Estima-se que há 40.000 imóveis abandonados só na região da Administração Regional da Sé.
Cabe à coletividade dizer: basta!

 

Nada mais desalentador do que caminhar pelo centro de São Paulo e observar a enormidade de edifícios desocupados. A sensação é de total abandono. Pior: de desperdício de espaços que poderiam estar servindo à população e à cidade em uma região dotada de farta infraestrutura urbana subutilizada.

É claro que o centro precisa de muitas coisas para se tornar amigável aos moradores. Há vários aspectos relativos à zeladoria, como iluminação, segurança etc. É comum ouvir que, enquanto isso não acontecer, as pessoas não vão querer viver lá.

A prática mostra, todavia, que o contrário funciona, e até com maior eficiência. Quando há habitantes, estes induzem a realização de benfeitorias. Colocam em curso um processo extremamente saudável e benéfico.

Com oferta de habitações em condições de uso e, principalmente, a preços acessíveis às famílias, é possível transformar uma região hostil em amigável e, mais do que isso, desejada. Existem exemplos concretos que comprovam a assertiva, como é o caso do Baixo Augusta, hoje polo de atração de muitas pessoas e, inclusive, base da economia criativa.

Portanto, nada mais oportuno do que o Programa Requalifica Centro, enviado pelo prefeito Ricardo Nunes e aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo – inexplicavelmente judicializado.

A proposta viabiliza o retrofit (expressão inglesa que significa atualizar o antigo) de prédios construídos há décadas, transformando- os em edifícios de uso misto (com comércio no térreo e habitação nos demais pavimentos), conferindo-lhes função social e, consequentemente, econômica. Onde há morador, há atividade, consumo, vida enfim.

Saliente-se que a legislação em vigor já prevê esse tipo de intervenção. O Plano Diretor Estratégico (Lei nº 16.050), por exemplo, estimula “a reabilitação do patrimônio arquitetônico, especialmente na área central, criando regras e parâmetros que facilitem a reciclagem e retrofit das edificações para novos usos”.

Estamos diante da chance de finalmente adensar e requalificar o centro de São Paulo, resgatando sua dinâmica, com criação de calçadões, polos culturais e outras ações inclusivas.

Até quando os paulistanos vão aceitar que o centro continue em processo de degradação? Não podemos perder esta oportunidade. Cabe à coletividade dizer: basta!

*Luiz França, presidente da Abrainc, Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP, e Odair Senra, presidente do SindusCon-SP

 

Confira: Programa Requalifica Centro vira lei

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