O Estado de São Paulo – onde está o maior contingente da população consumidora do país – possui apenas 1,3% do total da água doce existente no território brasileiro. A Sabesp faz o que pode para reduzir a perda. O que a estatal pode fazer é muito em termos de economia, mas ainda é pouco diante da magnitude do problema.

Segundo dados da Unesco, o consumo de água no planeta aumenta cerca de sete vezes a cada cinco anos. Dos atuais sete bilhões de habitantes da terra, mais de um bilhão vive sem acesso à água potável. Um quilo de arroz demanda mil litros de água para ser produzido. Um quilo de carne, 13 mil litros. Não está na hora de reverter a situação e preservar esse recurso finito em tempos conturbados?

Nos condomínios, o pagamento da conta de água e esgoto responde pela segunda maior despesa ordinária, superada apenas por mão de obra e encargos. Representa quase 15% da cota mensal. Mesmo assim, há perdas em praticamente todos os conjuntos residenciais e comerciais. Quando não ocorre nas áreas comuns, pode ser verificado nas unidades autônomas.

Hidrômetros de medição individual do consumo vieram para ajudar a combater o problema. Esses equipamentos já deveriam estar instalados de há muito, mas estão apenas chegando aos condomínios. Em alguns prédios, já estão gerando resistência. Alguns moradores estão temerosos. Se podem entrar no rateio da despesa, por que vão pagar pelo que consomem? Esse condômino é individualista no consumo, mas pretende pagar de forma comunitária.

Se continuar o consumo desmedido, água e esgoto logo serão a primeira das despesas ordinárias. Nas áreas comuns, o síndico, os funcionários e os moradores devem ficar atentos ao esguicho na mão de funcionários distraídos.

Não é fácil abrir mão de um conforto tão arraigado em nosso dia a dia. Não acontece somente com a água. Estamos no momento sentindo como é difícil abrir mão das sacolas plásticas distribuídas nos supermercados. A restrição ao uso simplesmente não pegou e ninguém ainda se deu conta.

Nunca é demais lembrar a importância de escovar os dentes e lavar a louça com a torneira sob controle. Na hora de lavar a calçada, vamos usar a vassoura e aposentar o esguicho. Que tal um banho mais rápido? Parece pouco mas não é porque cada gota fará a diferença.

O Dia Mundial da Água comemorado em 22 de março está chegando. Quem se importa? O homem civilizado considera a água um bem hereditário, o que na verdade ela é. Mas esse bem hereditário não vai resistir ao consumo abusivo por um tempo ilimitado. Assim como não conseguimos sequer renunciar às sacolinhas de plástico nos supermercados, muito menos conseguimos renunciar ao conforto e à magia da água. Ela é a nossa mãe terra. É um item de lazer visceralmente ligado à vida no planeta, com ou sem civilização. Somos atualmente sete bilhões de vidas humanas no globo e a água tem de sustentar um nível de consumo nunca antes visto na história.

Vamos repetir: o Dia Mundial da Água está chegando. O poder público deveria se mobilizar para a grande data, colocando em sua propaganda um vigoroso alerta tipo luz vermelha. Os condomínios podem também empreender suas campanhas internas de economia. Ainda há tempo para colocar lembretes nas áreas comuns numa campanha que vale para o restante do ano. Atenção síndicos, subsíndicos, conselhos consultivos e condôminos de todas as idades: não adianta apenas vigiar a torneira de forma temporária. A data é importante, mas a mobilização não deve ser apenas sazonal.

Para o restante do ano, a sugestão é que os síndicos organizem uma agenda de reuniões temáticas visando analisar os grandes problemas da vida condominial. Reuniões temáticas servem para destacar temas cruciais como segurança, sustentabilidade e inadimplência. Mas é claro: economia de água tem de ser tema da primeira dessas reuniões. Podemos sobreviver ao fim do petróleo, mas não ao da água.

Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) e diretor do Grupo Hubert.