Especialistas apresentam soluções para a morabilidade nas grandes cidades

“Morabilidade é a somatória de vários fatores, como planejamento urbano, habitação, mobilidade, acesso à segurança, saúde, educação e tecnologia, entre outros, que determinam a qualidade de vida dos cidadãos.” Foi com essa explicação que Hamilton de França Leite Jr., executivo da Universidade Secovi, começou o painel sobre o tema na Convenção Secovi 2018, que reuniu na tarde desta terça-feira, 28/8, o designer Mateus Silveira, especialista em future insights da Fiat Chrysler; a especialista Clarisse Linke, diretora executiva do Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento (ITDP), e a executiva Susanne Marchionni, CEO da Planet The Smart City Brasil.

Buscar soluções em mobilidade que ofereçam a quem se locomove e mora nos grandes centros urbanos acesso a oportunidades, permitindo que usufruam das cidades e de tudo o que elas têm de melhor a oferecer. Esse é um dos princípios do projeto “Futuro das Cidades”, uma iniciativa da Fiat Chrysler, em parceria com a USP Cidades, a Coppead (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e o Cesar (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife).  

“A mobilidade é um problema de todos nós”, afirmou Silveira. “Criamos o conceito de ‘simplicidade fluída’, baseado no fato de que nós somos plurais e assumimos vários papéis no nosso dia a dia. Precisamos encontrar pontos em comum para criar uma experiência fluída”, contou.

Segundo ele, é preciso entender como as cidades estão evoluindo e por que as pessoas se movem. “Elas se movem porque estão buscando oportunidades e não necessariamente essas oportunidades estão distribuídas perto delas. Então, mobilidade é acesso a oportunidades”, destacou, elencando três variáveis importantes para resolver essa equação: tempo, distância e dinheiro.

Trânsito – A partir do entendimento de que mobilidade é acesso, também é fundamental compreender que mobilidade não é trânsito. “Trânsito é circulação e é positivo”, afirmou Silveira. “Leonardo Da Vinci dizia que cidades são organismos vivos e que a circulação das pessoas e mercadorias representa o sistema circulatório da cidade. Precisamos olhar o trânsito e ver que ele não se resolve alargando ruas e fazendo pontes.”

Para ele, a questão da mobilidade não se resolve com a infraestrutura. As pessoas precisam estar perto das oportunidades. Silveira chamou a atenção para uma regra básica do planejamento urbano, que não é respeitada no Brasil. “Deveríamos privilegiar o coletivo em detrimento do individual, e o púbico em detrimento do privado. E entender a densidade das cidades”, afirmou, citando como exemplo a Avenida Paulista, em São Paulo, que desenvolveu uma capacidade de uso bastante otimizada, oferecendo várias opções de mobilidade para atender a demanda das pessoas.

“A necessidade de deslocamento é cada vez mais problemática, porque a população está mais espalhada nas cidades e as pessoas mais carentes estão mais distantes dos centros urbanos. “Então, quando se fala em morabilidade precisamos entender o por quê e para quem”, acentuou Clarisse.

Mudança climática – Ao falar sobre o comprometimento dos países em relação às metas de mudança climática, Clarisse indagou: “o que precisamos fazer para que o sistema de transporte não impacte tanto nas mudanças climáticas?” A resposta, segundo ela, é evitar o deslocamento. “Isso significa que precisamos de cidades mais densas, mais compactas, com uso misto do solo e que ofereçam oportunidades sem a necessidade de deslocamentos pendulares”, afirmou. 

Se for necessário o deslocamento, precisamos que ele seja mais sustentável, como transporte público, mobilidade a pé e de bicicleta. “Precisamos entender o valor e investir no transporte público para que ele permaneça sendo o eixo estruturante das nossas cidades”, disse. Para ela, as cidades não são mais prazerosas para viver. Lembrou que, quando Leonardo Da Vinci disse que o trânsito é positivo, ele se referia ao trânsito de pessoas e não de veículos.

Diversidade – Ao apresentar informações sobre os diferentes de padrões de trajetos entre homens e mulheres, Clarisse disse que a dinâmica de mobilidade do homem costuma ser mais pendular e linear, ele vai e volta da casa para o trabalho. O número de viagens dele, via de regra, é muito mais limitado. Já a mulher, em geral, faz não só o trabalho produtivo como também é majoritariamente responsável pelo trabalho reprodutivo. As mulheres têm um papel fundamental de cuidado, seja de idosos ou crianças. Então, tendem a fazer viagens mais curtas e diversas, espalhadas durante o dia em horários diferentes.

“Mulheres, crianças e idosos enfrentam grandes desafios para acessar as oportunidades oferecidas no espaço urbano. Nossas cidades têm sido planejadas e construídas a partir de padrões que reforçam as desigualdades de classe, raça e gênero, limitando também a convivência e circulação de pessoas segundo a idade e habilidades físicas”, criticou Susanne. “Precisamos repensar as nossas cidades.”

Cidades inteligentes – Susanne Marchionni, CEO da Planet, falou sobre a implantação da primeira smart city social do mundo, em construção na cidade de São Gonçalo do Amarante, no Ceará. “O conceito do Smart City Laguna é concentrar residências, comércio e empresas para evitar grandes deslocamentos”, informou. “Estamos mudando a forma de construir cidades e provando que é possível fazer coisas simples e bem feitas e proporcionar qualidade de vida”, destacou a executiva. 

Ela mostrou uma das cinco mil casas que serão vendidas a R$ 120 mil cada e que podem ser financiadas dentro do programa Minha Casa, Minha Vida. O empreendimento é uma aposta em um novo tipo de arranjo social, com uma cultura colaborativa. As inovações permitem compartilhamento de recursos, conexões entre quem oferece um serviço e quem necessita dele, acesso a espaços comuns de educação e lazer.

Confira as fotos do painel em nosso flickr.

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O evento teve o patrocínio de Atlas Schindler, Intelbras, Porto Seguro, Apemip, OLX e SegImob.