Para Ricardo Paixão Barbosa, diretor do Secovi e da iConatus, melhorar a experiência do cliente que deseja comprar, vender ou alugar um imóvel é desafio às empresas do setor
A intermediação imobiliária passa por uma mudança que tem chamado a atenção nos últimos anos. Antes mesmo de a pandemia nos obrigar a lidar com a transformação digital dentro das empresas e a promover ajustes às alterações no comportamento do consumidor, o mercado imobiliário vivia uma inflexão em seus modelos de negócio.
Uso de dados, tecnologia e compartilhamento passaram a impactar a estratégia de empresas consolidadas e, também, permitiram o surgimento de startups que as ajudam a se adaptar ou, ainda, propõem novos modelos de negócio que se sobrepõem aos atuais. Estas novas empresas nascem suportadas por todo um ecossistema de inovação e captação de recursos que dão suporte para que possam trazer produtos e serviços mais inteligentes, mirando, sobretudo, uma melhor experiência ao consumidor.
A Terracotta Ventures, empresa de Venture Capital no mercado imobiliário, aponta um crescimento de 277% no número de startups ativas no setor nos últimos seis anos. Em 2020 já eram 703 e, hoje, temos 955 startups ativas.
Todo esse caldeirão de transformações, realçado por tempos conturbados, moldam os desafios atuais na forma de comprar, vender ou alugar imóveis e as companhias do setor enfrentam dilemas que podem impactar seu futuro.
Se olharmos pelo retrovisor, dúvidas e mudanças também aconteceram, porém em menor velocidade. Nos anos 70, consolidou-se o modelo de interação entre imobiliárias e corretores na intermediação de imóveis, o que dura até hoje, sendo que boa parte das inovações atuais questionam este modelo.
Nos anos 80, tivemos a migração do papel, conhecido como fichário, onde ficavam os dados dos imóveis e dos clientes, para os sistemas imobiliários ou CRM. Nos anos 90, o surgimento da internet comercial e das fotos digitais preparava o caminho para a transformação da próxima década, os anos 2000, quando, depois de mais de 200 anos desde o surgimento e hegemonia dos classificados impressos no Brasil, dão lugar para os portais imobiliários, além de todo o impacto do digital na geração e interação com os clientes.
Em cada mudança era comum a resistência de boa parte dos atores do mercado e, naturalmente, aqueles que não se adaptaram ao longo do tempo dificilmente prosperaram. Isso nos leva a alguns questionamentos: quais são hoje nossos desafios? Será que estamos sendo refratários a alguma tendência inexorável e inevitável?
A resposta não é fácil, pois há uma linha tênue entre aceitar passivamente toda e qualquer novidade que aparece – e não são poucas – ou criar uma resistência tola e ineficaz ao inevitável.
Infelizmente ou felizmente, o fim da história se encontra no futuro, porém, podemos ter pistas muito interessantes, observando que toda essa inovação e transformação tem um fio condutor: melhorar a jornada do cliente!
Assim, a consolidação e o amadurecimento de um ecossistema que recepcione bem quem quer comprar, vender ou alugar um imóvel, proporcionando uma boa experiência desde a busca até a sua concretização, parece ser promissor. Imobiliárias que possam criar, participar ou ajudar neste processo saem na frente.
Um exemplo característico em nosso setor é a locação de imóveis, a qual mudou muito nos últimos anos, impulsionada por empresas e tecnologias que trouxeram uma forma mais fácil e fluida para o cliente. E hoje muitas imobiliárias podem ter acesso a esteiras, ferramentas e parcerias que ajudam a oferecer um melhor serviço.
A notícia desafiadora é que é preciso se adaptar às novas demandas, mesmo que isso envolva fazer coisas que nunca tenhamos feito. E a notícia que conforta o setor é que as transformações estão acontecendo com a participação de imobiliárias e corretores que se reinventam, onde a competição dá espaço à cooperação e que aderir a um modelo que busque de forma genuína e incansável aprimorar a experiência para o consumidor pode ser um caminho sem volta.
Convido a todos que se interessam no assunto a acompanhar a Convenção Secovi, em que teremos painel sobre este tema e espaço para startups que estão ajudando a moldar a nova forma de negociar imóveis.