna, as empresas estão preocupadas com a eficiência operacional”, disse Fernando Lopes, gerente sênior da área de Strategy and Operations na Deloitte em São Paulo. Porém, alguns fatores da conjuntura econômica global, como a recuperação modesta, mas impactante, dos Estados Unidos, a baixa taxa de desemprego no Brasil e a ascensão da classe C diminuem o clima de pessimismo dos empresários, mesmo em uma realidade de acentuada desaceleração, com queda brusca no volume de lançamentos nas cinco grandes capitais do País. 

Este diagnóstico tem impulsionado as empresas imobiliárias a organizar seus custos, a fim de manter a competitividade e a eficiência operacional. Para ele, as prioridades na criação de um bom programa de redução de custos são liquidez, retenção de talentos, tanto de pessoas quanto de tecnologias, e acompanhamento dos índices de crescimento. Ainda, para justificar o seu desenvolvimento, as empresas devem perceber se estão em perigo e precisam economizar para reestruturar suas dívidas; e se vão se posicionar para o crescimento ou para manter constante o que já existe. 

De acordo com o gerente da Deloitte, há duas formas de estruturar um programa de redução de custos: aperfeiçoando os processos existentes ou desconstruindo e criando um novo processo. “A primeira opção é mais demorada, porém, sustentável. Na segunda, por sua vez, a recuperação é mais rápida, mas os gastos são maiores. Na verdade, o importante é os dirigentes da empresa definirem onde querem chegar e projetar as mudanças para os próximos cinco anos, no mínimo. E lembrar que o melhor modelo é aquele que se aplica à realidade da empresa”, orientou Lopes. 

Anticorrupção – Em vigor desde 29 de janeiro deste ano, a Lei 12.846/2013 – Anticorrupção, até o momento, não foi aplicada. De acordo com Fernando Lopes, da Deloitte, há três tipos de fraudes: desvios de recursos e ativos da empresa; manipulação de números financeiros e contábeis; e corrupção. “Como o mercado imobiliário interage do início ao fim com órgãos governamentais, fica mais suscetível a atos de corrupção, como suborno, extorsão, pagamento facilitador, lavagem de dinheiro, brindes, entretenimento e hospitalidade”, enumerou. 

Além da multa de até 20% do faturamento bruto, as empresas condenadas por corrupção são incluídas no Cinep (Cadastro Nacional das Empresas Punidas), ficam proibidas de receber incentivos, subsídios e empréstimos, perdem os bens, direitos e valores provenientes da infração, ficam obrigadas a reparar integralmente os danos causados e, por fim, têm a dissolução compulsória da empresa. 

Estudo de caso – Antes mesmo de a Lei Anticorrupção ser aprovada e sancionada, a PDG desenvolveu um sério programa de compliance, conduzido por seu departamento de Riscos e Controles.

Inicialmente, a PDG fez um mapeamento de suas interfaces com o poder público (processos por áreas); definiu as áreas e as pessoas com mais riscos de exposição à corrupção para serem treinadas; elaborou e divulgou o documento Política e Regulamento Anticorrupção da PDG, em linguagem familiar; reviu e ajustou à Lei os Termos de Compromisso e Transparência da PDG, com divulgação a todos os colaboradores da empresa e, inclusive, seus familiares; e incluiu cláusula anticorrupção em todos os contratos da empresa com fornecedores.

Suzete Pizio, gestora de Riscos e Controles da PDG, explicou que fizeram treinamento presencial (quatro turmas em São Paulo e uma turma no Rio de Janeiro), com avaliação de conhecimento e esclarecimento de dúvidas. “Foram treinados 92 colaboradores, com 96% de índice de aprovação. É preciso registrar esses treinamentos, com comprovação do conhecimento”, disse.

Agora, esses colaboradores têm até dezembro de 2014 para multiplicarem os conhecimentos junto às suas equipes, com uso de vídeo. “Atualmente, o programa de compliance da PDG tem auditoria interna para todos os processos, e isso desde setembro de 2012. Temos um Código de Conduta, implantado em março de 2013, e o Canal de Denúncias Atitude Ética, para investigar, aplicar correções disciplinares e mudanças de conduta. Fazemos, também, treinamentos anticorrupção com os novos colaboradores junto ao treinamento de integração. Parceiros, fornecedores e corretores também podem relatar atos de corrupção de forma anônima”, contou Suzete, concluindo que a Lei existe e as empresas devem se posicionar diante da corrupção.