Quando assumiu em 2005 o primeiro mandato à frente do Edifício NewSpace, em Moema, o bancário Mário Luiz Ferreira tinha em mente umobjetivo bem claro: ?Fazer história e ser o melhor síndico que ocondomínio já teve.? Não se intimidou com as contas no vermelho nem tãopouco com a falta de perspectivas de a situação melhorar.
Colocou emprática uma série de iniciativas, que resultaram não só na eliminação dodéficit como também em significativa reestruturação no condomínio. ?Semrateios extras e sem elevar a taxa condominial, o que é maisimportante?, frisa.
Eleito em março deste ano comapenas um voto contrário para a segunda gestão, orgulha-se do trabalhoque vem executando no edifício e que refletiu na valorização dasunidades em até 50%. O segredo do sucesso, de acordo com Ferreira, é acapacidade de negociar preços e prazos favoráveis ao condomínio.
Confira na entrevista a seguir os detalhes dessatrajetória bem-sucedida.
Por que decidiu sersíndico?
Assumi a função pela primeira vez, em março de2005, com um objetivo bem claro em mente: fazer história e ser um dosmelhores síndicos que o condomínio já teve. Achei que poderia contribuirde alguma forma para tirar o condomínio da situação em que estava. Ascontas estavam no vermelho e as projeções não eram animadoras.
E atingiu seu objetivo?
Conseguieliminar o déficit e colocar as contas em um crescente positivo. Estouna segunda gestão, para a qual fui reeleito em março de 2007 com apenasum voto contrário. Nesses 27 meses, o valor da cota condominial nãoaumentou e não houve rateios extras. Porém, nunca foram realizadastantas melhorias, inovações e manutenções no condomínio quanto nesseperíodo.
Elaborei uma planilha onde estão os lançamentos de todo osmeses até o final de minha gestão. Qualquer compra que faça é registradae o saldo mensal atualizado automaticamente, considerando a arrecadaçãoatual. Portanto, os gastos do condomínio estão sempre sob controle e?projetados?, o que me permite maior mobilidade para decidir sobre adestinação dos recursos. E pretendo, até o final desta gestão, promoverserviços e benfeitorias sem elevar o valor da taxa condominial emantendo saldo positivo em caixa.
Qual a estratégiapara não aumentar a taxa de condomínio?
Não precisofazer nada. Estou usando o dinheiro que o condomínio tem. Ao assumir,elaborei um plano daquilo que julgava necessário fazer no prédio ? cercade 19 itens ? e submeti a aprovação na primeira assembléia. Minhaproposta era a de executar as melhorias conforme houvesse dinheiro emcaixa. E assim aconteceu. Enfrentei alguns problemas, o que é um poucodesgastante.
Sempre busco o interesse da maioria,economizo, negocio e renegocio contratos e preços, realizo asmanutenções necessárias. Sugeri muitas inovações e, acima de tudo, meexpus ao ousar executá-las. Isso exige um mínimo de coragem e um poucode ?sonho?.
Como colocou as contas em dia?
Adotando medidas simples, mas que resultaram emsignificativa economia para o condomínio. Dentre aquelas que consideromais importantes estão: a eliminação das horas extras dos funcionários,com a alteração da escala de trabalho e a criação do folguista,permitindo redução de cerca de 20% na folha de pagamento; a renegociaçãodo contrato de manutenção dos elevadores (56%); diminuição no consumo deenergia elétrica com a instalação de sensores de presença nos subsolosde garagens e de lâmpadas eletrônicas em todo o condomínio; mudança nadata de vencimento da conta da Sabesp; e transferência do pagamento doIPTU das garagens para os proprietários.
Além disso, as compras delâmpadas e sensores de presença têm sido feitas somente na Rua SantaIfigênia, a preços até 50% mais baixos e garantia de um ano.
Equilibrado o caixa, o que efetivamente realizou noprédio?
