Em meio às obras públicas que vêm transformando a Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro, o colorido de um prédio privado vem chamando a atenção. Datada de 1866 e preservada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a construção passou por um retrofit, que durou cerca de um ano e além de respeitar as características originais de sua fachada seguiu recomendações de sustentabilidade do Green Building Council, recebendo o selo Leed, na categoria Prata.

Em plena Rua Sacadura Cabral, o espaço costumava ser usado como garagem pelos funcionários da B2W Digital — empresa de e-commerce que reúne os sites Americanas.com, Submarino e Shoptime — mas desde agosto do ano passado, quando a reforma foi concluída, abriga o centro de inovação e tecnologia da empresa, o BIT.

— Conseguimos aproveitar 86% da construção original, o que, além de manter a história do lugar, ainda gera ganhos econômicos — comemora Carlos Padilha, diretor da empresa.

Se a fachada foi mantida, internamente o prédio de dois mil metros quadrados foi completamente transformado. Aos dois andares originais foi acrescentado um terceiro. Ainda assim, foi possível manter a volumetria da construção. Na recepção, por exemplo, o pé-direito alto destaca tanto as esquadrias originais em madeira, quanto a parede de pedra, que foi descascada para ficar aparente no ambiente. Um selante específico para esse tipo de construção foi usado no lugar do revestimento.

Já para conquistar o selo Leed de sustentabilidade, foi preciso adaptar as instalações do prédio. Agora, um sistema de captação de água da chuva aproveita essas águas nas bacias sanitárias, a iluminação é toda feita com lâmpadas led e os ambientes contam ainda com sensores de CO2 que controlam a qualidade do ar no interior da edificação. Para proporcionar maior conforto térmico, a manta de isolamento do telhado foi feita com lã de garrafa pet reciclada e escolhido um sistema de refrigeração extremamente preciso e com grande eficiência energética: chega a economizar 60% da energia se comparado com outros sistemas. Um dos maiores custos da obra, ele ainda mantém todos os ambientes a 23° C e usa um gás que não agride a camada de ozônio.

Incentivo aos funcionários

Durante a obra foram adotadas práticas preventivas quanto ao controle de contaminação do solo, controle de sedimentos e distúrbios à vizinhança. Todos os resíduos gerados durante a construção, por exemplo, foram destinados para locais licenciados, além de serem preferencialmente encaminhados para a reciclagem ou reuso.

A prática, aliás, continua com o prédio em funcionamento. Há centros de coleta seletiva em todos os andares e placas explicativas ensinam os 250 funcionários que circulam por ali a maneira correta de utilização do prédio para obter melhores resultados. O prédio conta ainda com bicicletário e vestiário para incentivar os funcionários a utilizarem transportes alternativos.

— Ficamos muito entusiasmados com essa primeira construção com a certificação sustentável. Tanto que já estamos planejando a reforma de nossa sede, que fica também na Zona Portuária, ainda para este ano — conta Padilha, acrescentando que o BIT de São Paulo, por ser em local alugado, foi instalado num prédio que já tinha o selo.

Fonte: O Globo, 27/7/2014