Teoricamente, em um mercado globalizado as crises econômicas e políticas locais geram conseqüências mundiais, percebidas, principalmente, nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

Mas algo está mudando. Este ano, os Estados Unidos foram atingidos por uma forte crise imobiliária, cujos efeitos não atingirão o mercado imobiliário brasileiro, conforme análise de especialistas do setor.

O assunto tem gerado diversos debates, e foi tema de painel internacional na quarta edição da Convenção Secovi, que acontece de 27 a 30/9, no Anhembi, em São Paulo.

Aprender com as crises – A solidez econômica brasileira e a consolidação dos marcos regulatórios que regem as atividades imobiliárias são os grandes responsáveis pela retomada do setor. Apesar da retomada dos negócios, com aumento dos lançamentos e das vendas, o setor ainda necessita de mais atenção governamental, pois tem de combater um enorme déficit habitacional, hoje calculado em aproximadamente 8 milhões de moradias.

“O Brasil está longe da realidade imobiliária norte-americana, onde as hipotecas correspondem a U$ 10 trilhões”, afirmou Romeu Chap Chap, presidente do Secovi-SP.

Conforme análise do dirigente, a crise imobiliária norte-americana pode atingir o país, pois os Estados Unidos exercem, naturalmente, influência nas nações em desenvolvimento. “Inegavelmente, uma eventual recessão será percebida na economia nacional”, opinou Chap Chap.

“Mas se avaliarmos que o mercado imobiliário brasileiro está bem distante da realidade do mercado norte-americano, passaremos ilesos pela crise”, avaliou o dirigente. “Além disso, as condições macroeconômicas internas trazem solidez ao setor, que contribui muito com o crescimento do PIB nacional, e o Brasil tem despertado, cada vez mais, o interesse dos investidores internacionais”, concluiu o presidente do Secovi-SP.

Boa impressão – A presidente da National Association of Realtors – NAR, Pat Vredevoogd Combs, afirmou que os norte-americanos estão impressionados com a economia brasileira.

Para ela, o processo já consolidado de globalização econômica pode ser comparado à brincadeira infantil de “ligar os pontos”. “A área imobiliária pode ser comparada a esse jogo. Se os negócios são bem-sucedidos, a influência positiva passa a ser mundial e vice-versa”, afirmou.

Para definir a crise imobiliária de seu país, Pat disse que “os Estados Unidos parecem cantar na chuva” e aproveitou para esclarecer que o colapso não é resultado do “estouro de uma bolha”, mas sim de um processo social, iniciado com a necessidade de o país atender a uma grande demanda por habitação. “Anualmente, nascem dois milhões de crianças e são realizados dois milhões de casamentos. Há uma enorme busca por imóveis”, disse, completando que a NAR oferece programas para orientar seus associados a atender essa demanda reprimida.

De acordo com a presidente da NAR, os empresários norte-americanos aguardam a aprovação no Congresso de projeto que permite a compra das carteiras de empréstimos pessoais, uma vez que algumas dívidas hipotecárias já foram perdoadas.

Para ela, o momento é de aceitar o destino e buscar formas de mudá-lo. “Não adianta dizer que nada aconteceu. É preciso enxergar que há muitas oportunidades de negócios em outros países, como o Brasil. Por isso a NAR quer trabalhar mais próximo do Secovi.”

Mercado global – Julian A. Josephs, presidente da Fiabci Mundial falou sobre a importância de as empresas interessadas em atuar globalmente trabalharem com transparência, ou seja, conhecimento do mercado; planejamento e governança corporativa. Tais premissas dão maior segurança e retorno aos investidores, de acordo com o dirigente.

Ele lembrou que após a divulgação do filme “Uma verdade inconveniente”, do ex vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, o termo sustentabilidade. “Os investidores buscam diversificação e querem conhecer localmente os projetos em desenvolvimento”, informou Josephs.

Alguns países estão na mira desses investidores, conforme Josephs, como a China, que apesar da grande demanda por habitação, não desenvolveu novas técnicas construtivas; a Índia, que tem língua inglesa como aliada, apesar de apresentar algumas limitações para investimentos, como a necessidade de infra-estrutura urbana, como estradas; a Rússia, que apesar da corrupção que norteia a aprovação de projetos, já surge como rota de investimento ocidental.

Após escolher o país, o investidor deve, conforme Josephs, conhecer profundamente a cultura local e definir claramente os planos de negócios.

A crise imobiliária norte-americana, para o presidente da Fiabci Mundial, é exemplo do que pode acontecer em qualquer país.

Dinamismo panamenho – No Panamá, a atividade imobiliária se desenvolve com dinamismo histórico, transformando perfil da cidade, que está se tornando cosmopolita. “É seguro para investidores, pois apresenta crescimento econômico sustentável de 12% ao ano”, afirmou Natasha Sucre, presidente da Fiabci/Panamá.

Conforme a dirigente, a expansão do canal do Panamá possibilitou que 50% do comércio mundial passem pelo país. “São U$ 15 milhões em lucro comercial por ano”, informou Natasha, completando que serviços completam a economia panamenha. “Os índices de inflação são baixos, mas há muito a fazer”, concluiu Natasha.