As principais ações incluem a modernização dohall de todos os andares, com pintura especial, escadaria projetada porartista plástica, piso laminado, sensor de presença e lumináriasembutidos, lâmpada eletrônica e novos espelhos de interruptores.Destaque ainda para a instalação do salão de jogos e da sala deginástica – dotados de equipamentos de primeira linha -, da fonteluminosa no hall de entrada do prédio e das eclusas para veículos epedestres. Também foram realizados serviços de recuperação do jardim edo piso do térreo, e diversos outros de manutenção.
E como fica ainadimplência?
No início de minha gestão, de um total de 80apartamentos, 14 estavam inadimplentes. Procurei todos eles e fiz acordopara saldar dívidas. Somente dois não aceitaram negociar e um paga comatraso de um mês.
Como concilia suas atividadesprofissionais com o dia-a-dia do condomínio?
Dedico nomínimo uma hora do meu dia ao condomínio, para manter sob controlecontratos, manutenções mensais e a administração do pessoal junto àadministradora. Também checo diariamente, via Internet, no site daadministradora, a posição dos inadimplentes e dos lançamentos efetuados,de forma que, no fechamento mensal, nossas posições estejam dentro daconformidade.
Que tipo de dificuldades enfrenta?
Não enfrento problemas, porque tenho um ótimo zelador, oJosival, que me auxilia muito. É o meu ?olho? no condomínio quando estouausente, filtra bastante o que acontece. Ele e minha esposa, Viviane,são os principais responsáveis por eu exercer a função de síndico. Osdois contribuíram muito para todas as realizações ao longo da minhagestão.
Mas todos os funcionários são muitoimportantes. Considero minha gestão tranqüila e em evolução graças àequipe que tenho, de total confiança. Sou muito grato a cada um deles.
Como é o seu relacionamento com os condôminos?
Sou muito reservado. Atendo às necessidades, conformesurgem. Na medida do possível, procuro resolver tudo de imediato. Estoucrescendo muito no sentido de perceber que as pessoas são completamentediferentes, têm desejos diferentes. Às vezes, ao fazer sugestõespensando em ajudar, a gente pode estar atrapalhando.
E com a administradora?
Não tenho do quereclamar. Os funcionários são muito prestativos, esclarecem prontamenteas dúvidas e também oferecem toda a orientação necessária em caso dedificuldades.
O que considera positivo em suaadministração?
A minha capacidade de negociar é um dospontos positivos na atividade como síndico. Se utilizasse esse mesmotalento na vida profissional seria um homem rico. Pesquiso bastante,peço orçamento com razoável antecedência e, com isso, ganho tempo paranegociar, com os fornecedores ou prestadores de serviços, prazos epreços mais favoráveis ao condomínio. Tenho tino de empreendedor, algomuito importante para a saúde financeira do condomínio.
Sinto-megratificado porque, com isso, foi possível acertar as contas e promoverdiversas benfeitorias, que resultaram na valorização dos apartamentos ?algo em torno de 50%. E, ainda, ter saldo em caixa para viabilizaroutras melhorias que ainda estão por fazer.
Aexperiência está valendo a pena?
Trabalhei 20 anos àfrente de uma máquina, na área de informática. Então, exercer a funçãode síndico me proporcionou um crescimento pessoal muito enriquecedor.Lidar com pessoas é algo delicado, mas ajudou até na minha vidaparticular. Minha esposa diz que ser síndico foi o melhor que poderiater me acontecido.
Apenas fico pensando naquilo quegostaria de fazer, mas que, infelizmente não posso, porque não expressao desejo da maioria. De qualquer forma, continuaremos realizando eevoluindo.
Quais as características necessárias a umbom síndico?
Além de dedicação, persistência econvicção do bem comum, o síndico precisa ter paciência e saber ?dançarconforme a música?. Às vezes, passa uma imagem de autoritário e, emoutras, demonstra ter ?sangue de barata?. O importante é sempre buscar ointeresse da maioria e o melhor para o condomínio. Ser discreto,imparcial e, na medida do possível, o promotor do bem viver e da boaconvivência.
A reportagem foi publicada na RevistaSecovi Condomínios, edição 180 (julho 2007).