Thiago Ribeiro*

O mercado imobiliário absorveu no ano passado as mudanças impostas pela pandemia de Covid-19 e, estimulado por fatores como manutenção da construção como atividade essencial, ressignificação da casa para as famílias e por programas emergenciais, deu início a uma trajetória de recuperação e crescimento que se estende ainda no segundo semestre de 2021.

Essa introdução é indispensável para demonstrar o poder de reação frente às adversidades do setor da construção imobiliária, marcado pela resiliência e pela grande disposição dos empreendedores em atuar para a consolidação do desenvolvimento econômico e social brasileiro.

A começar pelo reconhecido potencial de gerar empregos, renda e arrecadação, para dizer o mínimo. Em julho deste ano, por exemplo, o setor da construção totalizava 2,56 milhões de trabalhadores formais, número que superava o registrado no período pré-pandemia, de acordo com dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apurados pelo Ministério do Trabalho.

Sem contar o efeito multiplicador na geração de postos de trabalho indiretos e induzidos, e também com reflexos na arrecadação de impostos, já que a indústria da construção imobiliária movimenta e demanda extensa cadeia produtiva de diversos setores, inclusive depois da entrega das chaves.

Voltando ao mercado, com raríssimas exceções, o bom desempenho tem sido observado na capital e no interior paulista, e nas principais capitais brasileiras.

Para se ter uma ideia, de acordo com a Pesquisa Secovi do Mercado Imobiliário, na comparação entre os acumulados de janeiro a agosto de 2020 com igual período do ano passado, houve alta de 106,5% nos lançamentos e de 51,9% nas vendas de imóveis residenciais novos na cidade de São Paulo.

Importante observar que, nos mesmos oito meses, o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC), da Fundação Getúlio Vargas, que acompanha os custos de materiais e mão de obra, acumula alta de 11,2%, pressionado pelos aumentos nos preços dos insumos. E os reflexos no preço do imóvel já vêm sendo observados.

De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R) de agosto apresentou ligeiro recuo em relação ao mês anterior. Mas, no acumulado de 12 meses (variação de 12,48%) até agosto, o indicador manteve a tendência de aceleração.

Apesar da pressão provocada pela alta dos insumos e da elevação da taxa Selic, os juros do financiamento imobiliário se mantêm em patamares baixos e acessíveis, oferecendo condições para aquisição da casa própria a boa parcela da população.

É o que mostram dados surpreendentes divulgados também pela Abecip referentes ao acumulado do ano: foram financiados com recursos das cadernetas de poupança R$ 136,8 bilhões, o equivalente a 589,4 mil unidades. Mais um recorde da série histórica, em linha com o que aponta a Pesquisa Secovi.

Considero este cenário bastante positivo, ainda que tenhamos muitos desafios pela frente, como a reforma administrativa, a do Imposto de Renda e a inflação, cuja manutenção da trajetória de alta pode comprometer o desempenho do setor produtivo como um todo. E particularmente o imobiliário, que tem um ciclo de produção de longo prazo e precisa atuar com o mínimo de previsibilidade.

Mas, como otimista que sou, prefiro acreditar que teremos um ambiente macroeconômico propício aos negócios e atrativo aos investimentos. Tem de ser assim, pelo bem do Brasil.

 

* Diretor Regional do Secovi-SP em São José do Rio Preto