Na tarde da segunda-feira, 24/8, a Convenção Secovi-SP iniciou a programação de painéis com o tema Retomada Econômica: Condições e Condicionantes, com análises do presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e do presidente do Secovi-SP, Basilio Jafet. O jornalista do Grupo Bandeirantes e âncora da rádio BandNews, Luiz Megale, fez perguntas estimulando os debates entre os dirigentes. O público também pode participar.
Antes de os convidados debaterem as perspectivas para a retomada da economia brasileira nesse cenário de crise sanitária, Diego Velletri, coordenador geral da Convenção Secovi, falou da parceira com a Fiabci-Brasil na realização do evento e do apoio da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Ele explicou que a versão digital da Convenção pretende trazer aos participantes, nestes três dias, as principais condicionantes do evento presencial: relacionamento, interação e debates de ideias. “A pandemia não nos impediu de levar informações para todos. Fizemos inúmeras adaptações para tornar o evento totalmente on-line e oferecer informação democrática, com o uso de uma plataforma, que garante interatividade dos palestrantes com os participantes”, disse.
O jornalista Luiz Megale falou sobre a mais recente publicação do Boletim Focus, do Banco Central, com nova previsão de queda do PIB (Produto Interno Bruto), e questionou os participantes acerca dos vetores capazes de influenciar a retomada da economia neste momento.
Luiz Carlos Trabuco disse que as previsões deixaram de piorar e que o pior está ficando para trás. “Em março e abril, o cenário era de medo, risco, insegurança e preocupação. Todos estavam vulneráveis. O mundo parou e agora começa a aquecer. Os mercados que desabaram naquela ocasião, começaram a se recuperar. E o mercado imobiliário mostrou bastante resiliência, e será a grande locomotiva para a retomada econômica.”
Basilio Jafet, por sua vez, falou do desequilíbrio existente entre os diversos setores da economia. “Agrobusiness está forte e serviços, por sua vez, vem sofrendo muito. Esse desequilíbrio não é saudável, mas o tempo e a adaptação nos levarão à recuperação. O mais decepcionante, contudo, é a resposta individualizada para enfrentar os enormes desafios trazidos pela pandemia de coronavírus. A ONU (Organização das Nações Unidas) foi impotente na apresentação de uma resposta global, para um problema global. Os países estão individualistas, sem coordenação com os países vizinhos. Isso é um retrocesso grande para a economia global. No Brasil, a falta de coordenação entre os entes públicos criou uma crise sanitária, econômica e política”, opinou o presidente do Secovi-SP, deixando no ar a pergunta: “para onde vamos?”.
Gastos públicos – Questionado por Megale sobre a avaliação das ações dos organismos governamentais do País daquilo que aconteceu e poderia ter sido feito para conter os efeitos econômicos e sanitários da pandemia, Trabuco destacou o maior desafio deixado pela pandemia. “Agora, a descoberta da vacina para combater o vírus se transformou na grande plataforma das nações.”
Jafet reforçou a necessidade de se manter o teto de gastos públicos, a qualquer custo. “Esse, talvez, seja o maior desafio. A nossa dívida interna continua saudável? Houve manifesto de economistas dizendo que o governo não deve cumprir o teto dos gastos. Isso é certo?”, questionou.
Para Trabuco, manter o teto dos gastos é atitude muito importante, e o tal manifesto dos economistas é a “marcha a ré da história”. Ele lembrou o controle inflacionário conseguido nos anos 1990 e os questionamentos sobre a capacidade de tornar duradouro o controle da inflação. “Agora, entramos em um ciclo de juros baixos, e será que eles vieram para ficar? Essa pergunta é fundamental para quem investe, e a resposta passa por uma dívida interna administrável. Por isso, a importância da reforma tributária. Contudo, a [reforma] administrativa seria até mais importante neste momento”, completou.
Megale falou dos sinais dados pelo presidente da República Jair Bolsonaro de furar o teto dos gastos e deixar a reforma administrativa para 2021. “Isso não cria insegurança?”, questionou.
Para Trabuco, o ciclo de juros baixos e negativos registrado no mundo, az do Brasil um destino interessante para investidores. “O saneamento básico é uma excelente área de investimento”, lembrou. E ressaltou que a reforma tributária não pode sinalizar aumento de impostos. “É impossível imaginar tributo adicional para as despesas caberem na receita. Falar em reformas é repetitivo, cansativo, mas elas são o caminho para a boa saúde financeira e a manutenção do teto dos gastos”, disse.
