Em formato híbrido, o evento proporcionou reflexão e emocionou os
  participantes.

Reflexão, conhecimento, emoção marcaram a segunda edição do Secovi Talks, que aconteceu no dia 25/8, encerrando a Semana Imobiliária, organizada pelo Secovi-SP. 

Na abertura, o presidente Basilio Jafet destacou o pioneirismo da entidade na retomada da realização de eventos presenciais. “A Semana Imobiliária em formato híbrido, presencial e on-line, só foi possível de acontecer com o apoio dos patrocinadores, que toparam esse desafio, e a nossa equipe de colaboradores. Assim que fazemos a diferença”, destacou Jafet.

Ricardo Paixão, coordenador do Secovi Talks, pediu para que todos “desligassem” a chave mental do mundo exterior, para se entregarem à pauta do evento, que abordou a influência da tecnologia na vida das pessoas, apresentou a necessidade de cuidar da saúde física e mental em meio à pandemia e também da importância de a sociedade se engajar para preservar o meio ambiente e, principalmente, criar meios de oferecer  qualidade de vida a todos os cidadãos, tornando os ambientes urbanos inclusivos, diversos, e mais igualitários.

Ética, tecnologia e cidades – Há mais de dois mil anos, quando o homem desvendou os segredos da natureza e a colocou a seu serviço, foi criada a estruturação social em termos técnicos e mecânicos (aprender a usar o fogo) e artísticos (contemplação e encantamento). Com base nesta explicação inicial,  o filósofo Luiz Felipe Pondé levou os participantes à compreensão de alguns conceitos de controle social do século 18 até chegar à naturalização das relações virtuais da atualidade, em que o convívio social é controlado pelos processos de visibilidade das inúmeros mídias digitais.

O economista Eduardo Giannetti explicou detalhadamente em que consistem as vertentes da ética pessoal e cívica, a necessidade da normatividade, que consiste naquilo que é aceitável e admissível socialmente, e dos códigos morais. Questionado sobre as perspectivas para o País, ele disse que para se construir um futuro minimamente respeitável, são necessárias três medidas: defesa da democracia; equidade (redução das desigualdades e disparidades socioeconômicas); e preservação do patrimônio cultural e ambiental. “Esses são os grandes valores éticos, que devem ser entendidos e praticados para o Brasil chegar a um futuro correto e político.”  

O fenômeno da gentrificação pautou o debate entre o engenheiro Claudio Bernardes e o jornalista Raul Juste Lores. Autor do livro Cidades, Urbanismo & Mercado – Vol. 2, lançado na Convenção Secovi, Bernardes disse que “a gentrificação é um dos problemas a ser solucionado”. Raul Juste Lores, autor do livro e podcast São Paulo nas alturas, lembrou que a gentrificação é um termo “pervertido” no Brasil e indevidamente apropriado pelos Nimbys (Not In My Back Yard) – expressão que significa “não no meu quintal” – , para justificarem seus interesses. Ele destacou a importância de as pessoas ocuparem as ruas, porque são elas que mantêm as cidades vivas e seguras.

Saúde mental e diversidade – A psicóloga Virginia Planet, fundadora da House of Feelings, fez um convite à uma pausa para olharmos as nossas emoções e sentimentos. “Quando paramos e olhamos para nós mesmos, podemos ter a consciência de como estamos e para onde vamos”, observou Virginia, citando dados que mostram o aumento da depressão, ansiedade, burnout e outras doenças mentais intensificadas na pandemia. “Precisamos parar antes de irmos parar no hospital”, alertou.

Ela destacou a importância da autoconsciência, autorresponsabilidade e autodesenvolvimento, dando várias dicas para preservação da saúde mental e da qualidade de vida. “Autoempatia, autocuidado, respiração profunda, não se cobre tanto, estabeleça uma rotina, organize o dia, não procrastine e aproveite os momentos de prazer”, citou Virginia, para quem os sentimentos são bússola, que mostram se estamos no caminho certo. “Se você não estiver conseguindo lidar com tudo isso, peça ajuda. Isso se chama coragem”, finalizou.  

As novas competências como autoconhecimento, autocuidado, pensamento crítico sistêmico, gestão do caos, entre outras, foram destacadas pela empreendedora Elisa Tawil, que falou sobre a importância da diversidade como agente de felicidade e produtividade.

Fazendo acontecer – A arquiteta social Ester Carro encerrou o evento com chave de ouro, contando sua história e o trabalho inspirador que realiza na comunidade em que mora na zona Sul da capital paulista. Em 2017, Ester criou o projeto Fazendinhando, que tem promovido uma transformação no Jardim Colombo, em Paraisópolis.

“Eu escolhi fazer arquitetura, porque eu queria impactar a minha comunidade, e muita gente desacreditou”, contou Ester, emocionada.  “Na faculdade, são discutidos muitos projetos urbanísticos, mas não são mencionados os territórios vulneráveis.”

Ester contou que o Fazendinhando começou de fato com a  limpeza daa área conhecida como Fazendinha. “Até agora, já retiramos 40 caminhões de entulho” revelou. Depois, foi feita a contenção do terreno com pneus recolhidos na região. 

Ao destacar a importância da transformação cultural, além da física, Ester disse que foi realizado um festival de arte e cultura para conscientizar e engajar os moradores. “A Fazendinha não faz mais medo. Ela faz alegria”, afirmou a arquiteta, salientando que foi a partir da transformação do lixão que conseguiram envolver  toda a comunidade, que passou a participar de todas as outras ações.

“Conseguimos despertar o senso de pertencimento dos moradores. E, assim, estamos conseguindo construir uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.”