“Estamos aprendendo com a Covid-19 o que uma crise significa e o que podemos fazer com os problemas que ela gera.” Foi com esta afirmação que o professor José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) iniciou o webinar “Eventos Climáticos Atuais: Impactos na Incorporação e Construção”, iniciativa promovida nesta terça-feira, 30/6, pela entidade, em conjunto com o Secovi-SP e o SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).
Segundo o docente, as mudanças climáticas não representam um problema tão agudo como o coronavírus neste momento, de modo que as pessoas as encaram com intolerância e certa indiferença. Goldemberg citou a subida do nível dos oceanos, o derretimento das geleiras e os indícios inequívocos de que o planeta estará 2°C mais quente, até 2050, como sinais do meio ambiente que o “sistema” não está bem. “Há incertezas, naturalmente, quanto a proporção dos efeitos, mas essa desculpa não pode ser usada como inação”, disse. De acordo com o professor, qualquer negacionismo nesta área é pura ignorância e não se pode ficar discutindo se os impactos climáticos são reais ou não. Para ele, as consequências das condições ambientais são reais e podem ser vistas na cidade de São Paulo, por exemplo, que passou a ter um regime de chuvas mais concentrado em períodos curtos, favorecendo a ocorrência de enchentes. “O cerrado brasileiro, por sua vez, ficará ainda mais seco”, complementou.
Pegada de carbono – Entre as ações a serem adotadas, José Goldemberg sugeriu mudanças em projetos – como adaptação das garagens em locais mais suscetíveis aos alagamentos e uso de materiais mais específicos que torne os edifícios mais resilientes às fortes chuvas -, e atuar na mitigação de forma a construir prédios com outro tipo de mentalidade. “Ter pegada de carbono, com menos emissões ao meio ambiente, é uma iniciativa que os engenheiros podem adotar agora”, exemplificou, pontuando que o aquecimento global provocou o uso generalizado de aparelhos de ar-condicionado, responsáveis pelo consumo atual de 5% da energia elétrica do País, índice que deve aumentar consideravelmente nos próximos anos. O docente pontuou que o governo americano cobra uma taxa de US$ 40 por tonelada de carbono emitido na atmosfera e que logo isso se tornará realidade no Brasil. “Dentro de 10 ou 15 anos, a quantidade de carbono vai entrar na conta do IPTU, ou seja, o prédio com pegada de carbono terá um imposto predial mais baixo, de forma a premiar os bons exemplos. ”
O vice-presidente de Tecnologia e Sustentabilidade do Secovi-SP, Carlos Borges, um dos participantes do webinar, salientou que muitas empresas do setor no País ainda são informais e muitas delas estão distantes do conceito de sustentabilidade. “O setor acumulou quedas de mercado durante 60 meses consecutivos e só interrompeu esse fluxo no ano passado. Mas agora tivemos a pandemia, que trouxe novos desafios para todos”, afirmou o dirigente. “Os empresários estão muito machucados com a instabilidade econômica e agora estão focados na sobrevivência a curto prazo.” Outro ponto levantado por Borges diz respeito à legislação, ainda distante de uma visão global de sustentabilidade. “As exigências da sociedade como um todo, as novas gerações que são naturalmente mais sensíveis ao tema, a mudança de perfil dos órgãos financeiros, bem como o exemplo e a ação de líderes da área, devem contribuir para essa mudança, que ainda deve ser lenta”, considerou.
O vice-presidente do Secovi-SP também falou sobre a cultura de gestão de risco, ainda pouco difundida entre o empresário médio brasileiro. “São poucas as empresas que fazem análise de risco estruturada e, além disso, as apólices de seguro de risco em engenharia são muito antigas e desatualizadas. Por isso, o Sindicato da Habitação e o Sinduscon-SP estão trabalhando para melhorar a qualidade destes documentos”, comentou. ntre os convidados, o engenheiro Aron Zylberman, diretor-executivo dos Institutos Cyrela e da Cyrela Commercial Properties, abordou aspectos da cultura brasileira que poderiam ser melhorados. “Sofremos de curto-prazismo, temos dificuldades para olhar para períodos mais longos, tanto o cidadão comum quanto os empresários”, afirmou, enfatizando que investimentos em sustentabilidade requerem mais tempo para ser aproveitados.
Questionado sobre o maior impacto financeiro dos edifícios sustentáveis e a perspectiva de amortização do custo durante a vida útil do empreendimento, o vice-presidente do SindusCon-SP, Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, convidado da iniciativa, explicou que a incidência extra de despesas tem sido menor do que a esperada. “Quando se analisa os ganhos com eficiência energética e tantos outros benefícios, percebe-se que os investimentos são recuperados facilmente durante sua utilização.”
Para conferir o webinar na íntegra, acesse