Basilio Jafet completou, citando a necessidade de se buscar a simplificação tributária e da correta administração das contas públicas. “Não se pode gastar mais do que se arrecada. Temos exemplos próximos de falta de controle dos gastos. A Argentina não consegue se recuperar economicamente.”
Ele aproveitou para falar da importância do Marco Legal do Saneamento Básico como forma de impulsionar a macroeconomia e alcançar o desenvolvimento. A esse pensamento, Trabuco completou que não se pode dormir tranquilo, quando 100 milhões de brasileiros não têm saneamento básico. “Essa é uma dívida social. Quando o Estado é insuficiente, o problema não desaparece. Deve-se pensar na adoção de soluções privadas para problemas públicos. Temos 30% dos recursos mundiais investidos em bancos, com juros negativos. Fazendo a coisa certa, esses recursos podem vir para o Brasil e resolver problemas”, apostou o ex-presidente do Bradesco.
Megale falou da “porrada” que a pandemia deu no liberalismo, levando os governos a aumentarem seus gastos públicos.
A esse comentário, Trabuco acrescentou que, no Brasil, o liberalismo nasce da impossibilidade de o Estado atender a todas as necessidades da população. “Desonerar o Estado é torná-lo eficiente. E liberalismo, quanto a conceito, é ter menos Estado no cangote do empresário com tributação. A pandemia aflorou os desassistidos e invisíveis. Contudo, a ajuda emergencial a esse contingente não pode ser para sempre. O País tem de crescer e gerar empregos.”
Basilio Jafet destacou que o Brasil elevou os gastos em quase 6% do PIB para sustentar a pandemia e, mesmo assim, as respostas não foram as melhores. “Qual foi o erro conceitual?”, questionou o presidente do Secovi-SP.
Trabuco disse que o Banco Central foi provedor da liquidez para que o sistema continuasse funcionando. “A gente sabe da grande carência econômica do brasileiro, mas a realidade poderá mostrar se o auxílio emergencial foi exagerado. Um fenômeno observado durante a pandemia foi o crescimento das cadernetas de poupança.”
Meio Ambiente – Luiz Megale destacou a imagem ambiental negativa do Brasil e pediu a opinião dos convidados do painel sobre o assunto.
Para Trabuco, a pauta do meio ambiente é a pauta do século 21. “O Brasil tem equilíbrio entre economia e meio ambiente. Talvez, estejamos pecando na falta de comunicação. A tendência mundial é de respeito ao meio ambiente. Temos vários ganhos civilizatórios e não devemos ir contra a maré. Não dá para subestimar essa agenda.”
O presidente do Secovi-SP manifestou a mesma opinião. “A agenda ambiental é importante, mas temos problemas sérios de comunicação. Somos o país que mais preserva, e simplesmente não conseguimos comunicar. Com isso, geramos transtornos em investimentos internacionais. O esforço tem de ser em mudar essa percepção e mostrar para o mundo o que fazemos de positivo.”
No final, Trabuco falou do impressionante crescimento do setor imobiliário nesses meses, com destaque para a alta de 15% no consumo do cimento, de fevereiro para cá. “Esse é um bom sinal. A pandemia é crise de saúde. Vamos sair dela para que não haja uma crise econômica e depois financeira. A humanidade vai ficar no palco da transformação, com ressignificação na forma de empresariar, na educação, na sociedade em geral. Freud disse que os problemas não acabam, mas é preciso caminhar com a vida, sem bater em retirada.”
Basilio Jafet ressaltou que, pela primeira vez, o Secovi-SP vai fazer algo novo, em três dias espetaculares de evento. “Tivemos uma luta para deixar os canteiros de obras como atividade essencial, e isso foi fundamental para garantir os empregos de 700 mil trabalhadores. Cada vez mais, o imóvel representa o porto seguro, deixando o pesadelo para fora. O brasileiro gosta de ter o seu espaço.”
Luiz Megale lembrou que a simbologia do imóvel como segurança deixou de ser metáfora para ser literal nesses momentos de pandemia.
A Convenção Secovi 2020 é uma realização do Secovi-SP e da Fiabci-Brasil, com apoio institucional da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Patrocínio: Atlas Schindler, Grupo Souza Lima, Porto Seguro, SegImob, Abrainc, Caixa, Cashme, Crowe, Gerdau, Kzas, Locomotiva, Mapfre, OLX, Realogy e Senior Mega. Agente social apoiado: Ampliar.