A maioria dos brasileiros está preocupada com o ritmo das obras para a Copa do Mundo. Será que vai dar tempo de o Brasil preparar toda a infraestrutura necessária? Principalmente no que se refere a aeroportos, transportes e hospedagem, a sensação é de que o calendário será insuficiente. O tempo não para. Mas temos de acreditar. Como dizem, Deus é brasileiro. A questão é: até quando?

Tal dúvida emerge, também, em razão de outro grande desafio que a cidade de São Paulo poderá ter de enfrentar: a realização da Exposição Universal em 2020 (Expo 2020), de maio a novembro daquele ano. Recentemente, em encontro promovido pelo Secovi-SP (o sindicato da habitação) e a Federação Internacional das Profissões Imobiliárias (Fiabci) Brasil com a vice-prefeita Nádia Campeão, foi apresentada a campanha da candidatura de São Paulo, cujo tema é “Força da Diversidade, Harmonia para o Crescimento”.

A cidade-sede será definida em novembro, em Paris. Se confirmada, a Expo em São Paulo deve atrair cerca de 30 milhões de visitantes. Na China, última edição do evento, foram mais de 73 milhões de pessoas. Ora, não é difícil aquilatar o significado de uma iniciativa dessa envergadura para nossa cidade. Falo do ingresso de vultosos recursos e, principalmente, de imagem.

São Paulo terá merecida projeção internacional. Como bem sabemos, todas as vezes que se fala de Brasil lá fora, a figura que aparece é a do Cristo Redentor. Nada contra. O Rio é maravilhoso, mas também temos coisas boas para contar e mostrar. E essa, portanto, é uma chance formidável.

Estaremos preparados? Pode ser que sim. Afinal, avançam os estudos para a construção do Complexo da Expo 2020, em Pirituba, envolvendo esforço conjunto dos governos federal, estadual e municipal, com forte apoio do setor privado. A região, com 400 mil habitantes, será revitalizada para receber um grande parque e o maior centro de convenções da América Latina. Aliás, São Paulo não pode mais adiar a produção de um espaço dessa natureza. Estatísticas revelam que mais de 1,3 milhão de pessoas desembarcam mensalmente na cidade a título do chamado turismo de negócios.

Conforme informações no site do São Paulo Convention & Visitors Bureau, a capital paulista abriga anualmente cerca de 90 mil eventos, com mais de 15 milhões de participantes. Somos a capital sul-americana das feiras de negócios: temos um evento a cada seis minutos; 120 das 176 grandes feiras no Brasil são realizadas aqui, o que equivale a 72% do mercado nacional nesse setor; a receita ao ano com eventos é de quase US$ 2 bilhões; em viagens, hospedagem, alimentação, transporte e compras, a arrecadação anual é de US$ 850 milhões; temos cerca de 2,5 milhões de m2 em grandes espaços para eventos, além de centenas de locais menores; o Anhembi, com área de 80 mil m2, é até hoje o maior complexo de eventos da América Latina. Apesar desses números gigantescos, conseguir espaço para fazer um grande evento na cidade é uma loteria. Só mesmo com muita antecedência e, ainda assim, nem sempre os centros de convenção conseguem reunir, num mesmo local, todos os itens necessários. Com Expo ou sem Expo, portanto, não podemos prescindir de uma área que possa atender à demanda já existente.

A questão é que, se formos escolhidos, estaremos diante de uma condição imperativa. Teremos de fazer acontecer. E o importante é que, pelos estudos e projetos em andamento, o legado dessa obra será permanente. Há quem afirme que essa data está longe e haverá tempo de sobra. Mas a experiência nos preparativos da Copa mostra que não é bem assim. Ademais, o chamado Piritubão terá de enfrentar, como os empreendedores imobiliários, a via-crúcis de aprovações e licenciamentos, isso sem falar em surpresas que podem comprometer o cronograma de obras (clima, mão de obra etc.).

Tomara que a Expo 2020 ocorra em São Paulo. Abraçamos essa campanha. Mas que não se adie a produção de um espaço para eventos à altura do que a cidade e o País merecem.

Ricardo Yazbek é vice-presidente de Assuntos Legislativos e Urbanismo Metropolitano do Secovi-SP.